Onde lucrar em dezembro? 27 analistas selecionam as melhores ações para encerrar 2023 no azul; lista traz surpresas
Se em outubro o desempenho do Ibovespa fez estragos na carteira de muitos investidores, novembro trouxe bons motivos para continuar acreditando na renda variável. O índice valorizou nada menos que 12,5%, o melhor desempenho desde novembro, auge da pandemia. Se desconsiderarmos esse ano atípico, a alta só perde para março de 2016, quando avançou 17%. Em dólar, a bolsa foi ainda melhor: 15,3%.
E o motivo, novamente, foi o cenário lá fora. Dados de emprego e inflação nos EUA reforçaram a visão de que o dragão inflacionário, talvez, esteja devidamente acorrentado. E não só: os mercados veem um possível corte dos juros. Com isso, o retorno dos títulos públicos americanos recuaram de 5% em meados de outubro para abaixo dos 4,5% em novembro.
“Ou seja, a ideia de que se chegou ao fim do ciclo de aperto monetário nos EUA levou investidores a buscarem ativos de risco. A performance do Ibovespa em novembro está muito alinhada ao movimento das bolsas globais”, discorre a Ágora Investimentos.
A corretora lembra que até o dia 24, houve entrada de R$ 16,371 bilhões vindos do exterior na B3 — o maior influxo de recursos para um mês desde novembro de 2020 (durante o rali da Covid-19).
“Do ponto de vista de economia, analisando o comportamento da inflação norte-americana, notadamente o CPI (inflação ao consumidor) de outubro, observamos um comportamento mais benigno, com o índice desacelerando na leitura anual de 3,7% em setembro para 3,2% em outubro”, discorre.
Mesmo assim, a Ágora não está tão confiante de que a economia americana vai escapar de uma recessão. “Não estamos convictos
com a ideia de “pouso suave” – o que pode naturalmente trazer ainda bastante volatilidade aos mercados”, completa.
E a aqui no Brasil?
No Brasil, a discussão gira em torno do fiscal. A meta ainda não mudou — o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, convenceu Lula a adiar a decisão — mas neste momento não é mais uma questão de se a meta será alterada, mas de quando, destaca o BTG.
“Para piorar a situação, representantes do governo e alguns congressistas que apoiavam o governo apresentaram uma interpretação criativa do novo quadro fiscal recentemente aprovado (assinado por Lula em 31 de agosto) que permite ao governo aumentar as despesas acima do que seria permitido sob uma forma mais padronizada de leitura da nova regra”, completa.
De acordo com o banco, os últimos desenvolvimentos fiscais não foram bem recebidos pelos mercados, mas as conversações entre o governo e o Congresso para aprovar medidas de aumento de impostos evoluíram favoravelmente.
“Em 29 de outubro, o Congresso finalmente aprovou a tributação de fundos exclusivos e offshore, com receitas incrementais estimadas pelo governo em R$ 20 bilhões (nossa equipe macroeconômica enxerga receitas extras de R$ 35 bilhões)”, coloca.
Apesar disso, a equipe do banco lembra que a situação fiscal é motivo de preocupação, mas há muita coisa precificada.
“Se o governo conseguir a aprovação da MP no 1.185 antes do final do ano, os mercados ficarão satisfeitos e poderão reagir positivamente. No início do próximo ano, a mudança quase certa na meta fiscal para 2024 e na nova meta (maior/menor) provavelmente trará de volta alguma volatilidade”, completa.
Então é Natal; o que fazer?
Para Ágora, em linhas gerais, o cenário será de certa estabilidade nos juros americanos, e investidores devem seguir aumentando a exposição a risco.
“Vale lembrar que grandes fundos, sejam eles locais ou estrangeiros, seguem em busca de retorno e a manutenção da queda da Selic ajuda a alimentar este fluxo para bolsa. Como contraponto, acreditamos que o cenário fiscal desafiador não abre espaço para uma melhora muito mais significativa dos preços dos ativos. Mais uma vez caímos na importância da boa seletividade em bolsa”, argumenta.
Já o BTG calcula que mesmo depois de um novembro forte, as ações locais são negociadas com bons níveis de valuation — 10,0x P/L (preço sobre o lucro) 12 meses à frente, com exceção da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR3) (apenas 8x incluindo eles), um desvio padrão abaixo da média.
“A dinâmica benigna da inflação de curto prazo, um forte superávit comercial e as expectativas de taxas mais baixas nos EUA aumentaram a confiança do mercado de que a taxa Selic pode terminar 2024 em um dígito. Mas a frágil situação fiscal do Brasil continua sendo uma preocupação”, discorre.
