O que pode motivar ‘boom’ de vendas da Taurus em 2024, segundo seu CEO
Maior fabricante de armas do país e uma das maiores do mundo, a Taurus (TASA4) vem tendo um ano fraco em vendas nacionais, por detrimento de questões legais. O governo Lula trouxe novos regramentos sobre as armas, o que afetou a empresa, que também enfrenta fatores externos, como a alta da inflação nos Estados Unidos, seu maior e principal mercado. No entanto, o ano de 2024 pode trazer bons resultados para a empresa.
O balanço da Taurus, divulgado nesta terça (7), mostrou que o lucro da companhia caiu 74,8% em 1 ano, para R$ 26 milhões, refletindo uma forte queda nas vendas no mercado interno. No entanto, há um entendimento equivocado de parte da sociedade em relação às novas regras de armas dadas pelo governo Lula. A administração trouxe um novo decreto de armas, em julho, ainda permitindo a compra desses equipamentos, cujo acesso ocorre praticamente da mesma forma que no governo anterior.
Para o setor, bem como para centenas de milhares de CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores) —maior mercado da empresa no Brasil— o novo decreto trouxe dores mas também algum alívio: temia-se o recolhimento e a proibição de acesso às armas, o que não aconteceu. No entanto, as vendas seguem praticamente suspensas. O motivo? Burocracia. Entenda abaixo.
Taurus aguarda descongelamento da demanda em breve, com novos produtos
“O que é importante é que o decreto não proibiu a venda de armas, mas criou regras básicas que ainda não foram regulamentadas”, explica Salesio Nuhs, CEO da Taurus, ao Money Times, nesta quarta (8). O que falta para descongelar a demanda nacional é o Exército, junto à Polícia Federal, baixar as portarias regulamentando o decreto de Lula.
Quando isso for feito, retornarão à emissão as autorizações de compra e as CRAF (Certificados de Registros de Arma de Fogo), permitindo que os CACs possam ir às compras. Há ainda outro aspecto que também elevará a demanda por armas: novos CACs na praça — pela suspensão temporária de Lula, desde 1º de janeiro, o Brasil não ganhou nenhum novo atirador esportivo, o que será alterado com a liberação das portarias.
A Taurus se prepara para atender os consumidores. Para isso, desenvolveu um novo calibre, o .38 TPC (Taurus Pistol Caliber), que será disponibilizado nas plataformas mais vendidas da empresa, as pistolas da linha G e GX. O calibre será o mais potente dentro dos permitidos, o que empresa espera que atraia bastante consumo. A previsão para o lançamento é em janeiro.
Indagado sobre se a Taurus ou Aniam (Associação Nacional das Indústrias de Armas e Munições), entidade também chefiada por Salesio, pressiona o Exército ou a PF para a liberação das portarias, o CEO afirma que “a Taurus não faz pressão em nenhum órgão”, mas que ele tem ido a Brasília, representante o segmento, para buscar um consenso sobre a regulamentação. “Damos pareceres técnicos sobre as questões envolvidas, como joules, energia, velocidade”, afirma.
“O que tenho escutado é que a publicação das portarias devem vir próximos dias… no entanto, já fazem algumas semanas que escuto essa frase”, diz Salesio sobre a expectativa de publicação.
O setor inteiro no Brasil aguarda ansiosamente o entendimento do Exército e da Polícia Federal sobre as novas regras, testemunhou o Money Times em evento recente com líderes da indústria nacional e do exterior. Diferente do passado, a PF entrou na regulação dos CACs a mando de Lula, e está discutindo o Exército sobre as novas regras.
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“Temos o melhor resultado do segmento”
Nos balanços da companhia, bem como na conversa com o Money Times, Salesio ressalta um aspecto que considera primordial em relação ao resultado da Taurus: a margem. “A Taurus ainda é melhor resultado do segmento, entre empresas de capital aberto”, diz.
A afirmação do CEO tem base na margem bruta da fabricante gaúcha, de 37,5% no 3TR23. Ele compara o resultado com o de duas grandes empresas de armas dos Estados Unidos: a Sturm, Ruger & Co, que registrou margem de 20%, e a famosa fabricante de revólveres Smith & Wesson, com 26% na margem. “Ainda somos uma referência”, diz Salesio.
Segundo ele, a companhia consegue obter esse resultado com todo o investimento que fez desde o início de sua reestruturação, em 2018. “O resultado é fruto de todo o investimento que fizemos no processo de reestruturação, principalmente com tecnologia e inovação”, diz, colocando o CITE (Centro Integrado de Tecnologia e Engenharia) como parte fundamental da estratégia da empresa.
Salesio afirma que o CITE trabalha com duas pontas: “Desenvolvo um produto novo e desenvolvo um processo”. “Quando desenvolvo um produto novo, preciso agregar valor para que o consumidor possa pagar mais caro por ele, aumentando meu ticket médio e minha lucratividade”, explica.
“Por outro lado, minha engenharia de processo, trabalho num processo de produção, seja manual, robotizado ou automatizado, para que meu custo de produção seja menor”, afirma. “Isso que diferencia a Taurus do segmento. Eu avalio como um resultado brilhante [diz sobre o 3TRI23]”.
EUA deve aumentar demanda, mas ‘mix de produtos’ muda
Um dos fatores que deve impulsionar as vendas da Taurus em seu principal mercado, voltado para o civil norte-americano, são as eleições dos Estados Unidos, diz Salesio. “Historicamente há uma alta de vendas”, afirma. Em 5 de novembro de 2024, os americanos deverão escolher um novo presidente, democrata ou republicano.
Salesio diz que todo pleito envolvendo troca de presidentes nos EUA traz um certo receio ao mercado por possíveis restrições maiores por parte de um ou outro candidato. No mês passado a Taurus já vem testemunhando um aumento na procura de armas, com base nos NICS (os famosos ‘background checks’ exigidos quando um civil está num processo de compra de arma no país).
Em outubro, o índice subiu 20% ante o mês anterior, o que traz uma perspectiva de alta na demanda por armas nos EUA no último trimestre deste ano. No entanto, um fator afeta o lucro da empresa: a companhia viu uma demanda maior por revólveres nos últimos meses, afetando o ‘mix de produtos’ fabricados pela companhia.
“Usualmente com uma produção de 80% pistolas e 20% revólveres”, explica Salesio, expondo que o mix mudou para ‘55% pistolas e 45% revólveres’ . Ele diz que as pistolas são mais fáceis de fabricar, podendo ter mais processos automatizados, enquanto os revólveres são peças mais artesanais. “A produção de revólveres “me custa mais, é mais artesanal, menos automatizado e nenhum pouco robotizado”, diz.
Outro fator que afetou as receitas da Taurus nos EUA, é a alta inflação, afirma Salesio. Ele afirma que os distribuidores reduziram os estoques, que antes eram de 3 meses, para apenas um mês. “O custo do dinheiro passou a ser um fator importante na gestão dos negócios, especialmente da distribuição, pois a margem é pequena”, diz.