Quais são os maiores riscos para as moedas emergentes?
Desde metade de abril, as moedas emergentes se enfraqueceram quase 10% em relação ao dólar. O peso argentino, por exemplo, atingiu ontem a marca recorde de 39,9 em relação à moeda norte-americana. Essa queda generalizada, segundo argumenta uma análise da consultoria Capital Economics, pode dar pistas dos países que se encontrarão mais vulneráveis nos próximos dois anos, considerando a situação da política monetária e comercial dos Estados Unidos, e para a economia chinesa. Oliver Jones, economista de mercados, e Liam Peach, economista assistente, acreditam que este grupo de países pode ser dividido em três grandes grupos (Veja gráfico no final do texto).
“O primeiro grupo é formado por moedas de países com déficits de conta corrente em larga escala”, comentam. As moedas são as que mais se enfraqueceram, sensíveis quanto ao aumento do Fed e das crises na Turquia e na Argentina (os dois países com maior déficit de conta corrente – respectivamente, -6,5% e -5,2% do PIB). Além disso, a correlação da Turquia com a moeda chinesa está em 0,18, enquanto que a Argentina paira em 0,05.
África do Sul, Colômbia, Índia e Indonésia – os dois últimos em menor extensão – são os que estão mais correlacionados à lira turca e ao peso argentino. A África do Sul, segunda mais vulnerável, tem correlação de 0,4 com a lira e 0,37 com o peso.
O segundo grupo é formado por moedas de mercados emergentes com melhores condições de conta corrente e aproximação comercial com a China. “Eles se provaram até que resilientes em relação ao aumento do Fed, e estão pouco correlacionados com as mudanças da lira turca e do peso argentino”, destacam Jones e Peach. O won coreano, o baht tailandês e o ringgit da Malásia se encaixam nessa descrição. O won apresenta uma correlação com o yuan de 0,49, além de ter 9,2% do seu PIB composto por exportações à China. Peru e Chile também se encontram dentro dessa categoria.
O terceiro grupo é misto, embora todos tenham se enfraquecido. São moedas emergentes influenciadas por fatores políticos específicos de seus respectivos países, como é o caso do rublo russo, do peso mexicano e do real. Em se tratando da correlação com a lira e o peso argentino, o rublo fica em 0,37 e 0,16, respectivamente. No caso do real, a correlação com a lira é de 0,22, e com o peso 0,2.
Projeções
Espera-se que o Fed continue aumentando, colocando pressão principalmente nos países do primeiro grupo, sugere a Capital Economics. “Embora achemos que uma diminuição aguda na economia norte-americana fará com que o Fed pare de aumentar na metade de 2019, esse grupo provavelmente iria se enfraquecer de qualquer jetio”, comentam os economistas.
Jones e Peach creem que a economia da China continuará diminuindo nesse ano, e que a guerra comercial entre ela e os Estados Unidos irá se agravar mais uma vez, pesando as moedas do segundo grupo. Porém, os dois estão otimistas: ” Nós acreditamos que eles vão se segurar melhor do que os seus colegas em 2019, ao passo que a economia chinesa se estabiliza”.