Opinião

O que representa cada ponto do Ibovespa?

08 dez 2019, 12:12 - atualizado em 06 dez 2019, 11:45
Só em 2019, o índice acumula uma valorização em torno dos 22% (Imagem: Renato S. Cerqueira/Futura Press)

Por Vinicius Pacheco, graduando em Engenharia de Produção na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) – Para o Terraço Econômico

O mercado financeiro no Brasil tem muitos protagonistas, e sem dúvida, o Ibovespa é um deles.

Quem nunca ouviu o âncora do telejornal mais popular do país usar sua voz grave para noticiar: “A bolsa brasileira fechou a sexta-feira em… O Ibovespa variou […]”?

Mas você já parou para pensar o que realmente representa o Ibovespa e sua pontuação? Nesse ano, após o índice ter alcançado pela primeira vez – e permanecido – acima dos 100 mil, batendo máximas históricas em sequência, temos aqui um bom incentivo para fazer essa descoberta!

Porém, não se iluda. Quando o assunto é Ibovespa, quase tudo é possível, e os ganhos históricos que vem se repetindo nos últimos três meses, podem tornar-se no fóssil pré-histórico de amanhã. Na última semana, por exemplo, não houve recorde, mas apenas um recuo do índice, devido ao salto de valor do dólar (que é uma conversa para outra hora!).

I. Primeiro, o que é o Ibovespa?

Para tentar simplificar as definições que uma googlada nos daria, lembre-se: o Ibovespa é um indicador do mercado de ações. Ou seja, ele reúne o desempenho médio das cotações das principais ações negociadas na bolsa.

Portanto, quando o William Bonner noticiar que o Ibovespa cresceu na semana, isso significa que o nível médio dos preços das ações das empresas também subiram.

Para o mercado, o Ibovespa é um indicador de referência por vários motivos, que se amparam em sua tradição de 50 anos, pela transparência e por refletir muito bem as movimentações (liquidez) dos negócios realizados.

II.   Como o índice é composto?

Embora tenhamos definido o Ibovespa com base no preço das ações no tempo, ele também considera o impacto dos proventos (dividendos, juros sobre capital, etc) pagos pelas companhias aos seus acionistas. Por isso, dizemos que o Ibovespa é um Índice de Retorno Total.

Na prática, o índice é composto por uma carteira teórica formada por ações das companhias listadas e disponíveis para negociação (“free float”) na B3, que devem seguir alguns critérios como:

1) Não ser uma “Penny Stock” — com valor de cotação abaixo de R$ 1,00.

2) Deter participação igual ou superior a 0,1% do número das negociações à vista da bolsa.

3) Estar presente em 95% dos pregões (sessões de negociação) da bolsa.

Outros critérios também são considerados na avaliação com base no período de vigência de 3 carteiras anteriores, mas resumidamente, o Ibovespa busca reunir e reavaliar quadrimestralmente as ações das empresas de maior representatividade do mercado brasileiro. E possibilita após esse período alterações em sua composição nos inícios de janeiro, maio e setembro.

Porém, como já sabemos, no mercado há empresas mais valorizadas que outras. Dessa maneira, a carteira teórica do Ibovespa, atualmente com 68 empresas, precisa ser ponderada para que a participação dos ativos seja compatível ao que os investidores estão dispostos a negociar por eles.

Um exemplo que ilustra a ponderação da carteira são as ações do Itaú (ITUB4) — maior instituição financeira do país, que possui participação de cerca de 9,2% —  enquanto que a Via Varejo (VVAR3) — controladora das Casas Bahia e Pontofrio, tem apenas 0,540%. Contudo, vale ressaltar que a participação no índice das ações de uma companhia não pode exceder 20% do total.

III. O que representa os 100 mil pontos do Ibovespa?

Dada a definição e alguns dos critérios de composição do Ibovespa, a pergunta que fica é essa. Mas a resposta é relativamente simples.

Imagine que cada um dos 100 mil pontos tenha o valor R$ 1,00, isso significa que se você comprasse as ações que integram o índice nas proporções por ele utilizadas, teria que desembolsar justamente R$ 100.000,00. E o seu rendimento na bolsa seria idêntico ao do indicador.

Para grau comparativo, no mesmo período do ano passado, o Ibovespa estava na casa dos 88 mil pontos, o que representa nos patamares atuais ganhos de mais de 23%. Só em 2019, o índice acumula uma valorização em torno dos 22% e nesse ano também outro dado histórico foi registrado — a bolsa atingiu 1,5 milhão de investidores nacionais, quase o dobro do mesmo período de 2018.

O otimismo recente (bullish market, no jargão do mercado) em torno da redução das taxas de juros no exterior e no Brasil, além da expectativa sobre as reformas, que viriam a estimular a entrada de capital estrangeiro no país, é visto como um momento oportuno para o mercado de capitais brasileiro.

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O Ibovespa pode ser muito útil não somente para os investidores, mas para quem deseja amplificar sua visão sobre os mais variados cenários do país (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Por outro lado, é válido lembrar que o Ibovespa demorou mais de 12 anos para dobrar seu valor. A primeira vez que atingiu os 50 mil pontos foi em 2007 e para atingir sua máxima histórica de 2008 (73.438 pts), considerando a correção da inflação, precisaria estar valendo 130 mil pontos.

Enfim, entender um pouco sobre o Ibovespa é compreender mais sobre os movimentos do mercado. Seu comportamento ao longo do tempo é também um ótimo marcador de tendências, que nos explicam muito sobre o passado, presente e referências para possíveis eventos do futuro.

Por isso, fique de olho no Ibovespa; ele pode ser muito útil não somente para os investidores, mas para quem deseja amplificar sua visão sobre os mais variados cenários do país.

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