O que sustenta os preços do milho no mercado internacional, segundo o Itaú BBA
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A oferta global restrita de milho sustenta os preços em Chicago (CBOT). No ciclo 2024/2025, a expectativa é de uma redução dos estoques globais, com menor produção dos Estados Unidos e um crescimento da demanda mundial, segundo o Itaú BBA.
Segundo o USDA, a safra americana em 2024/25 foi de 378 milhões de toneladas, contra uma produção de 390 milhões de toneladas em
2023/24, a maior da história, o que acaba sendo determinante para a redução de 1% da produção mundial do cereal.
Apesar da expectativa de crescimento da demanda abaixo da média dos últimos 5 anos (2% da média versus 1% para 2024/25), os estoques devem apresentar baixa importante, de cerca de 25 milhões de toneladas sobre a safra anterior, o que traz a relação estoque/consumo global para 24%, o menor nível desde a temporada 2013/2014.
Ainda no cenário internacional, a Argentina, terceiro maior exportador, tem sofrido com problemas climáticos em fase importante do desenvolvimento da cultura no campo.
Desde a virada do ano, as chuvas vêm acontecendo de forma irregular sobre as áreas produtoras do país, o que trará prejuízos para a
produção.
O USDA já ajustou para baixo, em 1 milhão de toneladas, a safra argentina em relação à expectativa inicial, passando de 51 para 50 milhões de toneladas. Entretanto, agentes do mercado e mesmo fontes do próprio país projetam uma safra menor, mais próxima de 45 milhões de toneladas.
Embarques dos EUA seguem elevados e trigo como substituto
Além dessas questões, as exportações americanas permanecem robustas, com o milho dos EUA mantendo-se como a opção mais barata no mercado internacional.
A projeção do USDA é de que as exportações americanas alcancem 62,2 milhões de toneladas na safra atual, maior volume desde 2021/2022.
Diante desse cenário, os fundos especulativos seguem com uma posição comprada elevada, ainda apostando na alta dos preços. Os fundos não formam o preço, mas acabam potencializando os movimentos tanto para cima quanto para baixo.
“E por último, saindo do milho e indo para o trigo, a situação do balanço de oferta e demanda é parecida, com enxugamento dos estoques globais. Embora o trigo seja substituto do milho nas rações e a relação de preços entre os dois esteja mais favorável ao trigo, dada a alta recente mais forte do milho, no cenário do trigo há preocupações com o aperto da oferta global devido ao clima no Hemisfério Norte, o que pode elevar a cotação do cereal”, apontam os analistas.
Dada a correlação de preços entre os dois grãos, a valorização do trigo acaba, de certa forma, servindo como um suporte adicional para as cotações do milho.
E o milho no Brasil?
O cenário internacional tem repercussão no Brasil, onde os preços apresentaram valorização e se mantêm em patamares elevados. Além do contexto externo, a situação interna adiciona um prêmio de risco aos preços domésticos: o estoque de passagem combinado à produção da primeira safra mantém o balanço interno apertado no primeiro semestre, oferecendo pouca margem para uma redução na oferta da segunda safra.
Apesar da expectativa de uma safra nacional maior em 2024/25, o consumo crescente deve se traduzir em redução dos estoques internos de milho.
“Esperamos um consumo da ordem de 88 milhões de toneladas (+5% ante 2023/24), capitaneado pelo aumento do uso do cereal para a produção de etanol, que deve crescer 20% sobre a safra passada, para 21,1 milhões de toneladas. As exportações podem voltar a apresentar algum crescimento em relação ao ano anterior, o que resultaria em queda para o estoque doméstico de milho”.
Clima e plantio adicionam prêmio de risco
De acordo com o BBA, o desempenho da segunda safra do cereal será fundamental para o comportamento dos preços. “O plantio avançou bem nas últimas semanas. Consideramos como janela ideal de plantio para o milho 2ª safra em Mato Grosso o período entre janeiro e meados de fevereiro. Porém, o milho plantado até o final de fevereiro ainda estaria numa janela favorável, mas já com maior possibilidade de redução do potencial”.
Ainda tomando como referência Mato Grosso, responsável por quase 50% da oferta de milho 2ª safra, outro fator crucial fica para concentração desse plantio, com grande parte da área sendo plantada num intervalo de poucas semanas, o que aumenta a atenção para as previsões climáticas de abril e maio.
No Paraná, outro grande produtor de segunda safra, o plantio alcançou 56% da área projetada e a germinação tem sido favorecida pela boa umidade do solo e temperaturas elevadas. Para o estado, a expectativa é de crescimento da área de milho e redução para a área de trigo.
Quanto ao clima, os modelos apontam para um processo de aquecimento do Pacífico, que deve caminhar de La Niña para a neutralidade nos próximos meses.
Em anos de clima neutro na transição entre o verão e o outono, as chuvas tendem a cortar mais cedo na faixa central do Brasil, fazendo com que, geralmente, as precipitações fiquem abaixo da média nos meses de abril e maio.
Outro reflexo dessa mudança do Pacífico é a possibilidade de entrada de massas de ar polar antecipadas, o que colocaria um ponto de atenção nas áreas de segunda safra do MS, SP e PR.
“Nesse momento, os mapas de projeção de chuva apresentam alguma divergência em relação às precipitações para abril: enquanto o modelo americano mostra um mês com desvio significativo para as chuvas, indicando volumes abaixo da média para a porção central do Brasil, o modelo europeu indica chuvas entre dentro a acima da média para a mesma região, o que gera ainda mais dúvidas sobre o desempenho das precipitações em um mês chave para as lavouras”.
Com isso, os preços internos do milho seguem apresentando um prêmio de risco, com os valores alcançando o maior patamar em quase dois anos. Adicionalmente, podemos citar o aumento do preço do frete e a hesitação dos produtores em comercializar o grão.
A questão logística para o milho
A dificuldade de logística se apresenta com a colheita da safra recorde de soja, o que levou a uma condição de falta de caminhões e aumento substancial do preço do frete. Soma-se a isso uma comercialização em ritmo ainda lento, com os produtores aguardando preços ainda mais altos. Esse cenário intensifica a escassez nos consumidores, deixando estoques em níveis baixos e preços valorizados.
A curva do milho na B3 apresenta formato invertido, ou seja, preços futuros menores que os preços atuais. Isso porque a maior parte da safra de milho do Brasil, cerca de 75%-80%, entra no mercado no segundo semestre.
Sendo assim, o desempenho da segunda safra será fundamental para que a expectativa de preços internos menores no segundo semestre de 2025 se confirme.
Além disso, outro fator que pode jogar a favor da desvalorização dos preços é a sinalização de que os americanos devem plantar mais milho e menos soja na safra 2025/26, diante da relação de preços mais favorável para o cereal.
“No dia 31 de março, o USDA divulgará o relatório de intenção de plantio, que pode confirmar a expectativa. A possibilidade de alguma resolução do conflito no Mar Negro também atuaria como fator baixista para os preços. Contudo, no curto prazo, os preços do milho devem seguir sustentados devido à conjuntura internacional, baixa oferta doméstica, demanda interna firme para carnes e etanol e à hesitação dos produtores em comercializar o grão.”