Ações

Ofertas Públicas Iniciais no Brasil e no Mundo: Uma breve análise da fuga de IPOs

13 nov 2018, 9:00 - atualizado em 12 nov 2018, 19:09

Por Maria Eugenia Cirillo, estudante de Direito da PUC-Rio com foco em Societário e Mercado de Capitais – Para o Terraço Econômico

Em 25 de outubro, a Stone, gigante brasileira do setor de pagamentos, realizou sua oferta pública inicial – ou initial public offering – IPO – na Nasdaq, bolsa eletrônica dos Estados Unidos. A operação levantou US$ 1,5 bilhões, com valorização de mais de 30% dos ativos no primeiro dia de negociações, e atraiu interessados de renome, como o investidor Warren Buffett e o grupo Alibaba. Na realidade, trata-se de apenas mais uma empresa nacional que recorre ao mercado estrangeiro, ao invés da B3, para abrir seu capital. E essa prática tem se tornado frequente em razão de diversos fatores.

Em primeiro lugar, o desenvolvimento de mercados internacionais e sua ampla competitividade, até mesmo em relação às bolsas de valores, são atrativos para as sociedades que estão em significativo crescimento e que se preparam para o público investidor, principalmente start ups de tecnologia. Normalmente tais companhias optam por abrir o capital em bolsas americanas, como a Nasdaq ou New York Stock Exchange (NYSE), tendo em vista o elevado número de empresas do setor nelas listadas. O mercado europeu, por sua vez, ainda é menos explorado por empresas brasileiras.

Além disso, muitos controladores entendem que a ampla liquidez desses ambientes garante que as ofertas possam ser melhor precificadas, considerando que a demanda por ativos de companhias ainda pouco consolidadas será maior caso os investidores possuam menor aversão a riscos. A solidez do mercado americano, por exemplo, também permite que sejam implementadas modalidades alternativas de IPOs ainda pouco exploradas no Brasil – como ocorreu na oferta do Spotify, em que se adotou a forma de listagem direta, sem emissão de novas ações ou intermediação de bancos (underwriters).

Evidentemente, a regulação também desempenha papel fundamental na escolha do local em que ofertas iniciais serão realizadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Comissão de Valores Mobiliários local (Securities and Exchange Comission – SEC) pode analisar determinados registros de ofertas de maneira sigilosa, permitindo que a companhia desista durante o processo sem que isso gere ampla repercurssão para o mercado – o que pode ser interessante principalmente nos casos em que, paralelamente, a empresa está procurando potenciais investidores privados para adqurir seu controle ou ainda pensa em realizar um IPO no futuro.

Dentre casos recentes de sucesso de sociedades brasileiras que optaram por realizar um IPO no exterior – especificamente, nos Estados Unidos -, pode-se destacar o da PagSeguros, braço do grupo UOL voltado para pagamentos, que lançou sua oferta inicial no início de 2018. O IPO movimentou mais de U$ 2 bilhões e foi o maior de uma empresa brasileira nos EUA, além de um dos mais expressivos do ano na NYSE. Também em 2018, a unicórnio Arco, primeira companhia brasileira do setor de educação a ser listada na Nasdaq, levantou mais de U$ 190 milhões em sua oferta inicial. De acordo com Ari de Sá Neto, presidente da Arco, em entrevista para a Exame, a escolha da Nasdaq se deu pois “[esta bolsa] está em um contexto de tecnologia, com investidores que atuam nessa área, que têm mais conhecimento e podem aportar mais do seu capital”.

Por outro lado, a Netshoes, primeira brasileira a fazer um IPO exclusivo nos EUA, observou significativa queda no valor de seus ativos meses após a oferta. Contudo, a desvalorização se deu em decorrência dos resultados financeiros da companhia.

No que diz respeito ao mercado brasileiro, fatores como instabilidade política, social e jurídica, abruptas oscilações econômicas e o baixo interesse do público em geral quanto às alternativas de investimento disponíveis, principalmente aos ativos de risco, contribuem para desmotivar companhias em crescimento a abrir o seu capital por aqui. Até agora, apenas três IPOs ocorreram no Brasil em 2018, em comparação com as 9 ofertas registradas em 2017 e as 51 estreias de 2007, ano áureo das ofertas iniciais na bolsa de valores de São Paulo. Não obstante, o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, afirmou à Reuters que há mais de 30 empresas com ofertas iniciais suspensas, previstas para ocorrer até o final de 2019 e que estavam apenas na espera pelos resultados eleitorais.

Nesse sentido, vale ressaltar que o mercado de capitais é estratégico para o país, principalmente em um momento de recuperação econômica, e ainda muito pouco desenvolvido no território nacional em comparação ao de outras jurisdições. Cabe, portanto, a todos os players do mercado – reguladores, investidores, consultores – envidarem esforços e apresentarem alternativas para evitar a fuga de ofertas públicas iniciais, tornando o ambiente mais favorável e atrativo para a estreia das empresas (dos mais diversos portes) ao público investidor.