O que restará para equipamentos de mineração da Ethereum (ETH) após ‘The Merge’?
Lucros obtidos com a mineração da Ethereum (ETH) elevaram o preço de placas de vídeo (GPUs, na sigla em inglês) bem acima do preço de venda sugerido, no ano passado.
Agora, com a aproximação da conclusão de “The Merge”, a questão sobre o que acontecerá com essas máquinas e com os mineradores que as operam permanece em aberto.
Uma vez que o mecanismo de consenso da Ethereum mudar de proof-of-work (PoW) para proof-of-stake (PoS) – que deverá acontecer entre os dias 14 e 15 de setembro – mineradores da Ethereum não precisarão mais de GPUs para verificar blocos de transações.
Além disso, mineradores serão substituídos por validadores, os quais, ao invés de usar máquinas para mineração, precisam colocar 32 ETH (cerca de US$ 54 mil), no mínimo, em staking para ajudar na garantia da segurança da rede.
Diferentemente da mineração de Bitcoin (BTC), a qual se tornou mais industrial e consolidada, a maioria da rede da Ethereum ainda é feita de mineradores em pequena escala e individuais.
Esses provavelmente terão maior dificuldade em lucrar em outras moedas que usam PoW, como Ethereum Classic (ETC), Ravencoin (RVN) ou Ergo (ERG).
Com base na economia atual da rede, somente 100 terahashes por segundo (TH/s) da rede da Ethereum poderão “encontrar um lar” em outros blockchains, segundo estimativa de Ethan Vera, diretor de operações da Luxor, empresa que opera um pool de mineração da Ethereum.
O valor indica que, aproximadamente, 90% da rede “basicamente não teria uso para GPUs na mineração cripto”.
Dentro de um mercado mais competitivo pós-The Merge, Vera espera que somente aqueles com equipamentos altamente eficientes e acesso à energia elétrica barata poderão competir.
“Com base em nossa análise, acreditamos ser preciso ter menos de US$ 0,03 (por quilowatt-hora) e GPUs de nova geração”, disse Vera. “Qualquer um acima disso, o que é a maioria das áreas residenciais ao menos na América do Norte, teria dificuldades para competir”.
Mineradora canadense de Ethereum e Bitcoin, Hive Blockchain disse, na semana passada, que começaria a testar outras moedas mineráveis via GPU, conforme elabora estratégias para otimizar os 6,5 TH/s que tem atualmente como capacidade para mineração da Ethereum. Baseado no custo energético de US$ 0,03 por quilowatt-hora da empresa, Hive Blockchain disse estar “bem-posicionada para navegar o mercado adiante”.
Embora Hive já minere Ethereum Classic, a empresa não compartilhou detalhes sobre planos após The Merge. “Quais moedas e quando minerá-las será parte de nossa estratégia competitiva, então não compartilharemos essa informação”, disse a empresa via e-mail.
A mineração de criptomoedas via GPU representa 16% da capacidade energética total da Hive. “Se estiver claro que a mineração de BTC ganha substancialmente mais $/KWh (dólares por quilowatt-hora), nós buscaremos expandir a frota de BTC”, afirmou a mineradora canadense.
BIT Mining, que usa circuito integrado de aplicação específica (ASIC) ao invés de GPUs para minerar ETH, também está se mantendo reservada quando à estratégia usada.
“Parte do que torna o evento tão animador é a especulação que o antecede, o fato de que é possível sacudir todo o espaço e as muitas perguntas que permanecem sem resposta”, disse a companhia.
“Um possível resultado, à medida que The Merge se aproxima, é que nossas máquinas ASIC [para minerar] ETH possam ser transferidas para mineração de ETC, visto que usam o mesmo algoritmo”.
Minerar outras moedas ou ‘forks’
Conforme a taxa de hashes – poder computacional necessário para minerar uma rede – da Ethereum migra para outros blockchains após The Merge, a rentabilidade da mineração de outras criptomoedas provavelmente cairá.
O CEO da Bitpro, revendedora de GPUs usados, Mark D’Aria, disse ter havido um otimismo equivocado em relação ao futuro da mineração com GPUs e que a maioria de mineradores em baixa escala “desconhecem completamente o quão dependentes são da Ethereum”.
“Eles acreditam que irão só minerar outra coisa e que os lucros serão semelhantes. Mas, o fato é que a Ethereum é 95% da renda total”, disse ele.
“Todo o resto será absolutamente esmagado (…) O que os mineradores individuais vão tirar serão centavos quando costumavam ser dólares (…) e todo será praticamente não lucrativo até que pessoas comecem a desligar [suas máquinas de mineração]”.
Em um guia sobre o que minerar após The Merge, 2Miners – um pool de mineração da Ethereum – disse que escolher Ethereum Classic, Ravencoin e Ergo é a “estratégia mais segura após The Merge”.
Por outro lado, EthereumPoW – a potencial bifurcação (“fork”) da Ethereum – é considerada um “azarão”, disse 2Miners. “[EthereumPoW] não têm uma forte comunidade e os desenvolvedores não são ativos. Veremos em breve como isso ficará”.
BIT Mining disse que “no caso de fork bem-sucedido de ETH próximo de The Merge”, os mineradores da companhia estão preparados para continuar minerando ETH na rede bifurcada. “Essas são somente duas dos vários resultados possívels para os quais estamos preparados”, acrescentou.
