O que realmente aconteceu entre a Alameda Research e o protocolo Reef Finance?
Um recente acordo de tokens entre as empresas cripto Alameda Research e Reef Finance rapidamente se tornou em uma briga feia — e pública — nessa segunda-feira (15).
Ambas as partes começaram a se alfinetar, afirmando que a outra parte estava errada.
Tudo começou quando a Alameda Research comprou, “ou investiu”, US$ 20 milhões no Reef Finance ao comprar os tokens REEF do projeto de finanças descentralizadas (DeFi) por essa quantia. Alameda comprou os tokens a um desconto de 20%.
Três dias após a Reef Finance ter anunciado o investimento, Sam Trabucco, negociador da Alameda, tuitou que a formadora de mercado não era afiliada da Reef nem recomendava que qualquer um realizasse negócios com a Reef de forma alguma.
“Concordamos em negociar via OTC [mercado de balcão] com a REEF; eles imediatamente foram à imprensa se vangloriar. Em seguida, negaram a negociação”, disse Trabucco. Alameda queria comprar mais tokens REEF mas, por algum motivo, Reef voltou atrás.
1. Alameda is not affiliated with REEF.
2. Alameda does not endorse REEF.
3. We agreed to an OTC trade with REEF; they immediately went to the press to brag.
4. They then reneged on the OTC trade.
5. We obviously do not recommend anyone do business with REEF in any way.— Sam Trabucco (@AlamedaTrabucco) March 15, 2021
Alameda queria comprar mais US$ 60 milhões em tokens REEF. Porém, agora, o acordo foi cancelado.
Então o que deu errado? Com base em informações que se tornaram públicas, parece que uma mistura de incentivos de competição e a confiança no que a Alameda chamou de “acordo informal” — ou seja, um comprometimento verbal a uma transação realizada via Telegram — são os culpados.
O acordo de tokens
O acordo envolveu a Alameda na compra de US$ 20 milhões em tokens REEF e, em seguida, de mais US$ 60 milhões, totalizando US$ 80 milhões.
Logo após a primeira compra, de US$ 20 milhões, Reef percebeu que a Alameda havia imediatamente transferido os tokens na Binance.
“Não conseguimos entender por que a Alameda, nossa investidora estratégica a longo prazo, iria transferir os tokens imediatamente após a compra para a Binance”, disse Reef.
Denko Mancheski, CEO da Reef, contou ao The Block que a Alameda vendeu “todos” os tokens que comprou, sugerindo que a empresa não estava interessada em armazenar os tokens a longo prazo.
Trabucco negou que isso aconteceu. “Ainda estamos em posse de grande parte [dos tokens]. Qualquer alegação sobre termos vendidos todos os tokens imediatamente é falsa”, disse ele.
Segundo The Block Research, Alameda depositou todos os 675 milhões de tokens adquiridos na Binance, o que pode ter gerado a suspeita inicial da Reef. Porém, em seguida, Alameda sacou pelo menos 50 milhões de tokens do total e os depositou na FTX.
Não é possível rastrear a negociação de todos os tokens, pois essa informação estaria disponível apenas para a Alameda e Binance. The Block Research pôde rastrear a movimentação dos 50 milhões de tokens porque essa foi a primeira transferência à carteira FTX por meio da carteira de depósitos da Alameda.
Mancheski afirmou que a Alameda vendeu os tokens. Senão, poderiam provar que “não estavam mentindo ao movimentar os tokens de volta para o endereço”.
“Fizeram mais do que vendê-los”, disse ele. “Deram início à descarga eles mesmos, o que é manipulação de mercado.”
FTX — empresa-irmã da Alameda — realizou uma votação no Twitter, perguntando aos usuários se REEF deveria ser deslistado da corretora porque era uma “puxada de tapete”.
Em seguida, FTX deletou esse tuíte. Alameda também ameaçou a enviar cartas jurídicas à Reef via mensagens no Telegram, mas depois as deletou.
$REEF
Em meio ao fiasco, o token REEF caiu cerca de 30% nas últimas 24 horas, mas se recuperou. Neste momento, está sendo negociado a uma queda de 10%, em US$ 0,038, segundo o TradingView.
Embora não seja possível confirmar qual parte falhou aqui, sem dúvidas o drama forneceu uma janela ao mundo invisível dos negócios cripto — embora por meio de um exemplo ilustrado em termos públicos e pessoais.
Segundo um observador, o vai e volta também evidenciou a importância de acordos formais. Rodadas de financiamento de capital tendem a depender desses acordos em vez de acordos informais.
“Negociações devem ser apoiadas por contratos (e garantias!)”, tuitou Max Boonen, fundador da formadora de mercado cripto B2C2. “Se lembram de quando a Bitfinex enviou US$ 1 bilhão à CryptoCapital sem fazer um contrato?”
This is not correct and does our industry a disservice. Trades should be supported by contracts (and collateral!).
Remember when Bitfinex sent $1bn to CryptoCapital without a contract?
PS: I'm obviously biased too https://t.co/D978MXjWzT
— Max Boonen (@maxboonen) March 16, 2021
Boonen disse que a percepção de que o mercado cripto OTC não depende de contratos não é verdadeira — pelo menos não na parte “séria” do mercado.
“Contratos verbais: sim, mas boa sorte em cumprir com isso”, disse ele.
2 things here:
(1) that crypto OTC doesn't rely on contracts: not true in the "serious" part of the market
(2) oral contracts: yes but good luck enforcing that. Happened to me with a pretty clear contract and I had to go to Singapore Supreme Court, 3-year battle. Zero chance here— Max Boonen (@maxboonen) March 16, 2021