O que que deu no Japão? Entenda surpresa do Banco Central japonês
O Morgan Stanley não esperava nenhuma surpresa vinda do Japão em 2023. Quanto mais no apagar das luzes de 2022. A surpreendente decisão do Banco Central japonês (BoJ) de permitir uma mudança na taxa de referência encerra a era de juros baixos no mundo.
“O BoJ era o único banco central de economia desenvolvida que ainda relutava em alterar sua política monetária”, lembra o CIO da TAG Investimentos, Dan Kawa.
Na madrugada de ontem para hoje, o BC do Japão decidiu ajustar a política de controle da curva de juros e permitir que o rendimento dos bônus japonês (JGB) de 10 anos subisse de 0,25% para 0,50%. Tal política foi adotada em setembro de 2016.
“A decisão do BoJ pegou os mercados de surpresa”, resume o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira. Para ele, a medida representou um “forte teste” em direção à retirada de estímulos monetários.
Dovish ou hawkish?
Ainda assim, o BC japonês não deixou de enfatizar que a política acomodatícia ulrafrouxa (“dovish”) deve ser mantida. Tanto que o presidente do BoJ, Haruhiko Kuroda, negou que a decisão de ajustar a política de controle da curva de rendimentos representasse um aumento dos juros.
Mais que isso, Kuroda reforçou que ainda é cedo para discutir os detalhes de um eventual ciclo de aperto monetário. “Assim, não se espera que haja uma continuidade ‘hawkish’ nas ações do BoJ”, avalia o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
De todo modo, esperam-se desdobramentos nos mercados globais sobre a conjuntura no Japão. Em reação à decisão do BoJ, os juros japoneses apresentaram o maior movimento nos últimos 20 anos, a Bolsa de Tóquio atingiu a mínima em dois meses e iene passou por forte apreciação em relação ao dólar.
Ou seja, mais que um ajuste política monetária, o BC do Japão promoveu um ajuste de funcionamento dos ativos locais.