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O que trava a assinatura do acordo União Europeia-Mercosul?

02 dez 2024, 16:19 - atualizado em 03 dez 2024, 10:56
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(iStock.com/iantfoto)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na última quarta-feira (27) que espera que o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia seja assinado até o fim deste ano. Ainda assim, o tema encontra muita resistência por parte do lado europeu.

Recentemente, o Brasil coleciona conflitos com empresas da França, como Danone, Carrefour (CRFB3) e Tereos.

Na semana passada, o CEO da Tereos, Olivier Leducq, havia criticado o acordo e questionou a concorrência desleal com os produtores agrícolas europeus. Apesar de recuar sobre a fala, Leducq mantém sua visão de que o acordo é prejudicial aos agricultores da Europa.

Já o CEO Global do Carrefour, Alexandre Bompard, disse que não iria comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul. A fala levou frigoríficos como a  Minerva Foods (BEEF3), JBS (JBSS3)Marfrig (MRFG3) e Masterboi a interromper seu fornecimento de carne ao Carrefour. O boicote levou o grupo a recuar na sua postura, lamentar ter “colocado em dúvida sua parceria com a agricultura brasileira”

E no final de outubro, foi divulgada uma nota da Danone e de outras empresas do setor europeu que optaram por interromper a aquisição de soja do Brasil. A medida foi vista como desproporcional pelo Ministério da Agricultura e gerou atrito dentro do setor produtivo.

O que impede o acordo entre Mercosul e União Europeia?

De acordo com pesquisador da FGV, Leonardo Munhoz, o que impede o acordo entre Mercosul e UE de avançar fica por conta do setor rural europeu, principalmente da França.

“Desde 1999, os parlamentares franceses fazem pressão para o acordo não se concretizar, isso porque o agro europeu, em especial da França, sempre foi muito protegido por subsídios e nunca foi muito competitivo com um ambiente de livre-comércio. O acordo representaria uma maior competição externa, o que causa insegurança para o setor na Europa”, diz.

Segundo Munhoz, as declarações de empresas francesas sobre o setor no Brasil não contam com embasamento técnico. Para ele, dizer que falta sanidade ambiental e sanitária ao Brasil é apenas uma desculpa para tentar cimentar barreiras protecionistas.

“Caso o acordo seja aprovado, o agro brasileiro vai ganhar com isso, enquanto as empresas que produzem insumos na Europa vão ganhar com o agro do Brasil, já que não produzimos insumos aqui. Tudo isso somado, para o futuro, precisamos melhorar questões como combate a desmatamento legal, implementação do Código Florestal e a rastreabilidade dos produtos”.

A legislação ambiental brasileira

Leandro Gilio, professor e pesquisador especializado em agronegócio no Centro de Agronegócio Global do Insper, reforça que o agro brasileiro atende os mais altos padrões de exigência e excelência internacional em sanidade e qualidade, exportando para 200 países.

“Com relação à área ambiental, ainda temos vários pontos a melhorar – isso é notório -, mas a maior parte do agro brasileiro, notadamente o agro exportador, segue o Código Florestal Brasileiro – um dos mais restritivos do mundo -, e não necessita abrir áreas florestais para se expandir”.

Daniel Vargas, professor da escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, explica que a sustentabilidade é uma corrida por qualidade e em sua visão, não podemos perder a perspectiva da realidade.

Ele recorda que o Brasil conta com 81% de sua matriz energética renovável, enquanto a Europa tem 17% (se incluirmos o gás natural, 41%).

“O Brasil possui 66% do território em vegetação nativa, 1/3 disso dentro da propriedade, e a Europa, 4% (se incluirmos replantio, em torno de 40%). Lá, o produtor preserva 4% da propriedade, mediante pagamento. Aqui, o produtor protege de 20% a 80%, sob o seu risco exclusivo. Temos nossos defeitos e precisamos combatê-los, mas somos muito mais exemplo do que problema”, explica.

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo.