Preço do milho atinge maior patamar desde 2022; como ficam suínos e frango?

Mesmo perdendo força no começo desta semana, os preços do milho atingiram o patamar de R$ 90 por saca em Campinas (SP), segundo o Indicador Esalq/BM&FBovespa, maior patamar nominal desde abril de 2022.
As altas interna nos preços fizeram com que o governo promovesse uma isenção para os impostos de importação do grão para tentar aliviar a oferta doméstica.
Segundo Raphael Bulascoschi, analista de inteligência de mercado na StoneX, alguns motivos que explicam a alta dos preços ficam por conta das exportações bastante aquecidas neste começo de 2025.
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O total exportado de milho até a terceira semana de março somou cerca de 820 mil toneladas, quase o dobro da 427,3 mil toneladas registradas em todo o mês no ano passado, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Tanto a demanda externa como interna do grão estão aquecidas.
“No final das contas, o que vai determinar o quanto vamos exportar em 2025 fica para a colheita da safrinha, que concentrar a maior parte do ciclo anual do milho. Dito isso, temos um cenário mais apertado de oferta, que reflete nos preços, justamente porque contamos apenas com os estoques de passagem do ano passado e a colheita da primeira safra”.
Entre os outros fatores que colocam pressão nos preços, está o avanço dos projetos de etanol de milho e aumento do confinamento do gado. No fim de 2024, a desvalorização do real tornou o milho mais atrativo no mercado internacional.
O clima para o milho
Bulascoschi ressalta que a safrinha, que responde por cerca de 80% da produção do milho, se desenvolve bem, mas que há grandes preocupações.
“O plantio foi realizado em uma janela um pouco mais atrasada em comparação aos últimos anos, justamente por um atraso da colheita da soja. Com isso, abril será um período crucial do desenvolvimento de boa parte das lavouras, e as previsões indicam um clima um pouco mais seco que o normal, o que é um risco para a safra do Brasil e serve como suporte de preços”.
Os efeitos das tarifas de Trump
Com relação às tarifas de Donald Trump, o México, principal importador de milho dos Estados Unidos, e o Canadá, grande comprador do etanol norte-americano, podem ser afetados. As medidas devem entrar em vigor em 2 de abril.
“Como o etanol dos EUA é produzido majoritariamente a partir do milho, as tarifas poderiam prejudicar tanto a exportação do grão quanto a do combustível, o que inspira cautela. A China já vem há alguns anos reduzindo suas compras dos EUA e voltando suas aquisições mais para Ucrânia e Brasil, e esse contexto tarifário gera pressão nos preços em Chicago”, diz.
Apesar disso, o analista lembra que das 380 milhões de toneladas de milho que os EUA produzem, 100 milhões são destinados para o etanol do país e outros 100 milhões de toneladas para alimentação animal interna.
“Apenas 60 milhões de toneladas são exportadas por eles, então o milho é menos suscetível às tarifas. Neste começo de demanda forte, os agricultores dos EUA se preparam para o famoso ‘Spring Planting’ (plantio de Primavera). Estamos vendo os agricultores plantarem uma área maior de milho, o que limita um pouco as altas, o que explica a dificuldade do milho em ultrapassar US$ 5 em Chicago (CBOT), operando em torno de US$ 4,7”.
O mercado segue atento aos dados de intenção de plantio do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) que serão divulgados em 31 de março.
A preocupação para frango e suínos
Wagner Yanaguizawa, analista de proteína animal do Rabobank, comenta que os custos da alimentação animal devem ficar mais estabilizados com a entrada da safrinha do milho no mercado.
“O aumento dos preços do milho tem preocupado. Para o mercado do boi, não vemos grandes reflexos porque o confinamento fica mais para o segundo semestre e nós identificamos produtores bem posicionados. O ponto de atenção fica com as concorrentes, como frango e suínos, já que o milho é um custo importante dos produtores”