OCDE: Brasil corre risco de ter ‘década perdida’ sem reformas
O Brasil deve cortar gastos e obrigações mandatórias para evitar uma “recessão como na década perdida dos anos 1980”, segundo estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Com os níveis de dívida disparando após o pacote de ajuda do governo para enfrentar a pandemia, o crescimento sustentado depende de ajustes fiscais e do cumprimento das regras de gastos públicos, alertou a OCDE em pesquisa econômica sobre Brasil publicada nesta quarta-feira.
“Sem uma ação forte, os custos de financiamento podem aumentar substancialmente, prejudicando a sustentabilidade fiscal e deprimindo o investimento”, disse a organização com sede em Paris, prevendo que o déficit primário do Brasil, que exclui o pagamento de juros, aumentará para 10,7% do Produto Interno Bruto este ano.
O relatório de 138 páginas foi divulgado antes de uma apresentação do Secretário-Geral da OCDE, Angel Gurria, do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do Ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a recuperação do país após o Covid-19.
A resposta política do Brasil foi bem-sucedida em proteger milhões de pessoas da crise econômica, mas “reformas estruturais profundas” são necessárias para impulsionar o crescimento além dos níveis pré-pandêmicos, disse o relatório. A OCDE espera que a maior economia da América Latina contraia 5% em 2020 e cresça 2,6% em 2021.
Recomendações de política
O relatório recomendou que os parlamentares mantenham as taxas de juros baixas até que as pressões inflacionárias se tornem “claramente visíveis”, salvaguardem a autonomia do Banco Central, aumentem os benefícios do programa Bolsa Família e indexem os aumentos da previdência social aos preços ao consumidor, em vez de usar o salário mínimo como indexador.
Além da dívida do governo, prevista em mais de 94% do PIB este ano, a OCDE citou preocupações com a produtividade e eficiência nos gastos, corrupção, bem como o aumento da desigualdade.
“Muitas das configurações institucionais e políticas do Brasil foram feitas para um mundo que é muito diferente dos desafios de hoje”, disse o relatório.