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O que o trainee só para negros do Magazine Luiza (MGLU3) tem a ensinar para outras empresas?

06 dez 2022, 11:10 - atualizado em 06 dez 2022, 11:10
Magazine Luiza
O Magazine Luiza foi um dos pioneiros na abertura do programa de trainee só para negros (Imagem: Money Times/Gustavo Kahil)

Empresas que buscam implantar uma agenda inclusiva podem aprender com a experiência do Magazine Luiza (MGLU3), disse a economista e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), Janaína Feijó, em entrevista ao Money Times.

Janaína se refere ao programa de trainee exclusivo para jovens negros, ao qual o Magalu foi um dos pioneiros na abertura da ação. A economista pontua que, as companhias que partilham deste mesmo objetivo podem tomar a varejista como referência, aperfeiçoando o que pode ser aperfeiçoado e alterando o que julgarem necessário.

“Ações como as do Magazine Luiza ajudam a combater as desigualdades de oportunidades e, consequentemente, as desigualdades sociais. Essas ações são positivas e podem reduzir as diferenças raciais no mercado de trabalho”, destaca.

Magazine Luiza é discriminatório?

Recentemente, a legitimidade da ação do Magazine Luiza precisou ser reafirmada. A Defensoria Pública da União apontou o programa como “marketing de lacração” na Justiça do Trabalho, e a juíza Laura Ramos Morais teve de determinar que a criação do programa não pode ser vista como uma prática discriminatória, como foi apontada.

Janaína Feijó menciona que, se a ideia é gerar ambientes mais diversos e combater as desigualdades sociais dentro das empresas, os critérios sobre quem é elegível a participar é algo que não pode ser deixado de lado.

“As políticas de cotas para ensino superior, por exemplo, mesclam dois elementos que, a meu ver, são muito importantes: a condição socioeconômica e a raça/etnia”.

Na perspectiva da economista, os ganhos de uma iniciativa que considera esses dois elementos podem ser mais eficazes do que deixar o programa voltado apenas para as pessoas negras.

Setor privado e público juntos

As desigualdades se iniciam antes mesmo da inserção do jovem no mercado de trabalho, diz. Para mitigar as disparidades raciais eficazmente é preciso que políticas de curto, médio e longo prazo sejam desenvolvidas, tanto pelo setor público quanto pelo setor privado, segundo a pesquisadora.

“Vale ressaltar que os programas de trainee beneficiam diretamente os que estão participando, mas absorvem pouco da população vulnerável negra”, ressalta.

Isso posto, Janaína diz que por este motivo é necessário combinar as ações do setor privado, com as políticas sociais do setor público. As ações simultâneas dessas duas esferas podem desencadear um ciclo exitoso, segundo a economista.

Remuneração de negros ainda é menor

O salário médio dos trabalhadores brancos e amarelos, no segundo trimestre deste ano, foi 68,7% maior do que o de pretos e pardos – R$ 3.533 contra R$ 2.095, respectivamente, mostrou uma pesquisa divulgada pelo FGV/Ibre.

A economista da fundação diz que as desigualdades raciais estão fortemente relacionadas as questões de renda. Feijó aplica a baixa representatividade de pessoas pretas e pardas nos postos mais altos das corporações ou em cargos de gerência no Brasil, como reflexo de um país que não consegue gerar oportunidades iguais para seus indivíduos.

“A falta de acesso a uma educação de qualidade ao longo da vida reduz as chances desse grupo progredir e ocupar cargos de altos salários que requerem elevado nível educacional”.

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