Bancos

Open source: o principal ingrediente para o Open Banking

13 mar 2019, 7:23 - atualizado em 12 mar 2019, 23:45

 Por Thiago Araki, gerente de Arquitetura de Soluções da Red Hat Brasil

As tecnologias exponenciais de código aberto desencadearam incríveis aumentos na capacidade de inovação e altas reduções de custos de computação, armazenamento e transmissão de informações. E como qualquer indústria fundamentada no processamento massivo de dados, o setor financeiro foi impactado por essas mudanças, especialmente com o surgimento das fintechs e com o avanço das gigantes do Vale do Silício neste setor.

Apesar desse movimento, até bem pouco tempo a digitalização limitava-se a afetar o modo como as pessoas consomem os produtos e serviços dos seus bancos. A experiência hoje é muito melhor para os usuários, mas em termos de produto bancário, continuamos com os mesmos de sempre.

Ainda assim, começamos a notar um segundo estágio de disrupção. Um sinal claro é o surgimento de empresas inovadoras que estão aproveitando o fácil acesso às tecnologias abertas para modificar produtos financeiros que não evoluem há muito tempo. E esse é o caminho para que essas instituições não sofram um processo de comoditização e se tornem simples tubulação para transações entre pessoas ou instituições. Os bancos precisam passar a ser um “concierge financeiro digital”, que agrega valor em qualquer lugar. É aqui que entra o Open Banking, um modelo aberto e colaborativo no qual os dados bancários de clientes são compartilhados de forma segura entre instituições financeiras para fornecer funcionalidades aprimoradas.

Um exemplo básico de Open Banking são as novas plataformas de comparação de produtos financeiros. Elas permitem pesquisar e adquirir serviços que refletem com mais precisão as circunstâncias monetárias do cliente e sua capacidade de reembolsar dinheiro emprestado. Isso torna o processo de seleção de um produto mais rápido, conveniente e satisfatório para os dois lados. Outro exemplo é a possibilidade de executar transferências, doações, compras etc., diretamente em aplicativos de chat, tomando como base o contexto das conversas e operando por meio de linguagem natural ao invés de menus e comandos de um aplicativo de banco.

O Open Banking é basicamente constituído de um conjunto de APIs (Application Programming Interfaces) que são plugues, ou canais inteligentes, que permitem o fluxo de dados entre aplicativos de maneira controlada. Imagine que você está procurando um quarto de hotel em um site de reservas. Usando o formulário da página, você seleciona a cidade, as datas de check-in e check-out, o número de hóspedes, de quartos e, então, clica em “pesquisar”. Neste momento, o site interage com as APIs de cada cadeia de hotéis, que fornecem resultados para os quartos disponíveis, de acordo com os seus critérios. Isso tudo pode acontecer em segundos por causa das APIs, que agem como um mensageiro entre aplicativos, bancos de dados e dispositivos.

Devido aos recentes avanços tecnológicos nas plataformas de Integração, Big Data e Analytics, especialmente em decorrência do movimento open source, as APIs estão recebendo mais atenção, sendo vistas como uma forma de melhorar e tornar mais segura a prestação de serviços financeiros, tanto para consumidores de varejo quanto para clientes corporativos. Dentre as principais APIs abertas e disponíveis no modelo Open Banking, estão as de Conta Corrente Pessoal, Caixa Eletrônico e Empréstimos.

Os benefícios do Open Banking são substanciais: experiência aprimorada do cliente, novos fluxos de receita e um modelo de serviço sustentável para mercados altamente competitivos. Quanto mais rápido uma organização puder adquirir dados, melhores serão as experiências oferecidas, mais clientes serão atraídos e, mais rapidamente, essa instituição irá adquirir novos dados.

Com tanta inovação, é natural que as tradicionais instituições tenham algumas dificuldades para dar os primeiros passos com o Open Banking. Foi pensando nisso que nasceu o Open Bank Project, projeto de código aberto, com participação de bancos como Santander, ABN Amro, BNP Paribas e o Citizens Bank, e de empresas de tecnologia como a Red Hat e a Tesobe. O objetivo é oferecer um amplo catálogo de APIs pré-empacotadas e tecnologias projetadas para ambientes altamente regulados e de missão crítica dos bancos. O Open Bank Project pode se conectar e orquestrar sistemas bancários distintos e fornecer interoperabilidade entre várias fontes de dados.

Com ou sem o Open Bank Project, uma implementação exitosa de Open Banking requer a exploração de novos paradigmas e processos de integração. Dentre as abordagens mais usadas, o Gartner recomenda o Agile Integration, que incorpora tecnologias para gestão de APIs, frameworks de integração distribuída e computação em nuvem, usadas em conjunto com metodologias de desenvolvimento ágil e práticas DevOps. Isso porque o modelo de integração amplamente usado na maioria dos bancos ainda é centralizado e engessado, fundamentado em processos que não foram imaginados para o atual ambiente dinâmico dos negócios.

Mas o Open Banking já é uma realidade. Em agosto de 2016, o governo do Reino Unido emitiu uma decisão exigindo que os nove maiores bancos da região permitam que startups licenciadas acessem diretamente seus dados até o nível das transações de conta corrente. O que já ocorreu na Europa, agora está sendo adotado em todo o mundo. Definitivamente é um avanço sem volta.

Quem não entrar no Open Banking agora terá muita dificuldade para acompanhar esse novo mercado. O sistema tem potencial para acelerar a transição do setor de serviços financeiros para o paradigma de plataforma. Com a anuência dos clientes, os bancos poderão expor seus dados financeiros por meio das APIs, para que qualquer instituição possa combiná-los com informações de outras fontes e criar novos serviços. A capacidade de incorporar facilmente pagamentos a qualquer experiência digital, ou de melhorar uma oferta bancária baseada em dados dispersos em diferentes instituições financeiras, tem o potencial de mudar drasticamente o relacionamento das pessoas com seu dinheiro.

Fundador do Money Times | Editor
Fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.
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