Thinking outside the box

O que precisa acontecer para o dólar não voltar a subir demais?

16 ago 2024, 16:45 - atualizado em 16 ago 2024, 16:45
dólar giro do mercado
 (Imagem: Vladislav Reshetnyak/Pexels)

Nas últimas semanas, o mercado cambial brasileiro tem apresentado flutuações significativas. O dólar, que vinha em trajetória ascendente, atingiu patamares próximos a R$ 5,70 entre junho e julho, e na semana passada ultrapassou a marca de R$ 5,80.

Esse cenário levanta preocupações sobre o ressurgimento de pressões inflacionárias, uma vez que um dólar elevado por um período prolongado tende a causar uma inflação mais alta e persistente.

Essas preocupações foram intensificadas pelo IPCA de julho, que registrou um aumento anual de 4,5%, superando as expectativas ao atingir 0,35% no mês, aproximando-se perigosamente do teto da meta de inflação.

Esse índice foi significativamente superior aos 0,22% observados em agosto do ano anterior.

Diante desses dados, alguns analistas sugerem um aumento nas taxas de juros, argumentando que a desvalorização do real pode continuar. No entanto, com sinais de que o Federal Reserve pode cortar as taxas de juros, essa visão se torna menos clara.

O real, que mostrou sinais significativos de recuperação (já voltou para menos de R$ 5,50) após as turbulências da semana passada, sugere uma possível estabilização, o que me leva a crer que a Selic permanecerá no nível atual, apesar de os mercados futuros indicarem a possibilidade de um aumento.

No cenário internacional, as projeções apontam que o Fed poderia realizar dois cortes consecutivos de 50 pontos-base nas próximas reuniões, em setembro e novembro, justificados pela deterioração do mercado de trabalho e por uma inflação relativamente controlada nos EUA.

No entanto, questiono a necessidade de medidas tão drásticas, que poderiam enviar um sinal de alerta para a economia global. Não vejo uma recessão iminente nos EUA, uma perspectiva apoiada pelos recentes dados sobre pedidos de auxílio-desemprego e outras métricas de atividade.

A inflação divulgada nesta semana foi especialmente relevante, ficando abaixo de 3% pela primeira vez desde a pandemia, mas ainda distante da meta informal de 2% do Fed. Isso sugere uma desaceleração da inflação, o que poderia justificar cortes nas taxas de juros, mas talvez não de forma tão agressiva.

Além disso, o próximo Simpósio de Jackson Hole, programado para o final de agosto, pouco antes da reunião do Fed em setembro, onde se espera um possível corte de juros, será crucial para entender melhor as perspectivas dos principais líderes da política monetária global.

Basicamente, portanto, com os juros caindo nos EUA, talvez não seja necessário elevar as taxas de juros no Brasil. Manter a Selic em 10,50% ao ano, com uma postura firme do Banco Central, pode ser suficiente para garantir resultados favoráveis para o real, como visto nos últimos dias.

À medida que o dólar enfraquece, outras economias podem emergir como líderes no crescimento global, e novos mercados podem impulsionar um ciclo de alta.

Desde julho de 2021, os principais desafios para os ativos de risco no Brasil têm sido as elevadas taxas de juros internacionais e o foco quase exclusivo na inteligência artificial, um setor em que o Brasil tem pouca participação.

Com a queda dos juros nos Estados Unidos, aumenta o interesse por mercados periféricos. Essa mudança traz boas perspectivas para o real.

No Brasil, os prêmios de risco estão elevados, muitos ativos estão subvalorizados, e o mercado antecipa um aperto nas condições monetárias. Assim, espera-se que o segundo semestre deste ano apresente dinâmicas consideravelmente diferentes das observadas na primeira metade do ano.

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