Opinião

Olhar Macro: Desemprego e inflação no Brasil

27 abr 2019, 17:12 - atualizado em 27 abr 2019, 17:15

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Por João Ricardo Costa Filho, Doutor em Economia pela Universidade do Porto, é professor da FGV/SP do Ibmec/SP – Siga no TwitterInstagram e Linkedin

Uma das relações mais conhecidas (e, possivelmente, mais controversa) da macroeconomia se dá entre a taxa de desemprego e a inflação.

Originalmente proposta por Phillips comparando o crescimento dos salários e a desocupação, ganhou ao longo do tempo a sua versão mais conhecida, na qual figura a variação de índices de preços.

No popular livro de introdução à economia de Gregory N. Mankiw, a relação ganhou espaço entre os seus famosos princípios da economia.

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Como anda essa relação no Brasil?

Utilizando os dados mensais para a taxa de desemprego da PNAD Contínua e a taxa de inflação calculada com base no IPCA, ambas divulgadas pelo IBGE, podemos verificar o que a evidência empírica nos conta sobre essa relação.

Como os efeitos do desemprego na dinâmica de preços não é contemporâneo (ou seja, leva um tempo para que alterações na ocupação afetem os preços), coloco no primeiro gráfico uma dispersão entre a taxa de desemprego defasada em 12 meses e a inflação acumulada, para o período compreendido entre mar/2012 a jan/2019.

Os dados parecem corroborar com a hipótese de uma associação negativa entre desemprego e inflação no curto prazo.

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A literatura econômica já explorou exaustivamente a impossibilidade de um gestor de política econômica em se aproveitar dessa relação, no entanto.

No gráfico abaixo, os mesmos dados são apresentados, mas sem a hipótese de que essa relação seja linear.

Parece que existem dois intervalos importantes, cujo limiar se dá por uma taxa de desemprego em torno de 9% (Curiosamente, essa é a minha estimativa para a NAIRU, a taxa de desemprego que não acelera a inflação no Brasil, com base no estudo que fiz sobre o crescimento potencial da economia brasileira).

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Para valores acima desse patamar, a relação negativa ocorre com uma inflação em torno de 3,5-4,5%. Já para valores da taxa de desemprego abaixo de 9-10%, a inflação fica por volta de 7,5%.

Curiosamente, em ambos intervalos, temos um certo “achatamento” da curva de Phillips conforme nos aproximamos dos extremos.

Obviamente, um tratamento mais rigoroso dos dados com a ajuda do ferramental econométrico precisa ser feito, não apenas para testar a hipótese da não-linearidade, como também para aprofundar a análise e verificar se a curva de Phillips se sustenta à um tratamento estatístico mais robusto.

De qualquer forma, não é à toa que diversas análises sobre a dinâmica dos preços e da trajetória da política monetária levam em consideração a ociosidade dos fatores de produção, especialmente no mercado de trabalho.

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opiniao@moneytimes.com.br