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O salto da Monkey na bolsa de R$ 400 bi que pode multiplicar por 5

03 out 2017, 15:49 - atualizado em 05 nov 2017, 13:54

Money is key. Ou, na ponta da língua de um pequeno fornecedor de uma grande multinacional: dinheiro é a chave do negócio. A frase sintetiza o projeto da Monkey Exchange, que nasceu em maio de 2016 criando uma plataforma digital para conectar vendedores e compradores de duplicatas em um sistema de leilão em tempo real. Pouco mais de um ano depois, a empresa contabiliza volume de R$ 2 milhões ao mês nessa bolsa de recebíveis e prevê, em cinco anos, trocar o M pelo B e girar R$ 2 bilhões.

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Um número até certo ponto conservador, segundo Bruno Oliveira, sócio-fundador da Monkey que falou ao Money Times sobre o potencial do mercado. “Considerando tudo que fica com os grandes bancos, bancos médios, FIDCs e factorings, já é um mercado de R$ 400 bilhões. Estimativas do Banco Central apontam que o mercado potencial no curto prazo é de R$ 1,9 trilhão”, disse em entrevista, por telefone, no fim de setembro.

“Estamos construindo a primeira bolsa de crédito do Brasil. São fornecedores de grandes empresas que precisam de capital de giro e obtêm isso por meio de desconto de recebíveis”, afirma o sócio-fundador da Monkey, empreendedor que trabalhou em companhias dos setores de tecnologia e telecomunicações.

Em sintonia com a mudança de endereço, no mês passado, para acomodar o aumento do número de funcionários, a Monkey recebeu uma boa notícia com a aprovação da Medida Provisória 775, que deu origem à Lei 13.476. A nova regulamentação obriga o registro de bens constituídos em todas as operações realizadas no mercado financeiro (hoje só é exigido para ações e mercado interbancário), consolidando o potencial de formalização do desconto de duplicatas.

Para Oliveira, isso tende a atrair a B3 ao mercado, eventualmente como uma parceira da Monkey, registrando as operações ligadas à antecipação de recebíveis. “Provavelmente a Cetip vai querer entrar, o que será ótimo.”

Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista:

Como funciona o serviço da Monkey?

Vou exemplificar. Imagine uma multinacional do setor de bebidas que tem 15 mil fornecedores. Nós criamos um programa de antecipação de recebíveis junto a ela. Nosso sistema se integra ao ERP financeiro da multinacional e lê todo o contas a pagar. A partir daí temos a informação de tudo que a empresa tem a pagar para toda a cadeia de fornecedores. Em um segundo passo, quando cada fornecedor da multinacional entrar na plataforma vai enxergar tudo que tem a receber. A dinâmica de mercado entre grandes clientes e fornecedores é uma questão de prazo de pagamento. A multinacional não paga o fornecedor à vista. O fornecedor de tampinha vende um lote e ela vai pagar em 90, 120, 180 dias. O fornecedor de tampinha, por sua vez, precisa de crédito para tocar a operação, não pode esperar o prazo. Então ele poderá visualizar na plataforma os títulos que têm a receber da multinacional. Vai selecionar o que deseja antecipar e criar uma oferta que aparecerá para os investidores, como um grande homebroker de crédito.

Em um sistema de leilão, os investidores vão disputar os títulos. Quando o investidor faz uma proposta que bate com o valor solicitado pelo fornecedor, a transação é finalizada. A plataforma também se encarrega de formalizar a transação. Emitimos toda a documentação daquela cessão e recolhemos a assinatura digitalmente. Já passamos a instrução de pagamento para o investidor pagar diretamente ao fornecedor. Depois, no vencimento do título, a multinacional (a figura do sacado na operação) vai pagar diretamente para o investidor em vez de pagar o fornecedor (que cedeu os títulos ao investidor). A plataforma cuida de todo esse fluxo.

