O terror dos IPOs: Maioria das empresas teve desempenho negativo após abrir capital, diz Guide
Fazer um IPO, ou abrir capital, é uma tendência que cresceu nos anos de pandemia da covid-19, embora tenha desacelerado neste ano.
Desde 2017, foram realizados 86 IPOs na B3. Do total, segundo a Guide Investimentos, apenas 18 apresentaram desempenho acima do Ibovespa e somente 20 tiveram desempenho positivo, com os ativos mais caros do que quando o IPO foi realizado.
Segundo a Guide, “em tempos de bull market, é normal ver um aumento no número de ofertas: a precificação é mais alta e isto aumenta o interesse das empresas em listar suas ações”.
Outros fatores, como o fluxo mais alto de investidores na Bolsa, também gerou uma busca maior por novas oportunidades de investimento.
“Entre tantas ofertas, como imaginável, a qualidade das empresas apresentou uma maior variação, com empresas que nem lucro haviam obtido à época, e em sua maioria a preços acima do que havia sido considerado posteriormente como justo pelo mercado, sendo um exemplo do comportamento típico de momentos de euforia”, dizem os analistas.
A Guide aponta que o único ano de exceção à regra (ou seja, quando uma empresa que fez IPO não caiu consideravelmente) foi 2018, quando todas tiveram bom desempenho, apesar de o ano ter sido particularmente ruim para a Bolsa, com a greve dos caminhoneiros e as eleições deixando uma janela curta para ofertas.
Em 2020 e 2021, muitas empresas fizeram ofertas de ações, em especial após o segundo semestre de 2020, quando “as bolsas mundiais apresentaram forte alta impulsionadas por juros baixos e injeção de dinheiro por parte de diversos
governos, mas o desempenho destas ofertas foi majoritariamente negativo”.
Para a Guide, isso significa que existe uma clara relação inversa entre a quantidade de ofertas e o desempenho destas ofertas no mercado.
É comum que, nos primeiros dias após o IPO, empresas performem bem na Bolsa, mas, a longo prazo, as ações podem começar a cair.
O fenômeno, segundo a Guide, é conhecido “o na literatura de finanças, acontecendo não só no Brasil, mas no mundo inteiro e há muitos anos (há registros estatísticos de retornos positivos dos IPOs no primeiro dia de negociação desde os anos 80)”.
A média do retorno foi de 5% no primeiro dia de todos os IPOs feitos desde 2017. Em alguns poucos casos, o retorno foi negativo como com o Banco BMG e Agrogalaxy. Mas a maioria foi positiva, com destaque para Mosaico, Smart Fit, Armac Locação e Traders Club.
O relatório afirma que as companhias populares entre o público de varejo, como a própria SmartFit, “tiveram forte demanda para a oferta, e em sua estreia apresentaram altas bastante robustas, mesmo que do ponto de vista de fundamento não se justificava”.
“A rede de academias, por exemplo, em seu primeiro pregão chegou a subir 35%. Traders Club é outra empresa que chegou a subir 33% na estreia. A maior alta no primeiro pregão foi a de Mosaico, com uma impressionante performance de 97%, apesar de hoje a empresa não ser mais listada, tendo sido adquirida pelo Banco Pan, após ter apresentado uma queda de 70% em 12 meses antes da aquisição”, diz o relatório.
Quem se deu mal
Mas algumas das companhias que abriram capital, como Enjoei (ENJU3), Mobly (MBLY3) e Espaço Laser (ESPA3), tiveram desempenho inferior ao do Ibovespa, integrando o topo dos dez piores IPOs desde 2017.
Os piores IPOs desde 2017 | ||
---|---|---|
Empresa | Ticker | Retorno |
Enjoei | ENJU3 | -70% |
Espaço Laser | ESPA3 | -69% |
Mobly | MBLY3 | -69% |
Brisanet | BRIT3 | -67% |
ClearSale | CLSA3 | -66% |
GetNinjas | NINJ3 | -63% |
Oncoclínicas | ONCO3 | -62% |
Westwing | WEST3 | -61% |
Infracommerce | IFCM3 | -60% |
A Espaço Laser, por exemplo, como cita o relatório, chegou a subir 17% no primeiro pregão, e em quatro pregões seus papéis já haviam caído mais de 50%. Atualmente, a queda quase alcança os 85%, e seu market cap (todas as ações emitidas multiplicada pelo valor de mercado do papel) já representa um valor menor do que o montante captado na oferta de ESPA3.
Quem se deu bem
A Guide afirma que empresas de setores novos ou pequenos dentro da B3 são as que se saíram melhor após abrir capital desde 2017. Entre elas estão a Vamos (VAMO3), a Intelbras (INTB3) e a Vittia (VITT3).
Os melhores IPOs desde 2017 | ||
---|---|---|
Empresa | Ticker | Retorno |
Vamos | VAMO3 | 71% |
3R Petroleum | RRRP3 | 54% |
Intelbras | INTB3 | 50% |
Vittia | VITT3 | 39% |
GNDI | GNDI3 | 38% |
CBA | CBAV3 | 37% |
Orizon | ORVR3 | 35% |
Banco Inter | BIDI4 | 29% |
Locaweb | LWSA3 | 17% |
Grupo SBF | SBFG3 | 15% |
“Papéis relacionados a commodities ou participantes de setores novos da Bolsa performaram positivamente. Banco Inter, por exemplo, quando realizou seu IPO, foi percebido pelo mercado como o primeiro banco digital da Bolsa. Entretanto, a listagem de NuBank em 2021 e dados macroeconômicos negativos, pesaram bastante contra o Inter, que tem sofrido fortes realizações desde então”, dizem os analistas.
O que acontece no mundo mágico dos IPOs?
Segundo a Guide, a assimetria de informação, principalmente em setores novos da Bolsa, é mais uma razão que pesa após alguns dias contra a performance dos papéis estreantes.
“Os incentivos dados aos coordenadores das ofertas, fazem com que a promoção das empresas seja bastante intensa, e que investidores participantes ficam ‘’preso’’ ao papel até que o período de lock-up (que em média dura 45 dias) termine”, explicam os analistas.
“Além disso, promessas feitas por diretores das empresas antes da estreia, como o que será feito com o valor levantado na oferta, às vezes não se concretizam, o que pode levar a uma reação exagerada negativa para os estreantes, que se intensificam ainda mais pela menor liquidez, quando comparada a empresas incumbentes da Bolsa”, continuam.
Qual IPO vale a pena?
Mas nem tudo são trevas, de acordo com a Guide. IPOs recentes de empresas, como aponta o relatório, podem ser uma boa fonte de investimento, ainda mais em setores com potencial de crescer acima do Produto Interno Bruto (PIB).
São exemplos: CBA (CBAV3), Movida (MOVI3), Intelbras (INTB3), 3R Petroleum (RRRP3), Vibra Energia (VBBR3), Rede D’Or (RDOR3) e Locaweb (LWSA3).
A Guide ainda vê uma boa relação entre risco e retorno na Vittia Fertilizantes (VITT3).
A Boa Safra, líder na produção de semente de soja no país, também pode ser uma boa aposta, bem como a Neoenergia (NEOE3), o Grupo Soma (SOMA3) e a Petz (PETZ3).
Empresa | Ticker | Performance desde o IPO | Preço/Lucro |
---|---|---|---|
Movida | MOVI3 | 127,4% | 6,4x |
3R Petroleum | RRRP3 | 104,1% | 5,3x |
Intelbras | INTB3 | 59,2% | 11,7x |
Vibra Energia | VBBR3 | 54,2% | 10,3x |
Locaweb | LWSA3 | 32,4% | 32,8x |
Vittia | VITT3 | 17,2% | 7,9x |
Neoenergia | NEOE3 | 16,6% | 6,8x |
CBA | CBAV3 | 15,1% | 4,8x |
Grupo Soma | SOMA3 | -11,4% | 16,5x |
Petz | PETZ3 | -26,6% | 35,6x |
Rede D’Or | RDOR3 | -43,4% | 28,1x |
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