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O que você ainda não leu sobre o reajuste feito pela Petrobras (e que é bom saber)

25 mar 2022, 15:28 - atualizado em 25 mar 2022, 15:32
Alta do preço da gasolina e do diesel pela Petrobras (PETR4) encurtam defasagem
Foco nos fundamentos: reajuste dos combustíveis pela Petrobras reduziu defasagem de 45% para 4%, observa Pedro Serra (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

Nos últimos dias, um dos assuntos mais comentados no mercado é o aumento de preços auferido pela Petrobras (PETR3; PETR4). Alvo de escrutínio por uma série de classes, o reajuste foi primordial para diminuir a defasagem, que na gasolina beirava os 45%, o maior percentual desde a implantação da política de paridade de preços, para 4%, o que pode ser considerado uma paridade técnica.

Muitos dos que criticam a política de paridade de preços, pilar fundamental no plano de recuperação financeira que Petrobras vem executando desde 2017, se baseiam no fato do Brasil produzir petróleo em quantidade superior ao que consome, o que é verídico.

Entretanto, o país não tem condição de processar a totalidade do óleo produzido internamente em função das características técnicas das nossas refinarias e, mesmo que pudesse, toda a cadeia (contratos etc.) está atrelada ao dólar e ao preço do petróleo, ou seja, mesmo que o petróleo seja extraído aqui, boa parte do seu custo de operação está em dólar, sem contar a estrutura financeira junto aos bancos que, em boa parte, também são realizadas com instituições estrangeiras.

De uma maneira geral, o preço da gasolina na ponta é fruto do preço nas refinarias, do dólar, dos custos com etanol, dos impostos e dos ganhos dos distribuidores. Uma melhora conjuntural no preço final envolve uma reforma tributária, a revitalização do segmento de refino (como a privatização do setor) e a manutenção de uma estabilidade por parte do país que torne o câmbio, fruto de uma série de variáveis exógenas à atividade óleo & gás, mais estável.

Na impossibilidade de alcançar tais práticas no curto prazo, acredito que a melhor forma de se encontrar um equilíbrio entre os aumentos externos causados pelos choques externos e a saúde financeira da Petrobras seja através de uma discussão com a sociedade sobre a destinação dos recursos oriundos dos dividendos da companhia.

Ademais, outras medidas que não alterem a estrutura da companhia e não signifiquem o término da política de paridade de preços alinhada à política internacional, da gestão otimizada de alocação de capital e de sua condição de remunerar adequadamente seus shareholders também tirariam a pressão sobre a atuação da companhia e não feririam sua saúde, diferentemente de medidas mais extremas, como um eventual congelamento de preços.

Ajuste da Petrobras se ateve aos fundamentos

Historicamente a Petrobras desempenhou papel importante na nossa economia com os seus investimentos. Isso se intensificou na década de 2010 mas, como ficamos sabendo mais tarde com as revelações da Operação Lava Jato, esses investimentos não geravam retornos financeiros para a estatal e a conta, mais tarde, acabou aparecendo.

Atualmente, a empresa gera caixa, possui investimentos com altos retornos e o seu endividamento está em nível saudável, portanto interferências em sua gestão podem reverter esse quadro negativamente.

O tema é evidentemente sensível e envolve uma série de stakeholders no país. De fato, qualquer solução de curto prazo para o tema envolve uma alta dose de complexidade, sendo que em ano de eleição, os ânimos tendem a ficar ainda mais exacerbados.

O que é importante para o investidor perceber é que, com o aumento de preços realizado em 11 de março, a Petrobras apenas se ateve ao fundamento e cumpriu aquilo que a sua política de preços atual rege. Ainda que os próximos passos sejam um tanto imprevisíveis, o sinal enviado pelo management da companhia foi positivo, o que infelizmente, não significa que os próximos capítulos da história também sejam.

Isto explica o porquê ainda preferimos ficar de fora de pares estatais e porque Petrobras segue negociando com um desconto frente aos pares, mesmo entregando excelentes resultados financeiros ao longo dos últimos trimestres. Resumindo, quando o assunto é Petrobras, o medo do futuro fala mais alto que os resultados até então alcançados.

Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.

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