Opinião

Olhar Macro: Como as reformas no mercado financeiro podem ajudar a mitigar o desemprego?

31 mar 2019, 10:45 - atualizado em 31 mar 2019, 0:22

Por João Ricardo Costa Filho, Doutor em Economia pela Universidade do Porto, é professor da FGV/SP do Ibmec/SP – Siga no TwitterInstagram e Linkedin

O mercado financeiro pode trazer oportunidades ou ameaças para o crescimento econômico, tudo depende de como lidamos com ele. No artigo para discussão intitulado Financial reforms: Benefits and inherent risks, publicado em 2006, o professor Jisoon Lee chega a sete conclusões sobre as reformas no mercado financeiro.

Dentre elas, destaco três: i) as reformas financeiras dependem de planejamento, mas quando há cautela, o resultado tende a ser positivo; ii) mesmo países ricos devem continuar desenvolvendo o seu sistema financeiro e iii) adotar um sistema financeiro muito avançado pode ser um erro para países pobres.

O autor nos lembra que reformar o mercado financeiro exige recursos e, portanto, o resultado da reforma deve compensar o investimento em termos de capacidade produtiva para a economia como um todo, caso contrário, o seu efeito será negativo (o ponto três ressaltado no parágrafo anterior). Mas, se feita de maneira adequada, a reforma pode ser um dos impulsionadores do crescimento econômico, algo que o próprio Schumpeter já advogava.

O maior crescimento econômico pode ser acompanhado de uma menor volatilidade no desemprego. O artigo Financial development, unemployment volatility, and sectoral dynamics, de Epstein e Shapiro, publicado em fevereiro deste ano, nos ajuda a entender o mecanismo.

O desenvolvimento do mercado financeiro diminui as restrições à obtenção do crédito, o que aumenta não só a produção, como também o acúmulo de capital “interno” (do ponto de vista da empresa, que pode acumular mais capital). Em um segundo momento, a firma poderá oferecer mais colateral, o que por sua vez facilitará o acesso à novos empréstimos e, no agregado, estimulará ainda mais o crescimento do mercado financeiro.

Durante essa dinâmica, a maior oferta de produtos financeiros (em volume e variedade) faz com que as empresas consigam acomodar melhor as flutuações econômicas e, assim, não precisem recorrer às demissões quando sofrerem um cenário adverso. Ao longo do tempo, isso se traduz em uma menor volatilidade do desemprego.

Em tempos de desemprego alto e discussões sobre reformas estruturais, precisamos manter em vista possíveis reformulações do mercado financeiro. É possível manter a solidez do sistema (que fez, por exemplo, com que não sofrêssemos muito as consequências da crise de 2008) e ainda sim estimular o aumento do mercado financeiro para impulsionar o crescimento econômico e, com isso, oferecer produtos que protejam empregos. Os trabalhadores agradecem.

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