A principal vantagem do modelo é permitir que, por menor que você seja como um fornecedor de uma multinacional, você conseguirá acessar um crédito (desconto de duplicata) com uma taxa de desconto (juro) muito menor. Por quê? Primeiro porque o investidor avalia como uma taxa de juros que pagaria por títulos da multinacional e não do fornecedor. A multinacional está dando o aval à operação. Ela assina um acordo com nossa plataforma no qual ela não só permite a antecipação aos fornecedores, como também se compromete a pagar diretamente aos investidores quando aquela cessão ocorrer. Para o investidor, é o risco da multinacional, e não do fornecedor de tampinha. Assim, a taxa cai de forma brutal. E o segundo principal motivo é que se trata de um sistema de leilão, então cria uma competitividade dentre os investidores que disputam os títulos. Imagine que em nosso balcão, diariamente, haverá títulos de Coca-Cola, Telefônica, Localiza, GE, Nestlé. Como investidor, você tem um desafio de originação, de conseguir bons ativos para sua carteira, ao seu FIDC [Fundo de Investimento em Direito Creditório]. Se for interessante, vai brigar pelos títulos da multinacional em uma competitividade que também tende a derrubar as taxas.

Acaba sendo um jogo de ganha-ganha. Fornecedores acessam uma linha de crédito a uma taxa muito mais reduzida, digitalmente, com segurança, e o melhor: com aprovação do cliente dele com relação à antecipação.

O acesso a crédito é realmente difícil a pequenas empresas.

Exatamente. Vou pegar um caso real. Já tivemos clientes fornecedores que mostraram que antes da plataforma pagavam uma taxa de juro de desconto de duplicata de 8% ao mês. Um valor inacreditável. Na plataforma conseguiu pagar taxas de 1,5%, 1,8%, 2% ao mês. É uma queda significativa. E de forma mais simples, sem burocracia. Se você já tem uma linha junto a um banco permaneça com essa linha da melhor maneira possível e pense a plataforma como uma linha complementar, adicional àquela que você já tem.

Para a grande empresa, o sacado, a principal vantagem é fomentar a cadeia de fornecedores. Estamos falando aqui de uma plataforma de supply chain finance. Qual a importância? Ficamos no exemplo da multinacional acima. Se o fornecedor da multinacional está com problema de capital de giro, potencialmente ele pode atrasar a entrega de produtos ou entregar com uma qualidade inferior e isso, consequentemente, vai afetar a operação da multinacional. É importante que toda a cadeia de supply chain dela esteja saudável financeiramente. 

E para os investidores é uma grande plataforma de originação. Uma grande bolsa na qual eles podem acessar ativos que não encontrariam facilmente no mercado, tudo de forma digital.

Como ocorre a remuneração da Monkey?

A remuneração é somente sobre as transações. Não cobramos uma taxa para implementar o programa. É 100% no sucesso. Um percentual que varia de 0,05% a 0,15% (depende da negociação), só se ocorrer transação. Se não ocorrer, aquele fornecedor não terá custo algum com a plataforma. É uma taxa que consideramos baixa. Nosso objetivo é ganhar no volume.

Somos procurados pelas três pontas. Fornecedores, investidores e grande empresas. Mas temos um foco claro de, comercialmente, atacar as grande empresas. Como estamos construindo um produto que é 100% risco sacado, que precisa obrigatoriamente da anuência da grande empresa, não adianta procurar os fornecedores. Precisa convencer a grande empresa e aí sim fazer o fomento da cadeia dela.

A Monkey já tem quantos clientes?

Temos um pipeline de negociação com grandes empresas que hoje já está batendo em torno de 140 companhias. Todas de grande porte e em diferentes estágios de negociação: algumas ainda em discussão comercial, outras em integração tecnologia e outras em discussão jurídica.

Temos duas empresas com autorização e contrato assinado que podemos divulgar o nome, ambas de capital aberto. Uma é a Localiza, maior locadora de veículos do Brasil, e a outra é o grupo Dimed, proprietário da maior rede de farmácias do Sul do Brasil, a Panvel.

E quanto ao número de investidores?

