Coluna do Market Makers

O que os gestores aprendem quando perdem

06 out 2023, 12:14 - atualizado em 06 out 2023, 12:14

Ir a podcasts conversar sobre seus investimentos quando a cota está bem é uma tarefa fácil e até agradável para os gestores de fundos. Afinal, quem não gosta de explicar suas vitórias, acertos e falar do que está dando certo?

Mas fazer isso quando se está em baixa, com cotistas perdendo dinheiro, é uma tarefa um pouco mais desagradável. Virar vidraça e ler comentários ríspidos na internet não é o sonho de ninguém. “O fundo nessa situação, e o cara aí dando entrevista”, escreveria o mais educado dos ouvintes.

Nós do Market Makers gostamos de fazer os dois, pois há lições a serem tiradas em ambos os casos. É claro que a primeira tarefa é mais fácil, mas também temos conseguido emplacar a segunda.

Isso aconteceu pela primeira vez em maio, quando trouxemos João Landau, da Vista Capital, para falar sobre o que ele e sua equipe haviam aprendido depois que seu fundo multimercado caiu 30% em apenas 8 meses. Naquele episódio, Landau explicou algumas das coisas que aprendeu:

  • descorrelações acontecem: Durante anos o fundo da Vista ficou comprado em petróleo com um hedge em juros. A correlação entre essas duas coisas sempre existiu, até que um choque nos juros causado pela então premiê britânica Liz Truss e seu plano econômico desastrado, mexeu com os juros e derrubou a cota;
  • fatos inéditos acontecem: Essa correlação entre petróleo e juros sempre existiu e aparecia em backtests “até cem ano para trás”, nas palavras de Landau. Até o dia que ela deixou de ser válida;
  • sem autoflagelação: aprender com os erros não significa se autoflagelar e ficar se culpando. Assimilada a perda, é preciso entender o que aconteceu de errado e tocar pra frente. Landau disse, inclusive, que a queda de seu fundo talvez acontecesse de novo, já que os investimentos foram fruto de um processo, que levava em conta o próprio backtest;
  • foco e mudança: após a queda do fundo, Landau reviu toda a operação da Vista Capital. Sua equipe, que havia sido ampliada no ano anterior, foi reduzida mais uma vez para que ele pudesse ter mais foco na operação e menos distrações.

Ontem repetimos a pauta com Luiz Alves Júnior, da Versa. O fundo long biased gerido por Luiz está caindo 65% nos últimos 12 meses, mas mesmo assim ele se apresentou para a entrevista, em uma atitude louvável.

Luiz e a Versa, aliás, não tem medo de mudanças. Em outro momento de queda, alguns anos atrás, eles abandonaram a estratégia de fazer shorts em ações individuais após perdas com IRB e Banco Inter, passando a fazer esse tipo de operação apenas em índice. Recentemente, por causa do drawdown que o fundo sofreu, a gestora também propôs que seu fundo Versa Long Biased se fundisse ao Versa Fit — mesma estratégia, mas com menos volatilidade. A proposta foi ignorada pelos cotistas e os veículos permanecem separados.

Na nossa conversa, Luiz foi mais econômico que Landau ao falar de lições, mas não deixou de explicar.

“O que aconteceu foi uma perda de alfa — a bolsa ficou parada e o fundo caiu. Tinha um alfa muito grande, mas perdemos boa parte dele, apesar de continuarmos com alfa contando desde o início. Também teve a alavancagem e o custo dessa alavancagem, mas não tenho ideia das posições que causaram isso. O passado pouco importa, mas sim as lições”, explica Luiz.