O que os cidadãos chineses realmente pensam sobre uma criptomoeda nacional?
O plano da China de apresentar sua criptomoeda nacional, a DCEP (moeda digital/pagamento eletrônico), está se concretizando. Atualmente, cidadãos de três cidades podem criar uma carteira de DCEP no aplicativo para celular de seu banco no projeto-piloto do país.
O site Decrypt questiona: para que um yuan digital em um país que já prioriza os pagamentos digitais por meio de aplicativos como Alipay e WeChat?
A DCEP irá funcionar como uma moeda corrente e pagamento eletrônico, a qual comércios não poderão recusar. Usa a tecnologia de contratos autônomos, criptografia e rastreamento para evitar lavagem de dinheiro e evasão fiscal.
Por ser uma moeda digital emitida por banco central (CBDC), estará mais alinhada a políticas monetárias do que outras opções de pagamentos que são independentes do governo.
É possível que os cidadãos não sintam muita diferença da migração para o yuan digital, pois sempre realizam pagamentos com aplicativos para celular e não usam tanto cartão de crédito devido às altas taxas de transação.
Forkast, site sobre tecnologias emergentes no setor comercial, econômico e político, conversou com alguns cidadãos chineses:
“Na China, pagamentos on-line são um estilo de vida após Alipay e WeChat Pay destronarem o uso de dinheiro e cartões de crédito”, afirmou Lim Wei Ming, gerente da cadeia de hotéis Shangri-La na cidade de Shenzhen. “Cidadãos chineses irão apoiar, e não detestar [a DCEP].”
Da Lin, dono de uma loja de videogames em Shenzen, afirma não ter usado dinheiro em espécie nos últimos três anos. “Para comércios como o nosso, eu prefiro não receber em dinheiro porque é mais simples”, contou ele ao Forkast. “Agora, quase ninguém anda com dinheiro.”
Ele completou: “[a DCEP] não é boa nem ruim para nós porque, agora, WeChat, Alipay e outros métodos de pagamento basicamente cobrem todos os aspectos de nossa vida. Se o método de pagamento for o mesmo, o yuan digital será apenas mais um método de pagamento”.
Zhiguo He, professor de finanças na Universidade de Chicago, contou ao Forkast que “qual é o impeditivo para não usar [a DCEP]? Transações digitais entraram no cotidiano de cada pessoa e é bem natural que as pessoas começassem a utilizá-las contanto que tenham aplicativos bancários”.
Em relação à privacidade, algo preocupante porque a China é considerada um país extremamente restrito e impositivo, alguns acreditam que o país terá maior poder de supervisão, pois uma CBDC poderia fornecer registros digitais e rastreabilidade, algo impossível com o uso de dinheiro físico.
“Fora da China, eu concordo que a questão da privacidade é o foco do debate”, afirmou He. Porém, “para chineses, [privacidade tem um sentido] totalmente diferente do que para o ocidente”.
Usuários já estão acostumado com o rastreamento de seus dados em plataformas de pagamento on-line, de acordo com o Decrypt. Empresas já compartilham dados de usuários com o governo.
“Não há nada de secreto quando você usa uma plataforma [on-line] para pagamentos, já que eles fazem análises para rastrear seu comportamento”, afirma Lim. “Uma simples conferida em um site governamental já significa que você foi rastreado.”
Cidadãos chineses afirmam que cabe ao governo restringir e equilibrar o grau de exposição dos dados.
Apesar de não haver uma data específica para o lançamento oficial da DCEP, a moeda poderá ser usada nas Olimpíadas de Inverno de 2022 em Pequim.