Colunista Vitreo

O que você precisa saber nesta volta do feriado com sabor de especial

03 nov 2021, 8:47 - atualizado em 03 nov 2021, 8:49
Pedindo para o mercado se acalmar enquanto espera pela reunião do Fed / Os Suspeitos (2013)

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Bom dia, pessoal!

Na volta do feriado de ontem (2), a Bolsa brasileira teria um catch-up para fazer, no sentido de que as Bolsas em Wall Street voltaram a renovar seus respectivos recordes históricos.

A leitura internacional é que o resultado da reunião do Federal Reserve, a ser anunciado hoje às 15 horas, foi antecipadamente bem digerido pelo mercado, que já precificou o início de “tapering” (o Fed alinhou as expectativas nos últimos meses).

Ainda assim, nesta manhã, acordamos com os mercados asiáticos fechando com uma performance não tão agradável, enquanto as Bolsas europeias não operaram em um único tom, optando por cautela na véspera do movimento da autoridade americana.

Os futuros nos EUA operam perto da estabilidade, sem sentido definido enquanto aguardam a decisão oficial.

O Brasil, por sua vez, apesar de também participar dessa dinâmica global, tem seus próprios demônios a enfrentar, a começar pelo cenário de deterioração fiscal e de estagflação para 2022, que impôs perdas aos ADRs durante o feriado.

A ver…

Na expectativa pelos precatórios: será que sai?

O grande desafio na agenda brasileira é a tentativa de votação da PEC dos Precatórios na Câmara, que precisa de 308 votos para passar.

Antes de tentar emplacar a pauta, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), almoça com líderes partidários para discutir votos sobre o tema.

Em seguida, até de noite, o Legislativo deverá tentar colocar o texto para ser votado no primeiro turno em Plenário.

Se não passar, o governo terá que trabalhar com outra ferramenta para o auxílio do ano que vem, como se valer do estado de calamidade.

O movimento é péssimo para a já deteriorada situação fiscal brasileira, que vem se agravando muito nos últimos meses, sem solução aparente, pelo menos por enquanto. Mais sobre isso deverá ser traduzido na ata do Copom, a ser divulgada na manhã de hoje.

O Banco Central do Brasil foi vocal em sua última atuação, ao elevar a taxa de juros em 150 pontos-base e contratar mais uma elevação de mesma magnitude para o final do ano.

A resposta virá pela política monetária, apesar de esse movimento prejudicar o crescimento prospectivo.

Mais recordes no fechamento

Os índices de ações americanos registraram novos recordes no fechamento de ontem (2).

O S&P 500 e o Dow Jones Industrial Average subiram cerca de 0,4% cada, enquanto o Nasdaq avançou 0,3%. Com o movimento, o índice Dow Jones ultrapassou o patamar 36 mil pontos pela primeira vez na história.

Agora, apesar de se sustentar pela temporada de resultados nas últimas semanas, que tem vindo muito boa até aqui, por sinal, o próximo passo para os investidores é o anúncio da política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto, seguido pela tradicional coletiva de imprensa com o presidente do Fed, Jerome Powell.

O Fed deverá anunciar nesta quarta-feira (3) uma redução de US$ 15 bilhões nas compras mensais de títulos do Tesouro e hipotecas.

Diminuir esse ritmo significa a conclusão do programa até meados de 2022, movimento que já foi embutido nas expectativas dos investidores.

Ainda mais interessante será saber as opiniões dos membros do comitê sobre a inflação no momento.

Por isso, será importante saber se a autoridade continuará ou não a usar a palavra “transitória” no que diz respeito à inflação, já que dados recentes têm mostrado aumentos persistentes nos preços da economia.

Que o “tapering” comece

A inflação está subindo em sua velocidade mais rápida em três décadas e não dá sinais de desaceleração.

Para ilustrar isso, a medida preferida do Fed para a inflação dos EUA, o índice de Despesas de Consumo Pessoal (PCE), mostrou que a inflação saltou 4,4% no ano até setembro, o maior salto desde 1991. Excluindo os custos de alimentos e energia, os preços subiram 3,6%.

Com isso, os investidores apostam que, após meses de especulação, o Federal Reserve começará a reverter a compra de títulos com o objetivo de ajudar a economia durante a pandemia.

Eles esperam que as compras de ativos sejam reduzidas em US$ 15 bilhões a cada mês, com o processo de redução gradual terminando entre junho e julho de 2022.

O grande debate agora deverá ser o de quando o Fed poderia começar a aumentar as taxas de juros.

Para isso, os próximos meses são críticos para avaliar se os altos números da inflação que vimos são transitórios.

Se a inflação continuar alta durante o restante deste ano, poderemos ter alta dos juros já na segunda metade de 2022.

Nessa dinâmica, o uso da palavra “transitória” para se referir à inflação será observado com lupa. Retirar essa palavra do roteiro do Fed implicaria em um BC potencialmente mais agressivo, o que poderia abalar os investidores e desequilibrar a ponta inicial da curva de juros, sensível às taxas.

Anote aí!

Na esteira do anúncio do Federal Reserve nesta quarta-feira, o Banco Central da Europa (BCE) coloca seus membros para falar hoje – são pelo menos seis oradores marcados para o dia, incluindo a presidente do BCE, Christine Lagarde.

Por falar na Europa, o mercado digere por lá a taxa de desemprego da Zona do Euro para o mês de setembro (ficou em 7,4%).

Nos EUA, além da decisão de política monetária, contamos com pedidos das fábricas por bens duráveis ​​para setembro, bem como a estimativa da folha de pagamento da ADP (relatório sobre criação de empregos no setor privado em outubro).

Resultados corporativos do dia incluem CVS, Marriott, Etsy, Fox Corporation, Hyatt, Qualcomm, Booking Holdings, Electronic Arts e Take-Two.

No Brasil, acompanhamos a agenda de Brasília, sem nos esquecermos de avaliar também a ata do Copom, divulgada agora de manhã, e os dados da balança comercial do mês de outubro, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.

Muda o que na minha vida?

O mercado precificou muito bem o “tapering” nos últimos meses, fazendo com que os investidores não temessem a diminuição dos estímulos prevista para ser anunciada hoje.

Em partes, isso também se justifica, pois há um entendimento de que as economias americana e global não precisam de tanta liquidez em dólares.

Com isso, o cronograma deverá ser o seguinte: começar o tapering em novembro de 2021 com anúncio final do movimento marcado para maio de 2022 e redução final implementada em meados de junho, dias antes da reunião do Fomc.

Contudo, se houver um aumento na agressividade do tom do Fed, este cronograma poderá sofrer alterações, principalmente devido aos picos de inflação, que gerariam um Fed mais “hawkish” (contracionista).

Em sendo o caso, o Fed já poderia subir três vezes a taxa de juros em 2022 a partir de julho.

Este cenário é relevante, pois há pouco tempo o consenso era que os aumentos das taxas não começariam antes de 2023.

Em sendo o caso, o processo de redução gradual provavelmente será mais rápido do que o previsto por consenso, terminando em abril.

De todo modo, por enquanto, o mercado parece preparado para o ajuste inicial de hoje.

O mercado acredita que os índices de ações poderão tolerar este aperto monetário, pois o excesso de liquidez permanece amplo e os resultados corporativos devem sustentar os múltiplos pelos denominadores.

Um abraço,

Jojo Wachsmann

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