Grãos

Onda de compras da China eleva soja para maior preço em 6 anos

19 nov 2020, 7:52 - atualizado em 19 nov 2020, 7:52
Soja
A China acelera as compras enquanto o clima seco potencialmente prejudicial à soja do Brasil e da Argentina levou a uma impressionante alta de 44% dos preços desde março. Não há sinais de que o rali perca força (Imagem: REUTERS/Stringer)

O mercado global de soja nunca viu nada parecido.

Em um período de cerca de cinco meses, a China começou a comprar uma carga de soja após outra a fim de alimentar suínos em meio à retomada depois que a devastadora peste suína africana atingiu os plantéis do país.

A China acelera as compras enquanto o clima seco potencialmente prejudicial à soja do Brasil e da Argentina levou a uma impressionante alta de 44% dos preços desde março. Não há sinais de que o rali perca força.

“Agricultores dos EUA venderam 80% de seus grãos, e os chineses estão comprando tudo”, disse por telefone Charlie Sernatinger, responsável global de futuros de grãos da ED&F Man Capital Markets, em Chicago.

A onda de compras levanta questões sobre como agricultores dos EUA deveriam se planejar para a nova temporada de cultivo.

No longo prazo, isso pode se traduzir em preços mais altos para ração e, por consequência, para a carne, o que aumentaria os temores de inflação e dificultaria a tarefa de bancos centrais, que tentam combater a crise econômica provocada pela pandemia.

A China, o maior comprador mundial, aumentou as importações de produtos agrícolas dos EUA como parte do acordo comercial com o governo Trump.

O país asiático também compra da América do Sul, embora o Brasil, o maior produtor de soja, enfrente o clima seco agravado pelo evento climático La Niña.

“O agricultor brasileiro já vendeu antecipadamente mais da metade da safra do ano que vem, e os chineses já começaram a comprar”, disse Sernatinger.

As importações da China podem chegar a 100 milhões de toneladas no próximo ano e crescer de 3% a 4% ao ano na próxima década, de acordo com o Conselho de Exportação de Soja dos EUA. A valorização da moeda chinesa também aumenta o apelo de suprimentos estrangeiros.

O país asiático também compra da América do Sul, embora o Brasil, o maior produtor de soja, enfrente o clima seco agravado pelo evento climático La Niña (Imagem: REUTERS/Enrique Marcarian)

Já o clima para a safra da América do Sul continua a impulsionar os preços, disse Tobin Gorey, estrategista de commodities do Commonwealth Bank of Australia.

O cenário de meteorologistas não mudou muito por enquanto, com previsão de algumas chuvas, mas a baixa precipitação e evaporação ainda preocupam, disse.

Cerca de 25% das áreas de milho e soja do Brasil podem permanecer secas após a umidade desta semana, de acordo com o Commodity Weather Group.

Importadores chineses tendem a comprar motivados por preocupações com o clima, disse em entrevista Arlan Suderman, economista-chefe de commodities da StoneX em Kansas City, Missouri.

Se as preocupações com a seca acabarem sendo exageradas, e as safras da América do Sul com previsão de colheita no início do próximo ano não forem afetadas por atrasos na produção ou produtividade abaixo do esperado, isso pode resultar em cancelamentos, de acordo com Suderman.

Na Bolsa de Valores de Chicago, os futuros da soja para entrega em janeiro subiram 0,5%, fechando em US$ 11,7575 o bushel, após atingir US$ 11,8975, o maior valor para um contrato mais líquido desde 30 de junho de 2014.

Os futuros de óleo de soja também atingiram a maior cotação em seis anos na quarta-feira, subindo até 3,2%, para 38,52 centavos de dólar por libra-peso, o valor mais caro desde 8 de julho de 2014.

“A porcentagem de óleo de soja usada para biodiesel tem sido extremamente alta desde a pandemia”, disse Sernatinger.

Em parte, isso se deve a menos óleo de milho sendo usado para biodiesel devido à redução da moagem de etanol e ao menor esmagamento de canola no Canadá. Com isso, menos óleo de canola tem entrado nos EUA para ser usado como biocombustível, de acordo com Sernatinger.