Ethereum: Uma espiada no possível ‘fork’
liderado por mineradores da criptomoeda
E quanto à Ethereum Classic?
O pool de mineração 2Miners acrescentou que, “como uma moeda antiga e bem-conhecida, presente em quase todas as corretoras de criptomoedas”, ETC poderá crescer ainda mais.
Apesar de mineradores que deixarem Ethereum pela Ethereum Classic acrescentem valor ao ecossistema de ETC, Ethan Vera não acredita que será suporte suficiente para mais taxa de hashes. “É um longo caminho a percorrer para conseguir os outros 90%”, disse.
Promover a existência de um “ecossistema saudável” com aplicações de finanças descentralizadas (DeFi), NFTs e stablecoins desenvolvidos em cima do blockchain pode ser um meio para aumentar lucratividade, argumentou Vera.
“Recompensas são um interessante ponto de partida, mas, a longo prazo, você precisa incentivar as pessoas por meio da filosofia da rede, e a crença [em uma rede] vai além do financeiro. (…) Você quer uma rede em que as pessoas vêm e desenvolvem nela, ao invés de simplesmente serem pagas”.
É possível que determinadas criptomoedas, como Ethereum Classic e Ravencoin fiquem muito maiores, disse D’Aria.
“Isso nunca foi testado antes. Nada remotamente perto disso já aconteceu”, acrescentou. “Algumas pessoas argumentam que mineradores estão somente extraindo valor do sistema. Eles mineram as moedas que vendem imediatamente e levam o preço para baixo. Não acredito que seja esse o caso. Acredito que mineradores sempre foram um nível de suporte de base”.
O valor de Ethereum Classic subiu mais de 37% desde 24 agosto, quando as datas finais de The Merge foram anunciadas, e 140% desde a metade de julho, segundo dados do TradingView.
“Não acho que isso seja acidental”, disse D’Aria sobre o aumento de preço de ETC, que estava na casa dos US$ 38 no momento de publicação desta notícia.
Embora EthereumPoW seja outro concorrente para receber mineradores da Ethereum, D’Aria acredita que Ethereum Classic é que atrairá a maior quantidade de mineradores, dado que o fork da Ethereum está “mal preparado”.
Entre as maiores criptomoedas, mineradores esperam pouco mais de US$ 1 milhão em receita por dia, comparado a cerca de US$ 20 milhões por dia da Ethereum.
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O que farão pequenos mineradores?
Um minerador individual da Ethereum, que atende pelo nome daylon.eth no Twitter, disse ao The Block que planeja minerar ETC, RVN e, possivelmente, $FLUX e $ERGO, dependendo do quão lucrativa cada uma delas se tornar. Atualmente, ele paga US$ 0,08 por quilowatt-hora e “prioriza baixo consumo energético”.
“Comecei a minerar, porque gosto disso como um hobby. Lucratividade é a minha principal consideração, mas nunca vendi 99% dos ETH que minerei por moedas fiduciárias”, disse o minerador individual.
“Faço a mineração por hobby e não para me apoiar financeiramente, então, no pior cenário, irei vender meus GPUs depois. Preferencialmente quando/se houver outro mercado de alta para hardwares de mineração”.
Outro minerador individual, identificado pelo usuário j_crypto_2015, disse que planeja minerar Ethereum Classic, mas, definitivamente, não irá minerar tokens vindos de bifurcação – referindo-se a EthereumPoW.
“Se minerar ETC não for lucrativo, os equipamentos serão pausados. Porém, não irei vendê-los, porque definitivamente não serei somente eu enfrentando esse problema”, afirmou.
Sendo brutalmente honesto
D’Aria argumentou que muitos agentes da indústria têm pouco incentivo para serem brutalmente honestos sobre o futuro da mineração da Ethereum – desde canais no YouTube sobre mineração por GPUs até fabricantes de hardwares. “Eles não vão te dizer ‘em dois meses, isso provavelmente não terá valor’”.
O CEO da Bitpro acrescentou que a companhia publicou um artigo sobre a matemática envolvendo GPUs de mineração após The Merge e recebeu “uma reação extraordinariamente negativa”, com algumas pessoas acusando-os de serem pessimistas para fazer com que pessoas vendessem GPUs.
As recompensas para mineradores de GPUs pode cair até cinco vezes ou mais, disse um porta-voz da 2Miners – mas não 20 vezes, como alguns afirmam. “Esse tipo de queda manterá algumas instalações lucrativas. O resto sairá do mercado”, afirmou a companhia.
“O mercado de mineração cripto é autorregulado. Se há lucro, a mineração continua. Ninguém minera sem lucro”.
D’Aria estimou que existem cerca de US$ 10 milhões a US$ 20 bilhões em GPUs nas mãos de mineradores, com base na taxa de hashes, enquanto Vera aponta US$ 7,9 bilhões.
Contanto que o mercado para esses GPUs continue, D’Aria espera ver preços caírem de 5% a 10% por semana “durante algum tempo”.
“Pessoas que iriam vender seus GPUs já os venderam. Pessoas que iriam aguardar para ver a situação agora estão aguardando e vendo a situação”, disse o CEO da Bitpro.
“Minha caixa de entrada de e-mails irá provalvemente explodir no dia de The Merge e, repentinamente, todo mundo vai querer vender um milhão de GPUs e eu não saberei como precificá-los.”
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