Saúde

Ômicron: Teremos novas ondas de Covid-19 e fechamento da economia em 2022?

01 jan 2022, 8:00 - atualizado em 27 dez 2021, 13:23
Coronavírus
Temor por Ômicron assusta o investidor, mas para Renato Kfouri não devemos esperar o pior para 2022 (Imagem: Pixabay)

Descoberta no final de novembro, a variante do novo coronavírus Ômicron já se espalhou por todos os continentes do planeta e fez com que novas medidas restritivas parciais fossem adotadas em países como HolandaAlemanha e Irlanda. No Reino Unido, por exemplo, o governo afirmou que não realizaria nenhum lockdown até as festas de fim de ano acabarem.

A Holanda e Alemanha tiveram o pico da última onda de covid-19 no final de novembro, quando os alemães viram os casos diários chegarem em 58 mil na média móvel para uma semana. Dentre os países citados, atualmente, o Reino Unido é o que vive o maior surto.

Isso faz com que os britânicos estejam enfrentando o maior número de casos desde o início da pandemia, batendo a marca de 91 mil novos registrados. Apesar disso, as mortes seguem em um ritmo menor, com cerca de 112 óbitos diários. Ainda assim, o número está muito abaixo das mais de 1.200 mortes por dia registradas na última onda.

Olhando para o avanço da Covid-19 na Europa, o investidor fica apreensivo e os mercados globais sofrem. Só para se ter uma ideia, após o surgimento da Ômicron, o Ibovespa (IBOV) recuou 4,76% no acumulado. Foram analisados dados entre 25 de novembro e 1 de dezembro.

Mas será que o investidor deve se preocupar com novas ondas de Covid-19 aqui no Brasil?

Para responder a essa questão, o Money Times entrevistou o infectologista Renato Kfouri, Presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Segundo o especialista, ainda “é imprevisível se teremos ou não uma nova onda da doença causada pela variante Ômicron e um novo fechamento da economia”.

Na comparação com o Reino Unido em relação à vacinação, o Brasil está um pouco atrás, com 66,7% da população vacinada, enquanto o percentual de britânicos que recebeu as duas doses é de 70%.

Mas, para Kfouri, a imunização em massa com a segunda dose no país europeu ocorreu no primeiro semestre, enquanto os brasileiros passaram a tomar a segunda dose nos últimos meses, o que tende a trazer uma eficácia maior das vacinas, tendo em vista que há uma queda nos níveis de anticorpos ao longo dos meses após a aplicação da segunda dose.

Renato Kfouri
Para Kfouri, a Ômicron vai enfrentar um Brasil recentemente vacinado e que enfrentou a variante gama no primeiro semestre (Imagem: Divulgação/Renato Kfouri)

“No Brasil temos um cenário de vacinação mais recente, onde grande parte da população foi exposta à circulação de um vírus mais selvagem, como é o caso da variante gama na segunda onda. Outra questão é como o país vai agir nas medidas farmacológicas, com o uso de máscaras e distanciamento social, então todos esses fatores implicam na possibilidade de uma nova onda”, diz.

Kfouri comenta também que, até o momento, todas as vacinas mostram uma boa eficácia contra a variante Ômicron quando o assunto são as hospitalizações e as mortes, especialmente nos que receberam a dose de reforço. Com isso, ele estima que o número de casos pode aumentar, mas o de mortes, não.

“Por outro lado, a magnitude desse aumento e a necessidade de eventuais restrições ainda é um terreno onde ficamos nas especulações, pois não existem evidências que nos aponte com algum grau de certeza o que vai acontecer”, diz. “Só o tempo dirá.”

OMS fala sobre fim da pandemia em 2022

Após confirmar que até mesmo os vacinados podem ser infectados pela Ômicron nesta última semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tentou oferecer ânimo ao dizer que a pandemia pode acabar em 2022.

A OMS tentou oferecer ânimo ao dizer que a pandemia vai acabar em 2022 (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic)

“(Nós) esperamos transformar esta doença em uma doença relativamente leve e facilmente prevenida, facilmente tratada… e queremos ser capazes de lidar facilmente com ela no futuro”, disse Mike Ryan, o principal especialista em emergências da OMS em coletiva de imprensa no dia 20 de dezembro.

Para Kfouri a organização é otimista demais, tendo em vista que muitos países ainda não conseguiram vacinar nem 30% da população, especialmente as nações africanas.

O especialista até reconhece que a ciência evoluiu muito desde o começo da pandemia, com vacinas, soros e medicamentos, como a pílula da Pfizer que tem eficácia de 90% contra o vírus.

Contudo, o infectologista afirma que esses tratamentos precisam ficar mais baratos e acessíveis para todos. Para ele, somente quando isso acontecer, será possível dizer que a pandemia estará próxima do fim.

“Falar no fim da pandemia sem mostrar nenhuma ação concreta de democratização de acesso às vacinas e medicamentos é muito complicado, pois se isso não acontece, corremos o risco do surgimento de novas variantes, o que agravaria ainda mais a situação em 2022”, explica.

Quando a covid-19 realmente vai acabar?

Segundo o infectologista, as pandemias normalmente acabam quando o vírus passa a ser algo “mais brando, do convívio humano e sazonal”.

“Basta olhar o exemplo da H1N1 em 2009. Hoje esse é um vírus da gripe qualquer, indistinguível de um H3N2, e não há nenhuma diferença entre qualquer outra variante”, afirma.

Ou seja, para Kfouri, a Covid-19 vai continuar em nossas vidas — mas de uma forma mais sazonal e controlável com medicamentos e vacinas.

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