Opinião

O valor de um financial advisor

29 nov 2016, 14:20 - atualizado em 05 nov 2017, 14:08

Luiz Augusto Pacheco é gestor da Inva Capital. Texto originalmente publicado em Value for Life

Um dos grandes desafios de alguém que não cobra comissão é mostrar para o possível cliente o valor dos seus serviços. Afinal, você cobra por um serviço que, em teoria, ele pode conseguir “de graça” em outro lugar.

Encontrei um excelente artigo que calcula quanto um consultor financeiro “rendeu” para o cliente em 2016. Nele, os autores usam a seguinte fórmula:

Valor do consultor = A+B+C+P+T

  • A: rebalanceamento anual do portfólio
  • B: erros comportamentais feitos pelo investidor
  • C: custo de um serviço que dá somente consultoria de investimentos
  • P: planejamento financeiro
  • T: investimento/planejamento tributário

Agora, vamos ver como cada item foi calculado:

A: rebalanceamento anual

Diversas pesquisas mostram que o rebalanceamento de um portfólio traz resultados superiores ao buy-and-hold. Inclusive, se você clicou no link acima, viu que essa diferença pode ser pouco mais de 2%:

Os autores usaram outros dados e produziram a tabela abaixo:

Então, seguindo a metodologia deles, o rebalanceamento traz um bônus de 0,2% ao ano (e ainda reduz a volatilidade)

B: erros comportamentais

Já escrevi sobre os diversos viéses que atrapalham a tomada de decisão de um investidor. Inclusive, mostrei que a rentabilidade de um investidor médio é baixíssima:

O gráfico abaixo mostra a principal causa para esse retorno medíocre: comprar na alta e vender na baixa.

As barras laranjas mostram o fluxo de caixa para fundos e a linha azul o comportamento do Russel 3000, índice de ações bem abrangente nos EUA. As áreas em cinza destacam a parte dos investidores que compram os fundos em momentos de alta e vendem em momentos de baixa, justamente o contrário do que deve ser feito.

Com os dados do Russell 3000 e os fluxos de entrada e saída, eles calcularam a diferença de performance do índice e do investidor que ficou comprando e vendendo.

O papel do advisor é fazer com que o cliente não cometa esse tipo de erro e se mantenha fiel à sua estratégia. Assim, o advisor traz um valor de 2,1% para o cliente ao evitá-los.

C: custo de um serviço com somente consultoria de investimentos

Basicamente, quanto alguém deveria cobrar se focasse somente nos investimentos do cliente. O valor de um serviço automatizados nos EUA está em torno de 0,25% ao ano.

P: planejamento financeiro

Segundo a Financial Planning Association (FPA), um planejamento financeiro custa, em média, USD 2.600 (o advisor gasta, em média, 13h entrevistando o investidor). Este valor corresponde, aproximadamente, a 0,5% em relação a um portfólio de USD 500 mil.

Mas o planejamento financeiro, tipicamente, envolve serviços adicionais (educação financeira, ajuda com a declaração do IR etc.), que acabam poupando tempo durante tarefas corriqueiras ao longo do ano e que podem, facilmente, chegar a 50, 100 horas anuais. Os autores estimaram um custo de 0,25%.

O custo de planejamento financeiro anual, então, foi de 0,75%.

T: investimento/planejamento tributário

Recomendar e investir de modo a minimizar os impostos e, consequentemente, maximizar o retorno. No Brasil, alocar investimentos que são livres de IR para pessoa física em contas pessoais, enquanto investimentos tributáveis ficam dentro de fundos exclusivos, por exemplo. Ou, ainda, vender ações abaixo de R$ 20 mil em um mês para não ter que pagar ganhos de capital.

No caso dos EUA, a diferença que esse planejamento fiscal pode trazer chega a 0,45%.

Somando todos os itens acima, o valor que um consultor financeiro traz para seu cliente chega a 3,75% em um ano!

Então, não se preocupe com o custo que seu advisor vai lhe trazer. Mas pense nos benefícios, alinhamento de interesse (afinal não há comissões envolvidas), um plano bem traçado e a tranquilidade que alguém capaz pode lhe trazer.

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Fundador do Money Times | Editor
Fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.
gustavo.kahil@moneytimes.com.br
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