‘O que o Brasil fez para receber esse tratamento?’, questiona Haddad sobre possível vitória de Javier Milei na Argentina
Fernando Haddad admitiu se preocupar com a vitória de Javier Milei na corrida presidencial na Argentina, que será decidida neste domingo (22).
Em entrevista à Reuters, o ministro da Fazenda afirmou que a preocupação é natural, pois Milei é uma pessoa que tem como bandeiras romper com o Brasil. “Preocuparia qualquer um… Porque, em geral, nas relações internacionais, você não ideologiza a relação”, disse o ministro.
“[Brasil] fez o quê para merecer esse tipo de tratamento?”, questionou Haddad em outro momento da entrevista.
O candidato da extrema-direita havia afirmado que, se eleito, não veria motivos para manter relações comerciais com o Brasil, país com o qual a Argentina historicamente mais negocia.
Durante a sua campanha, Milei fez diversos disparos contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aludindo a uma “vocação totalitária” do governo brasileiro e o chamando de “comunista raivoso”. Para Milei, Lula está determinado em obstruir a sua candidatura presencial.
Na noite da última quarta-feira (18), a campanha de Milei terminou com clima de show de rock, críticas a jornalistas e jingle em português: “Ele vai para cima, ele vai acabar com a inflação, vai privatizar, vai dolarizar a nação (…) é o Milei, é o Milei, presidente da Argentina, todos sabem que é o Milei”.
As últimas pesquisas mostram um cenário acirrado de segundo turno, com Milei a frente e ministro da Economia de Alberto Fernández, Sergio Massa, em segundo.
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Milei prega rompimento comercial com China
Caso efetive suas promessas de campanha, o governo de Javier Milei marcaria uma mudança radical na política externa da Argentina.
Além de uma posição hostil ao Brasil, o favorito à presidência também expressou desejo em romper relações comerciais com a China por motivos ideológicos.
Em entrevista ao The Economist, o candidato disse que não gosta de “lidar com comunistas porque esse não é um sistema que conduz à melhoria dos bens e nenhum sistema comunista conduz à liberdade. Na verdade, destrói-a, por isso, não posso ter relações com comunistas”.
Especialistas, no entanto, apontam que esta ideia se daria a custo de grande dor econômica para o país platino.
Um estudo feito pelo Conselho Empresarial Brasil China (CEBC) mostra que, em 2022, Pequim investiu cerca de US$ 1.34 bilhão na Argentina, contra US$ 1.30 bilhão vindo do Brasil.
Faz parte deste contexto de maior relação entre as economias chinesa e argentina a entrada do país platino na Nova Rota da Seda.
A Argentina é o primeiro país americano a integrar o projeto de cooperação comercial e de infraestrutura patrocinado pelo gigante asiático.
Mercosul é “fracasso comercial”
Outro fato que assusta os parceiros comerciais tradicionais da Argentina é a posição de Milei sobre o Mercosul, a zona de livre comércio composta por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e países associados.
Na mesma entrevista ao The Economist, o candidato disse que “livre comércio não inclui o Estado”, já que se trataria de uma decisão privada.
“O livre comércio não inclui a interferência do governo nas decisões privadas. Aquilo em que terei influência é na geopolítica, na estratégia em termos de geopolítica”, acrescentou.
Milei avalia que o bloco econômico “é um fracasso comercial que não ultrapassou a categoria de uma união aduaneira que só gera desvios comerciais e danos para todos aqueles que vivem na região”.
Na ocasião, o candidato argentino disse que sua posição sobre o Mercosul é convergente com a de Lacalle Pou, o presidente do Uruguai.
O presidente de centro-direita desagradou outros parceiros do Mercosul por procurar um acordo bilateral entre Uruguai e China, dispensando uma negociação em bloco.
Na época, Fernando Haddad fez duras críticas a Lacalle Pou, acusando-o “a quer o melhor dos mundos: ficar no Mercosul e fazer um acordo de livre comércio com a China. E isso é difícil de conciliar”, disse.