As mais indicadas: Vale campeã
Empresa | Ticker | Recomendação |
---|---|---|
Vale | VALE3 | 19 |
Itaú Unibanco | ITUB4 | 17 |
PRIO | PRIO3 | 13 |
Petrobras | PETR4 | 9 |
Sabesp | SBSP3 | 8 |
Equatorial | EQTL3 | 8 |
Weg | WEGE3 | 8 |
E, de novo, a Vale se sagrou a mais indicada, com 19 recomendações, quase três terços dos analistas consultados.
Para o BB Investimentos, que possui recomendação para a empresa, apesar das incertezas em relação ao ambiente externo, em especial sobre o mercado imobiliário chinês, a Vale segue sendo destaque por sua evolução operacional com controle de custos, além de mostrar uma alocação de capital disciplinada sem deixar de entregar um elevado nível de retorno ao acionista.
“Mais recentemente, a disparada no preço do minério, que ocorreu impulsionado por uma série de promessas de estímulo ao mercado imobiliário por parte de Pequim e fez o mercado antecipar um possível salto na atividade construtiva no próximo ano, favoreceu o desempenho das ações da Vale, mas que ainda segue sendo negociada abaixo dos pares”, completa.
A Ágora calcula que em termos de valuation, as ações são negociadas com múltiplo EV/Ebitda (valor de firma sobre resultado operacional) para 2024 muito descontado em relação aos seus pares globais (em torno de 15%).
“Vemos alguma proteção para o desempenho das ações no curto prazo, enquanto a empresa entra em um período de sazonalidade positiva para os volumes exportados de minério de ferro, justificando a permanência do ativo em carteira neste momento”, completa.
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Itaú, o melhor banco
No caso do Itaú, analistas da EQI destacam que o banco é o melhor
posicionado no mercado, com a melhor qualidade de crédito.
“Não esperamos que seu nível de provisionamento tenha que aumentar na mesma proporção que seus principais concorrentes”, discorrem.
Além disso, a casa vê a ação negociando a preços atraentes 7,8x P/E (preço sobre o lucro) 23P, ainda com desconto em relação a sua média histórica (8,5x), o que amplia a margem de segurança caso o cenário macroeconômico seja mais desafiador que o esperado e o crescimento projetado não aconteça.
PRIO, a melhor petroleira
Para a Prio, a EQI discorre que a empresa é ótima operadora e que está entregando resultados consistentes nos últimos trimestres.
“Esperamos que continue entregando performance operacional positiva e, a medida que a geração de caixa da empresa se expanda, novas oportunidades de aquisição de ativos podem ser um diferencial importante para a ação no médio prazo”, completa.
Surpresas na lista
A Petrobras, que começou o ano com grande incerteza no mercado, ganhou força em relação ao mês passado e passou de sete indicações para nove.
Para o BTG, que incluiu a empresa na carteira, os principais aspectos da tese de investimento da companhia permanecem em vigor. Além disso, deverá gerar mais caixa do que o mercado estima, impulsionado pelo aumento da produção e pela redução dos investimentos. “Isto suportará
pagamentos de dividendos mais elevados por mais tempo”, coloca.
Com base na atual política de remuneração (45% do fluxo de caixa menos capex), o banco prevê dividend yield de ~14% em 2024, ou 19% considerando pagamentos extraordinários.
Já a Sabesp, que teve o seu texto de privatização aprovado na última quarta, disparou na colocação, com oito indicações.
Na visão da Ágora, embora a principal tese que pode levar a uma valorização das ações no médio prazo passa por um eventual processo de privatização, considerando possíveis ganhos de eficiência e melhores números financeiros, os resultados de curto prazo mostram que a administração está fazendo um esforço para reduzir as provisões para despesas operacionais e para devedores duvidosos, que nos últimos anos dispararam, subindo bem acima da provisão regulatória.
Levantamento
O levantamento do Money Times foi realizado com base em informações de carteiras recomendadas divulgadas por 27 instituições. Para dezembro, foram indicadas 84 ações, somando 256 recomendações.
Participaram do levantamento Ágora Investimentos, Ativa Investimentos, BB Investimentos, Benndorf, BTG Pactual, CM Capital, EQI Research, Eleven, Empiricus Research, Genial Investimentos, Guide Investimentos, Inter Research, Itaú BBA, Levante, Mirae Asset, MyCap, Modal Mais, Nova Futura, Órama, Planner, RB Investimentos, Banco Safra, Santander, Terra Investimentos, XP Investimentos, Warren e PagBank.