Omega vê retomada cautelosa de aquisições em energia apesar do coronavírus
A Omega Geração (OMGE3) segue atenta a oportunidades de aquisição mesmo após uma recém-anunciada compra de usinas eólicas da Eletrobras (ELET3; ELET6), disse à Reuters nesta quarta-feira o presidente da companhia, com a ressalva de que o momento em meio à pandemia de coronavírus ainda exige alguma cautela.
O CEO e fundador da empresa de energia renovável, Antonio Bastos Filho, afirmou que sinais recentes de que a recessão causada pelo vírus no Brasil não será tão drástica quanto imaginado antes permitiram à Omega voltar a analisar oportunidades de crescimento depois de uma pausa inicial.
No final de março, a companhia chegou a comunicar a suspensão de todos processos para possíveis aquisições dos quais participava, devido às incertezas geradas pela crise de saúde.
Mas agora há uma expectativa de que o PIB brasileiro em 2020 se aproxime mais de uma retração de 5% do que de uma queda de quase 10% apontada em projeções mais pessimistas, apontou o executivo, que também vê espaço para redução adicional na taxa básica de juros do país (Selic).
“Esse cenário nos levou a ter o conforto de retomar os investimentos. Sobre coisas novas, somos uma companhia de investimentos… então obviamente estamos sempre olhando as oportunidades do mercado e perseguindo elas”, disse Bastos, ao ser questionado sobre o apetite por mais negócios.
“É difícil falar se vamos fazer alguma coisa agora ou só ano que vem, mas existe um processo ativo nosso para desenvolver oportunidades”, acrescentou ele
A Omega tem crescido rapidamente por meio da aquisição de ativos operacionais desde uma oferta pública inicial de ações realizadas em meados de 2017.
“Acho que vamos estar em um nível de atividade de M&A (fusões e aquisições) similar ao de fevereiro ali pelo último trimestre”, afirmou Bastos, com a ressalva de que ainda há “sinais difusos” sobre o comportamento do mercado.
“Precisa ser cauteloso em relação a isso. Por mais que tenha melhorado o cenário, ainda é um período meio insólito, nós nunca experimentamos isso na vida. Acho que podem existir oportunidades, mas não consigo dizer ainda com clareza se o mercado vai ter uma dinâmica X, Y ou Z.”
O interesse da Omega envolve usinas solares, eólicas ou pequenas hidrelétricas em operação, com preferência por ativos de maior escala e que façam sentido estratégico, disse o CEO.
Na semana passada, a companhia informou a aquisição de parques eólicos operacionais da Eletrobras por 1,5 bilhão de reais, incluindo dívidas. Os empreendimentos, no Rio Grande do Sul, somam 582,8 megawatts em capacidade.
Ganhos após aquisição
A aquisição das eólicas da Eletrobras foi a maior já realizada pela Omega. A transação, que deve ser concluída até o fim do ano, amplia em 50% a capacidade instalada da empresa, para 1,7 gigawatt.
Para financiar a operação, a Omega pretende realizar uma emissão primária de aproximadamente 500 milhões de reais, que segundo comunicado recente poderá também ser usada em “potenciais novas aquisições de ativos operacionais pela companhia ao longo dos próximos meses”.
“Contratamos o Itaú faz uma semana para ser nosso líder nesse processo”, disse o CEO, sem estimar um cronograma.
O negócio pelos ativos da Eletrobras também marcou um avanço da Omega para a região Sul –a empresa possui principalmente parques eólicos no Nordeste e usinas solares e pequenas hidrelétricas no Sudeste.
Com usinas em áreas com diferentes perfis de vento, há uma estimativa de que as eólicas no Sul reduzirão em 25% a incerteza anual sobre o nível de geração da empresa, disse Bastos.
“Neste ano, por exemplo, estamos com um ano muito duro no Nordeste todo, tivemos um primeiro semestre muito ruim (em ventos) –para todas as empresas (de geração eólica), não só a nossa. Mas o Sul está indo muito bem, então tem esse efeito complementar”, destacou.
O executivo disse que a companhia também pretende trabalhar para aumentar a produtividade das usinas e cortar custos.
Os ativos ainda estão atrelados a dívidas “caras” com o BNDES, com juros maiores que os que têm sido obtidos pela Omega, o que abre espaço para potencial redução de custos financeiros.
“Isso foi resultado de várias negociações que o ativo teve que fazer por conta de atrasos de prazo e etc, que foram majorando o custo da dívida… fazer uma otimização de capital é uma das possibilidades que nós contemplamos no plano de negócios desse ativo”, disse Bastos.
Ele disse que isso abrirá espaço para maior rentabilidade, uma vez que a oferta pelas usinas foi baseada em premissas conservadoras, até devido à compra em meio à pandemia.