Open Finance na prática: entenda como a novidade pode impactar suas finanças
Por André Pinheiro*
Nos últimos tempos, muito tem se falado sobre o Open Finance e o Open Banking e os benefícios que vem quando as instituições financeiras “conhecem mais seus clientes”. Com tantas novidades e promessas, pouco se viu na prática até o momento.
Finalmente começam a ser disponibilizados novos serviços e aplicativos que possibilitam tangibilizar os efeitos no dia a dia, mas, especialmente para o consumidor final ou usuário do sistema financeiro (as pessoas comuns), esse conceito ainda pode parecer abstrato.
O que significa então, na prática, o empoderamento dos clientes bancários por meio do Open Finance?
O Open Banking, que depois evoluiu para o Open Finance, é uma iniciativa do Banco Central na qual os clientes voluntariamente disponibilizariam seus históricos financeiros para as suas instituições de interesse (bancos, fintecs e outros prestadores de serviços financeiros).
Desta maneira, o Banco Central busca tornar o mercado mais competitivo, equalizando a disponibilidade de informações financeiras entre as instituições e empoderando o cliente, que passa a ser “dono” de suas informações, o que resultaria em uma redução de custos para aquisição de serviços como, por exemplo, empréstimos bancários.
Isso aconteceria porque, com as informações históricas do CPF disponíveis, bancos, fintechs, seguradoras e outras instituições poderiam melhor avaliar o risco de crédito do cliente, com menores custos operacionais, de forma mais assertiva e, com isso, reduzir o preço cobrado por seus serviços (juros e tarifas).
A implantação do Open Banking iniciou-se 2020 com a adaptação dos bancos e instituições financeiras às estruturas de dados padronizadas do Banco Central. Desde então, diversas atividades foram executadas pelas empresas dentro deste processo, que tem sido acompanhado de perto pela mídia em geral.
Somente com o início da implantação da fase 03 em 2022 é que algumas funcionalidades e produtos se tornaram disponíveis para a população, porém ainda de forma bastante embrionária em alguns casos dependendo da instituição financeira.
Além da oferta de produtos financeiros personalizados, que já são feitas pelos bancos e demais instituições, outros dois produtos já começam a aparecer para o público: os agregadores financeiros e os iniciadores de transações.
Open Finance e agregadores de finanças
Os agregadores financeiros são desenvolvidos por uma determinada instituição financeira com a qual a pessoa tenha relacionamento ou uma empresa prestadora de serviço independente à qual tenha sido aderida. É um tipo de aplicação que permite o acesso a todos seus dados financeiros de forma unificada, facilitando a gestão de gastos pessoais e/ou de investimentos.
A solução é especialmente inovadora no sentido que poderá contribuir na educação financeira das pessoas e melhorar no médio/longo prazo de sua gestão de recursos com impactos significativos na qualidade de vida.
Todos os grandes bancos já divulgam esta funcionalidade em seus sites, porém em alguns casos ainda não estão efetivamente operacionais e em outros ainda apenas de forma inicial.
Outras instituições, como o Nubank, encontram-se em fase de desenvolvimento, e algumas como o BTG (com seu finanças+), o Itaú (Íon) e o PicPay (com o Guiabolso) já operam com estas opções de visualização.
Iniciadores de transações
Os iniciadores de transações são funcionalidades que possibilitarão que uma pessoa, por meio de redes sociais ou aplicativos de pagamento, possa realizar transações a partir de sua conta ou cartão em uma instituição financeira de sua escolha de forma mais segura e simplificada.
A grande vantagem desta modalidade está em simplificar a realização dessa operação, trazendo maior dinamismo ao mercado e melhor experiência dos usuários na jornada de pagamento.
Este tipo de operação já ocorre na maior parte dos aplicativos de pagamento, mas atualmente é necessário fornecer dados como o número de cartão de crédito e CVV, o que não será mais necessário com o Open Finance. Bastará conectar as duas instituições através do ecossistema construído pelo Banco Central.
Obstáculos para implantação do Open Finance
Para estas funcionalidades se tornarem efetivas, existem algumas etapas a serem percorridas conforme o cronograma de implantação do Open Banking pelo Banco Central.
A inclusão das instituições, por exemplo, ocorre por etapas a depender do tamanho e da forma de sua atuação. A implantação começou com a inclusão dos grandes bancos, mas, por outro lado, algumas corretoras (como a XP) ainda não foram incluídas.
Além disso, a participação não é obrigatória para fintechs e empresas menores, apesar de incentivada. E nem todas, mesmo aderindo voluntariamente, estão no mesmo ritmo de implantação em seus sistemas e aplicativos.
Outro obstáculo relevante para a implantação pode ser o interesse das pessoas em se inscrever. Hoje no Brasil, mais de 63 milhões de pessoas têm “nome sujo” nos bureaus de crédito por conta de dívidas não pagas. Seria um quarto da população total do país ou cerca de 40% da população adulta, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) (informação de 22/ago/2022).
Essas pessoas podem, em um primeiro momento, acreditar que não seja uma boa ideia fornecer informações sobre seu estado financeiro às instituições. Porém, muitas vezes o fato de alguém ter deixado de pagar uma conta no passado não implica incapacidade de honrar dívidas no presente, já que muitas vezes os processos de regularização demoram bastante tempo, além de questões pontuais que possam ter ocorrido.
Ou seja, talvez a estratégia mais adequada para estas pessoas seja justamente o contrário: compartilhar suas informações para ter sua avaliação de capacidade de crédito mais assertiva.
A jornada da implantação do Open Finance está somente começando e as possiblidades são infinitas. Uma vez que as ferramentas estiverem disponíveis e, com utilização difundida, o ambiente estará aberto e propício para inovação e aparição de uma gama de novos produtos ainda difíceis de prever.
Neste contexto, cabe ao consumidor final e às empresas se manterem atualizadas para fazer melhor uso das ferramentas que surgirão.
*André Pinheiro é co-líder das práticas de finanças da Peers, possui 19 anos de experiência em consultorias de processos e gestão. Formou-se em engenharia mecânica pela USP, e possui mestrado em administração pelo Insper, com ênfase em gestão de mudança e estratégia. Atuou como consultor em projetos de melhoria de eficiência operacional principalmente em planejamento financeiro, supply chain e revisão organizacional para diversos setores, dentre os quais os de meios de pagamento, bancário, telecom, mídia e varejo.
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