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O que são blockchains híbridos?

09 fev 2020, 11:00 - atualizado em 18 fev 2020, 9:24
Hibridez fornece uma solução pronta para o mercado que é muito mais adequada para empresas e governos muito regulamentados já que permite que estes tenham flexibilidade e controle sobre quais dados são privados e quais são compartilhados em um registro público (Imagem: Crypto Times)

Em 2018, na Blockchain Economy World Tour em Sydney, o doutor W. Scott Stornetta apresentou seu momento profético em desenvolver registro de data/hora digital, um dos componentes principais do bitcoin.

É importante entender que um dos elementos principais que compõe o blockchain veio de uma solução híbrida para o registro de data/hora digital de documentos: verificação descentralizada de hashes.

Para quem não sabe sobre o registro de data/hora digital, foi desenvolvido em 1991 por Stuart Haber e W. Scott Stornetta, cientista-chefe da First Digital Capital. O trabalho deles com registro de data/hora digital foi mencionado três vezes por Satoshi Nakamoto no whitepaper do Bitcoin.

Em sua apresentação, ele falou de seu momento genial, de como “fazer do mundo sua testemunha”. Ele explicou que se você não sabe em quem confiar em um ambiente controlado e centralizado, então a melhor proteção seria convidar o público geral a verificar que essa transação foi realizada.

A verificação descentralizada e pública e o registro de data/hora de um hash gerado é um dos principais elementos do bitcoin e do blockchain.

Outra observação importante em relação ao trabalho de Stornetta é que a verificação pública era usada para verificar, de forma pública, um hash que era gerado em uma rede privada. Era 1991 e o trabalho dele já pré-datava o desenvolvimento do blockchain.

Satoshi Nakamoto incorporou verificação pública descentralizada em uma moeda descentralizada, bitcoin. Assim, a maioria dos blockchains que seguiram o bitcoin também focaram em construir sobre um blockchain público.

Isso levanta a questão: um hash precisa ser gerado no blockchain público ou pode ser gerado em um blockchain privado ao usar uma contraparte pública exclusivamente para verificação?

Pode entrar, blockchain híbrido.

Blockchain híbrido oferece os benefícios tanto do blockchain público como do blockchain privado.

Primeiro, blockchain híbrido consiste do blockchain público (do qual todos os participantes fazem parte) e uma rede privada (também chamada de “rede permissionada” que restringe a participação para os que são convidados por um órgão centralizado.

Segundo, essa rede privada gera o registro (hash) das transações, que é armazenado e verificado no blockchain público. Os benefícios de blockchains privados incluem velocidade de transação, privacidade de dados/conteúdos e controle centralizado sobre o fornecimento de acesso ao blockchain.

Grandes empresas querem os benefícios que blockchains podem fornecer sem os riscos relacionados ao blockchain público, já que blockchain ainda é algo novo e está em evolução (Imagem: Money Times)

Blockchains híbridos fornecem uma solução de blockchain pronta para o mercado, que é muito mais adequada para empresas e governos muito regulamentados já que permite que estes tenham flexibilidade e controle sobre quais dados são privados e quais são compartilhados em um registro público.

Junto com as necessidades operacionais de intervalos de transações mais rápidos, segurança e recursos de auditabilidade (controle próprio) que não são adequados a blockchains públicos.

Grandes empresas querem os benefícios que blockchains podem fornecer sem os riscos relacionados ao blockchain público, já que blockchain ainda é algo novo e está em evolução.

Essa necessidade comercial por uma solução de blockchain resultou na criação de vários projetos focados em blockchain públicos/privados, como R3 Consortium, Hyperledger da IBM e Enterprise Ethereum Alliance.

Em um artigo da Fortune, publicado em fevereiro de 2017, vimos um entendimento dos benefícios de se adotar um blockchain híbrido pelo Bank of New York Mellon.

“Essa interconexão de blockchains públicos e privados cria uma rede muito forte”, afirmou Alex Batlin, líder de blockchain na BNY Mellon, em uma entrevista à Fortune. “Cada blockchain fortalece o outro em um nível exponencial.”

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XinFin se apresenta como uma rede descentralizada, híbrida, interoperável e líquida (Imagem: XinFin)

Blockchains híbridos em funcionamento:

Lançada em 2017, XinFin (XDCE) completou sua oferta inicial de moeda (ICO) em março em 2018, após lançar, com sucesso, sua primeira dApp: TradeFinex, uma plataforma comercial e financeira global.

XinFin é o primeiro blockchain híbrido e foi construído na Ethereum , um blockchain público, e Quorum, é uma versão da Ethereum com foco comercial desenvolvida pela JP Morgan da Enterprise Ethereum Alliance.

Sua rede híbrida funciona em um consenso de proof-of-stake delegado (DPoS) entre nós mestres confiáveis com contratos inteligentes e Internet das Coisas (IoT) sobre o protocolo. Isso permite que dados em tempo real sejam atualizados no blockchain.

Ainda é cedo para que a XinFin, mas já completaram vários testes-piloto sobre logísticas de cadeia de fornecimento, aviação, recursos humanos, folha de pagamento, comércio internacional e acordos financeiros.

Ramco Systems, uma empresa global de desenvolvimento de software de US$ 1 bilhão, entrou em parceria com a XinFin para fornecer as soluções de blockchain híbrido para seus clientes a fim de implementar um blockchain de logística de cadeia de fornecimento.

Ripple é conecta bancos, fornecedores de pagamento e corretoras de ativos digitais para processar e fornecer liquidez para pagamentos (Imagem: Facebook/Ripple)

Ripple e XRP: estão indo em direção ao blockchain híbrido?

Lançada em 2012, Ripple está em terceiro lugar em capitalização de mercado na CoinMarketCap. O foco da Ripple é conectar bancos, fornecedores de pagamento e corretoras de ativos digitais para processar e fornecer liquidez para pagamentos através da RippleNet, uma variante de blockchain privado.

Stefan Thomas, ex-CTO da Ripple e cocriador do protocolo de pagamentos Interledger, publicou um artigo, no fim de 2017, sobre “A Morte da ICO (e outras 4 previsões)”. Uma de suas quatro previsões era “o Nascimento de Blockchains Híbridos”.

“Até agora, vimos uma proliferação tanto em blockchains públicos, como Bitcoin, e blockchains privados, como Hyperledger Fabric. No futuro, acho que veremos o surgimento de blockchains híbridos, que combinam o melhor dos dois mundos.”

Em julho do mesmo ano, Shivdeep Dhaliwal publicou uma newsletter com Marcus Treacher, chefe de Contas Estratégicas da Ripple, intitulada “Bancos Precisam de ‘Abordagem Híbrida para a Tecnologia Blockchain’: Marcus Treacher da Ripple”.

Será que as previsões de Thomas e Treacher sobre blockchains híbridos são uma dica de que Ripple poderá apresentar uma solução de blockchain híbrido para seus clientes no futuro próximo?

O trabalho de Stornetta de 1991 e 1997 pré-datava o blockchain e é baseado na premissa de que um hash gerado de uma rede privada precisa de verificação pública e descentralizada. Essa é a definição de blockchain híbrido.

Redes privadas fornecem o primeiro pequeno passo para empresas aderirem à tecnologia blockchain. Hibridez fornece a eles a próxima etapa sem que percam os benefícios das redes privadas.

As previsões de Thomas para a adesão de blockchain híbridos estão se tornando realidade.

Por David Freuden, conselheiro de blockchain no IIB Council of Blockchain Professionals e na XinFin