Imaginávamos que teríamos um duplo desafio na companhia. Trabalhamos com empresas e investidores, a oferta e a demanda. Quando começamos a conversar com gestores de fundos, percebemos que a receptividade foi bastante positiva. Começamos a angariar comprometimento de investimento de gestores a uma velocidade elevada. Hoje, para você ter uma ideia, temos cerca de 15 investidores, gestores de fundos já fechados conosco, com um patrimônio comprometido para investir nesse tipo de crédito estruturado na casa dos R$ 2 bilhões. É até uma situação muito mais positiva do que imaginamos no início.

Há uma contribuição dos ventos macroeconômicos mais favoráveis?

Ajuda um pouco a confiança em termos econômicos que temos observado, principalmente nos últimos seis meses. O apetite tem aumentado. Mas é algo que mesmo no ano passado quando começamos o projeto já notávamos que havia espaço e apetite. Por mais que estivéssemos em um momento econômico mais duro, os gestores estão justamente correndo atrás de boas opções de investimento.

Qual é o tamanho desse mercado, dessa bolsa de antecipação de recebíveis no Brasil?

Considerando tudo que fica com os grandes bancos, bancos médios, FIDCs e factorings, já é um mercado de R$ 400 bilhões. Estimativas do Banco Central apontam que o mercado potencial no curto prazo é de R$ 1,9 trilhão, baseado em tudo aquilo que teria disponível em termos antecipação de recebíveis em toda a cadeia de supply chain de todas as empresas de todos os setores do Brasil. Então o mercado já é gigante, uma super oportunidade para montarmos essa bolsa, estruturarmos esse balcão. E o potencial é ainda mais interessante: pode facilmente se multiplicar por cinco no curto prazo, segundo o próprio Banco Central.

A partir desta perspectiva, como a Monkey se vê daqui cinco anos?

O primeiro ano de operação foi muito legal porque serviu para lançarmos a primeira versão da plataforma, começar a prospectar os primeiros clientes e a primeira leva de investidores. Nossa ideia é, nos próximos seis meses, transacionar algo em torno de R$ 10 milhões ao mês (hoje giramos, aproximadamente, R$ 2 milhões), começando em uma curva relativamente conservadora, e crescendo gradativamente conforme trazemos mais empresas para esse balcão.

Eu diria que, em um prazo de cinco anos, sendo até certo ponto bem conservador, temos um potencial de ter uma bolsa de recebíveis girando tranquilamente algo em torno de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões. É um mercado que não estamos, necessariamente, competindo com quem já atua nele. Ao contrário. Bancos, gestores de fundos, factorings podem acessar a plataforma normalmente na ponta investidora. Queremos oferecer um balcão digital, formal, para que ele faça a originação das operações que estamos criando dentro do balcão. Somos um agente facilitador. 

A Monkey pode trilhar um caminho semelhante ao feito pela Cetip (hoje B3) na parte de certificação?

Já tivemos algumas vezes com o pessoal da B3 discutindo nosso modelo. A Medida Provisória 775 que virou lei, promulgada agora, é uma ótima noticia. Em resumo, antes dessa lei, você era obrigado a fazer o registro do gravame de operações financeiras ligadas a valores mobiliários ou operações interbancárias. A partir dessa MP, o Banco Central obriga para que qualquer operação dentro do mercado, incluindo a operação de duplicata, seja registrada em alguma entidade previamente homologada pelo Banco Central, que pode ser, por exemplo, a Cetip. Isso vai formalizar o mercado de recebíveis. Ou seja, ao ter uma cessão de crédito registrada em uma Cetip, por exemplo, o investidor conseguirá, antes de comprar aquele crédito, verificar se já foi negociado em outro balcão ou se, por exemplo, aquela nota que vincula aquele recebível foi cancelada. Vai tornar o mercado ainda mais seguro e formal. Quanto mais formal o mercado, maior o apetite de investidores e até de vendedores de títulos para realizar as operações.

Potencialmente, a B3 pode ser uma parceira nossa porque estará registrando todas aquelas operações ligadas à antecipação de recebíveis.