ONS vê piora de cenário com crise hídrica; especialista alerta para risco de apagões pontuais
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) acendeu um novo alerta sobre os desafios do setor elétrico brasileiro neste ano frente ao cenário de grave crise hídrica nos reservatórios de hidrelétricas, sinalizando que a capacidade de geração de energia no país poderá ser levada ao seu limite em novembro.
Apesar de não ver ainda riscos de desabastecimento, o operador indica que as “sobras” de potência – necessárias para atender eventuais picos de demanda ou garantir a estabilidade do sistema mesmo em casos de falhas eventuais na oferta – poderão se esgotar no penúltimo mês do ano.
Novembro é justamente quando, em tese, tem início o chamado período molhado, que vai até março/abril, e é quando historicamente há maior volume de chuvas nas regiões das hidrelétricas com grandes reservatórios.
No último período molhado, o Brasil registrou a pior estação chuvosa para as hidrelétricas em mais de 90 anos.
O sinal vermelho foi ligado após o órgão elevar a previsão de carga e considerar uma menor e mais “realista” disponibilidade térmica para atender a demanda de energia, conforme nota técnica publicada na noite de quinta-feira.
O cenário, segundo o órgão, “resulta em uma degradação dos níveis de armazenamento ao final do período seco quando comparado com os resultados do estudo prospectivo anterior, em especial dos subsistemas Sul e Nordeste“.
“Com relação ao atendimento aos requisitos de potência, observam-se sobras bastante reduzidas no mês de outubro, com o esgotamento de praticamente todos os recursos no mês de novembro”, afirmou o ONS, em sua nota técnica.
O aumento da previsão de carga se deu, segundo o órgão, após um crescimento das atividades do comércio e serviços, além da manutenção do ritmo elevado da produção industrial, principalmente daquelas voltadas para exportação.
A atualização do estudo incorpora as flexibilizações de restrições hidráulicas já autorizadas e considera o aumento do PIB para 4,5% ao ano, em vez dos 3% ao ano que até então era usado como parâmetro.
“Dessa forma, essa nota técnica traz premissas mais realistas e alinhadas com o momento econômico atual e às condições conjunturais do SIN (Sistema Interligado Nacional)”, disse o órgão.
Em contrapartida, o ONS frisou em comunicado que, nos dois cenários considerados na nota técnica, “não há risco de desabastecimento elétrico, mesmo diante das piores sequências hidrológicas de todo o histórico de vazões dos últimos 91 anos”. A fonte hídrica é a principal geradora de energia do país.
Risco De Blecaute
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maurício Tolmasquim, afirmou que o cenário de oferta apertada apresentado pelo ONS traz um alerta para eventuais riscos de apagões de energia pontuais em momentos de picos de demanda ou caso haja qualquer problema na oferta.
“A situação mais complicada, que demanda mais atenção, continua sendo a questão do atendimento no horário de ponta… Como estará apertado em termos de sobras, qualquer aumento inesperado da demanda ou falha na oferta… pode trazer um problema”, afirmou.
“Na hora da ponta coloca tudo. Se tudo operando não for suficiente, tem uma falta (de energia)”, acrescentou.
Tolmasquim, que também foi presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), explicou que como o sistema elétrico brasileiro é interligado, blecautes pontuais podem ser restritos ou alcançar grandes regiões.
O especialista, ponderou, no entanto, que tudo dependerá ainda se a economia crescerá dentro do previsto atualmente ou de situações de demanda, como temperaturas no mês de novembro, que podem gerar mais ou menos consumo de ar condicionado, por exemplo.
O ONS também destacou em comunicado que “embora o estudo indique que até o fim de 2021 a situação permanecerá sensível, o Operador está acompanhando os desdobramentos das ações já em curso e atuando dentro de suas atribuições para aumentar a oferta das fontes de energia e garantir que não haja a suspensão do suprimento elétrico”.
Em meados deste mês, o operador pediu aos geradores de energia que adiassem a manutenção e o trabalho técnico o máximo possível para ajudar a evitar o agravamento da crise de energia, além de reiterar que não havia risco de racionamento de energia.