Coluna
AgroTimes

O ‘X’ do agro: Um negócio da China

24 maio 2025, 10:00 - atualizado em 23 maio 2025, 11:29
agronegócio china (1)
(iStock,.com/sanyanwuji)

Vamos começar com o “X” da principal questão que assola corações e mentes de 10 entre 10 líderes mundiais e que, por acaso, está destacado no título dessa coluna.

Qual a estratégia dos países integrantes do globo terrestre para, segundo estudos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) de 2016, alimentar cerca de 9.3 bilhões de seres humanos, o que seria a população estimada do planeta em 2050?

E como fazer isso sem comprometer o meio ambiente?

  • VEJA TAMBÉM: Confira tudo o que está movimentando o agronegócio brasileiro com a cobertura especial do Agro Times; cadastre-se aqui

Como a questão, claramente tem mais de um “X” a ser equacionado, vamos tentar tratar abaixo desse tema como uma espécie de equação matemática e contextualizar a importância das negociações bilaterais originadas na China, em série de encontros multilaterais ocorridos em meados da semana passada, diante dos novos parâmetros que parecem estar se consubstanciando no mercado internacional no pós “Tarifaço” do Trump.

Xi Jinping e o posicionamento enfático da China no cenário internacional

Por acaso no nome do atual líder chinês também começa com a letra “X”, ou seja, temos mais outro “X” para adicionar na equação a ser tratada nessa coluna.

É que além de fechar acordos específicos com o Governo Brasileiro – e da polêmica produzida pela primeira-dama brasileira durante a viagem por conta de comentários sobre uma rede social chinesa ao líder chinês – para a aquisição de novos produtos brasileiros e financiamento de logística para o agronegócio, a China suspendeu a exigência de vistos de viagem para receber naquele país pessoas oriundas de muitos dos países da América Latina, facilitando as viagens entre os países.

Ademais, para incrementar os negócios de empresas chinesas na América Latina, disponibilizou linhas de crédito para empresas chinesas que investem no subcontinente cerca de US$ 9,1 bilhões, segundo relatos da imprensa internacional.

Tais ações e medidas anunciadas só denotam a importância cada vez maior da China no mercado internacional, notadamente sinalizando pela importância estratégica da América Latina nessa equação chinesa que visa garantir mercado para seus produtos, portos seguros para os seus investimentos transnacionais, além da própria segurança alimentar.

O “X” do Trumpismo

Quando falamos do “X” do Trumpismo nessa equação não estamos querendo nos referir, especificamente ao “X” que representa os negócios do Sr. Elon Musk, que hoje integra o Governo Trump, no âmbito internacional, mas especialmente do novo olhar dos norte-americanos para a América Latina e até para os seus vizinhos da América do Norte, como o Canadá.

Na verdade, o “X” da questão envolvendo o posicionamento dos Estados Unidos da América, reflete um ponto de inflexão na velha Doutrina Monroe, cunhada ainda em 1823 pelo então presidente James Monroe que preconizava a não-intervenção, à época, das ex-metrópoles europeias nos nascentes países latino-americanos, como o Brasil, que se tornou independente em 1822, com o lema: “A América para os Americanos”.

É que desde a eleição de Donald Trump no final do ano passado, culminando com o tarifaço dos últimos meses – a despeito de suspensões e negociações bilaterais em curso -, nos parece que os EUA não querem mais saber de uma américa para os americanos (do norte, claro).

O país tem preferido fomentar políticas (e notícias) de cunho negativo nas searas da migração, dos negócios, comércio internacional e outras em relação aos vizinhos de continente. Tal ação pouco estratégica e muito barulhenta deixa o campo aberto para a influência econômica chinesa na região, o que estamos sentindo no dia a dia e verificando das mais diversas formas, como acima narrado, confirmando uma tendência incremental pós-tarifaço do Trump.

E o “X” do Brasil nessa equação?

O Brasil por sua vez, a despeito de seus problemas internos de gestão pública, notadamente de gestão orçamentária e política, que impacta negativamente as taxas de juros praticadas no país, implicando na falta de definição da equalização do Plano Safra outros aspectos, tem uma missão relevantíssima para multiplicar o “X” da produção agropecuária com o menor impacto ambiental possível para se atingir a meta de se alimentar 9,3 bilhões de pessoas no mundo em 2050.

É que se estima, segundo estudos recentes divulgados pelo MAPA, um aumento da produção de grãos para cerca de 390 milhões de toneladas para meados de 2030.

Se temos uma expectativa de cerca de 330 milhões de toneladas de grãos para esse ano, significa dizer que teremos de aumentar em cerca de 20% (vinte por cento) a produção agropecuária até 2030. Se olharmos para 2050 então, considerando-se a proporcionalização dos números do aumento de produtividade versus a projeção da população mundial, teremos de aumentar muito mais.

Assim, sem investimento em logística – como no que fora tratado com a China recentemente – e sem aumento dos recursos disponíveis para financiamento da produção, sem marcos regulatórios estáveis e sem sustentabilidade rígida, com leis, Cadastro Ambiental Rural – CAR, títulos e financiamentos verdes, além de licenciamento ambiental sério como o que está em debate no Senado Federal nesses dias, não teremos como suprir a demanda da China, nem de outros parceiros comerciais que necessitarão cada vez mais do aumento da produção e da produtividade no Brasil com sustentabilidade, conforme tratamos dos fatores estruturais na nossa última coluna.

Negócio da China?

Dessa maneira, diante de tantas incertezas geopolíticas uma certeza se destaca adiante. A consolidação de uma parceria do Brasil com a China, com ampla complementaridade entre as economias, bem como acordos formais de cooperação sendo costurados e até maximizados na seara do agronegócio e em outras frentes.

Diante dessa certeza, podemos então inferir que mesmo em contextos mais difíceis, como, por exemplo, da recente eclosão de casos de gripe aviária no país, o “X” da relação entre ambas as economias tende a trazer elementos sólidos para o aumento da produção e das vendas de produtos agropecuários brasileiros no exterior, fomentando, além da desejada sustentabilidade, objeto dos acordo internacionais do clima, também postos de lado pelos EUA a partir de então, cada vez mais negócios bilaterais, mesmo com o aumento da volatilidade causada pelas políticas recentes dos EUA para os mercados internacionais.

Tal contexto tem se refletido, inclusive, nas cotações de ativos financeiros e reais, notadamente, aqueles vinculados ao agronegócio, tanto no mercado interno como no internacional, que têm reagido positivamente nos últimos dias a essas notícias positivas que vêm impactando uma série de indicadores e projeções para os negócios no setor.

Esse é o “X” da questão que, nessa equação, pode ter na relação bilateral entre Brasil e China um multiplicador de oportunidades cada vez maiores para se atingir o objetivo global de alimentar, vestir e garantir um meio-ambiente saudável para 9.3 bilhões de seres humanos até 2050.

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
André Ricardo Passos de Souza, é sócio-fundador do PSAA - Passos e Sticca Advogados Associados -, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo IBMEC, bacharel em direito pela UERJ. Professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conselheiro Fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
andre.passos@moneytimes.com.br
André Ricardo Passos de Souza, é sócio-fundador do PSAA - Passos e Sticca Advogados Associados -, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo IBMEC, bacharel em direito pela UERJ. Professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conselheiro Fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar