Economia

O tamanho do problema do Brasil em meio ao fiscal e alta da Selic, segundo três ex-diretores do Banco Central

29 jan 2025, 9:09 - atualizado em 29 jan 2025, 9:10
fiscal selic
Os temas "fiscal" e "Selic" são de causar calafrios no mercado neste início de 2025. Veja o que pensam 3 ex-diretores do Banco Central. (Imagem: Lorena Matos/Money Times)

Os temas “fiscal” e “Selic” são de causar calafrios no mercado neste início de 2025, uma vez que a falta de confiança no controle do cenário fiscal pelo atual governo e, por consequência, o ciclo de aperto monetário que se desenvolve para conter um aumento da inflação estão no radar.

Durante o Latin America Investment Conference (LAIC), evento promovido pelo UBS e UBS BB na terça-feira (28), os ex-diretores do Banco Central, Rodrigo Azevedo, Carlos Carvalho e Bruno Serra avaliaram a atual fotografia brasileira.

Carlos Viana de Carvalho, head de research na Kapitalo Investimentos, recorda que uma desaceleração da economia é estimada já há algum tempo e não vem se provando, uma vez que o Brasil vem surpreendendo com crescimento nos últimos anos. No entanto, afirma que essa desaceleração vai chegar.

“Eu acho que o choque de confiança que a gente teve no final do ano passado para cá, com aperto das condições financeiras, já é um vetor mais fundamental para a desaceleração, sinais um tanto de anedótico, mas acho que é um processo que está em curso de aperto dos padrões para concessão de crédito”, defendeu.

O posicionamento que o governo pode adotar diante do momento de desaceleração da economia também preocupa, uma vez que o governo Lula deve buscar combater a impopularidade causada pelo cenário.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Alerta: inflação, atividade e dominância fiscal

Bruno Serra, portfolio manager no Itaú, e Rodrigo Azevedo, portfolio manager e macro strategies co-CIO na Ibiuna Investimentos, discordaram sobre quais que são as maiores preocupações em relação ao Brasil.

Para Serra, é natural que o mercado esteja preocupado e atento à inflação — e há razões para isso —, no entanto, não vê como adequada uma relação entre o atual momento e a crise vivida durante o governo Dilma Rousseff, entre 2012 e 2015.

“Acontece que aquele choque de inflação, ele foi gerado fundamentalmente com juros real entre 2% e 3% entre 2012 e 2013. O que a gente tem hoje, na verdade, é um juros real de 10%, de dois dígitos. Esse nível é um nível de juros real que a gente não vê há 20 anos”.

Ele aponta como maior preocupação a redução no ritmo da economia e do Produto Interno Bruto (PIB) que esse juro deve causar. Na visão dele, isso ainda não está precificado pelo mercado.

Já Azevedo, embora também aponte preocupação com a desaceleração na economia, vê um ponto de alerta no avanço da desancoragem nas expectativas de inflação. Vale lembrar que as projeções para o IPCA vem subindo nas divulgações do Relatório Focus.

Para ele, o dilema do fiscal sobre as contas públicas e o contexto político são agravantes dessa situação.

O tópico “dominância fiscal” também foi abordado pelos ex-diretos do BC no painel. Os termos se referem a um cenário de crise fiscal, em que as medidas para contê-lo, inclusive o avanço dos juros, não dão conta da inflação.

Para eles, o Brasil ainda não está nessa situação, mas ela está no horizonte e pode se concretizar se nada for feito.

Repórter
Formada em jornalismo pela Universidade Nove de Julho. Ingressou no Money Times em 2022 e cobre empresas.
lorena.matos@moneytimes.com.br
Formada em jornalismo pela Universidade Nove de Julho. Ingressou no Money Times em 2022 e cobre empresas.