Coluna do Antonio Samad Jr

O varejo vive seu inverno, mas no day trade, vida que segue

21 mar 2023, 13:09 - atualizado em 21 mar 2023, 13:09
Comércio
“A perspectiva é de que as empresas de varejo sofram este ano com vendas aquém do que haviam planejado”, diz o colunista (Imagem: REUTERS/Nacho Doce)

O comércio brasileiro vem passando por um momento difícil batizado pelos especialistas do mercado financeiro de “inverno do varejo”.

O problema está relacionado ao um cenário de crise duradoura. Em 2019, havia a expectativa de crescimento econômico no Brasil e no mundo. Mas em 2020, a pandemia de Covid 19, que só terminou no final de 2021, causou prejuízo para diversos setores da economia.

Simultaneamente surgiram outras crises como uma quase guerra entre Irã e Estados Unidos, intensa briga comercial entre americanos e chineses com retaliações vindas de ambos os lados, crise do petróleo e, quando tudo parecia fazer parte do passado eis que a Rússia invade a Ucrânia.

Pois bem, se não bastasse o cenário internacional ruim, o Brasil gerou suas próprias turbulências. O período eleitoral conturbado e medidas populistas do governo anterior na tentativa de vencer as eleições prejudicaram as contas públicas.

Tudo somado fez com que a economia enfraquecesse. Empregos foram perdidos e no lugar foram criadas vagas de trabalho mal remuneradas ou informais. A inflação ascendente comeu parte do poder de compra e a taxa Selic a 13,75% ao ano encareceu o crédito ao consumidor e às empresas.

O resultado é que agora, temos um poder público com poucos recursos em caixa, milhões de consumidores e de empresas inadimplentes e, consequentemente, um consumo muito abaixo do esperado e pouca oferta de crédito.

Todos sabemos que o consumo brasileiro depende muito da oferta de crédito. Mas como emprestar dinheiro se está difícil pagar parcelas de financiamentos já realizados?

Resumindo, a perspectiva é de que as empresas de varejo sofram este ano com vendas aquém do que haviam planejado.

Afinal, elas dependem do sistema financeiro para liberar crédito cuja oferta está reduzida para novos contratos porque bancos, financeiras e fintechs precisam focar esforços nas renegociações de empréstimos feitos anteriormente.

E se o varejo tende a vender menos, certamente lucrará menos. E o investidor que gosta de investir em papéis de companhias desse setor tem de ficar atento à movimentação.

No dia 20 de março as ações da Renner (LREN3) apresentavam variação negativa de 14,69% em 2023 e de -25,83% em 52 semanas. A Marisa (AMAR3) queda, respectivamente, de -45,6% no ano e de -76,94% em 12 meses, e a Via (VIIA3), resultados negativos de -15% e de -42,53%, considerando os mesmos períodos.

O Magalu (MGLU3) é a varejista em melhor situação. Seus papéis apresentam valorização de 37,22% em 2023, mas no acumulado de um ano ainda está negativa em 35,39%, ou seja, ainda tem bastante a recuperar.

Isso significa que o melhor é esquecer as ações do ramo varejista? Obviamente que não. Em geral são empresas fortes prejudicadas por um cenário econômico ruim, mas que tendem a se recuperar tão logo as questões macroeconômicas sejam equacionadas.

Como todo mundo sabe, é na baixa que se vai às compras. A questão aqui é mensurar, individualmente, se os papéis vão se desvalorizar ainda mais ou se vão começar a valorizar para saber a hora exata de comprar.

Quem já está posicionado, convém agir da mesma forma para voltar a comprar no momento certo e assim, recuperar as perdas atuais pela média de alta futura. Vender agora é assumir o prejuízo.

Grosso modo é isso para quem investe mais a longo prazo. Para quem faz day trade pouca coisa muda. O inverno existe da mesma forma, porém, arriscar no sobe e desce diário, mesmo que no fim do pregão a ação tenha perdido valor, o trader tem a oportunidade de lucrar aproveitando com inteligência uma janela de alta que tenha ocorrido.

Em outras palavras, para quem sabe especular, vida que segue. Para os demais, é preciso atenção redobrada aos movimentos de mercado e coração forte.

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