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O que o Bitcoin e os ativos digitais têm a ver com guerras?

04 jul 2025, 8:00 - atualizado em 03 jul 2025, 9:40
Bitcoin (BTC) cai em meio a guerra; irã eua israel (Imagem Gemini Pro)
A descentralização da rede Bitcoin se mostra uma solução prática para quem está sob risco econômico, como em cenários de guerra. (Imagem Gemini Pro)

Em tempos de paz, é fácil confiar em bancos, governos e moedas nacionais. As transações fluem, os saques são permitidos, o crédito gira e o sistema financeiro parece sólido. No entanto, basta um conflito armado ou uma grave crise geopolítica para que esse cenário se desintegre em questão de dias, às vezes, em horas. É nesses momentos que os ativos digitais, especialmente o bitcoin (BTC), deixam de ser um experimento tecnológico e se tornam instrumentos reais de sobrevivência financeira.

Historicamente, guerras e colapsos econômicos provocam três consequências diretas: a desvalorização das moedas locais, a imposição de controles de capital e a quebra de confiança nas instituições estatais e financeiras. Esses três fatores afetam diretamente a população comum, que, de repente, se vê incapaz de sacar dinheiro, enviar recursos para fora do país ou mesmo preservar o valor daquilo que economizou por anos.

A hiperinflação já mostrou sua face em diversos momentos da história, de forma brutal. Alemanha nos anos 1920, Zimbábue nos anos 2000 e, mais recentemente, Venezuela e Argentina. Em todos esses casos, as moedas nacionais perderam praticamente todo seu poder de compra. Ninguém quer carregar milhões de unidades de uma moeda que não vale sequer o equivalente a um pão. E quando uma guerra entra em cena, a instabilidade é ainda maior: bancos movimentam dinheiro para outras geografias, sistemas travam, a dificuldade de captação e o real valor sobre ativos passam a ser incógnitas. Não é exagero dizer que, em cenários de conflito, o dinheiro tradicional literalmente desaparece.

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É nesse vácuo que os ativos digitais ganham relevância. O Bitcoin, por exemplo, não depende de um banco central, não precisa de um banco para ser movimentado e não pode ser confiscado por decreto. Uma pessoa pode atravessar uma fronteira apenas com uma senha decorada — sua seed phrase, ou frase-semente — e, do outro lado, recuperar todo o seu patrimônio digital em questão de minutos. Essa capacidade de preservar e transportar valor sem depender de nenhuma instituição é o que torna o Bitcoin uma ferramenta tão poderosa em tempos de crise.

O que antes parecia um detalhe técnico, como a descentralização da rede Bitcoin, hoje se mostra uma solução prática para quem está sob risco real. Em regiões sob ocupação militar ou com governos autoritários, as pessoas não têm tempo para esperar decisões judiciais ou confiar em promessas estatais. Elas precisam proteger seu dinheiro agora. E isso não é uma teoria: casos concretos mostram como os ativos digitais se tornaram refúgio e rota de escape.

Guerra na Ucrânia, o exemplo recente

Na Ucrânia, após a invasão russa de 2022, milhares de civis recorreram a criptoativos como forma de manter sua liquidez e proteger seu patrimônio. Doações internacionais feitas em Bitcoin e Ethereum chegaram diretamente a soldados, ONGs e famílias deslocadas.

Na Venezuela, a perda total de valor do bolívar forçou milhões a adotarem o dólar informal ou criptoativos como Dash e Bitcoin, mesmo em meio a bloqueios e perseguições. No Afeganistão, após o retorno do Talibã ao poder, ativistas e mulheres recorreram ao Bitcoin para manter seus recursos longe de um sistema financeiro controlado por extremistas. Esses casos não são exceções: são sinais claros de uma tendência global.

Muitas pessoas ainda veem o Bitcoin como um ativo especulativo ou como uma bolha tecnológica. No entanto, essa visão ignora sua função mais profunda: a de moeda de guerra, reserva de valor e escudo contra a censura. Enquanto o ouro sempre cumpriu esse papel de proteção física, o Bitcoin é sua versão digital. Uma reserva de valor que pode ser transferida por redes globais, a qualquer hora, sem depender de intermediários.

Existe uma máxima entre defensores dos ativos duros que resume bem essa lógica: “Se cair uma bomba atômica, só restam duas moedas: o ouro que você guarda… e o Bitcoin que ninguém pode confiscar e estará em qualquer lugar.” E isso não é retórica. O ouro, apesar de ser extremamente valioso, é físico, pesado e vulnerável. Pode ser confiscado em uma blitz, apreendido em um aeroporto ou simplesmente perdido em uma fuga. Já o Bitcoin pode ser armazenado na nuvem, em um pen drive, num celular ou apenas memorizado. É o único ativo que combina escassez, portabilidade e resistência à censura em um mesmo pacote.

Durante a Segunda Guerra Mundial, famílias judias que tentavam fugir da Alemanha tinham de esconder moedas de ouro nos forros das roupas ou vendê-las por migalhas para conseguir atravessar fronteiras. Hoje, em pleno século XXI, qualquer pessoa em situação semelhante poderia usar o Bitcoin para proteger seu dinheiro de maneira discreta, segura e eficaz. Não se trata mais de tecnologia de nicho, mas de infraestrutura de liberdade.

O argumento de que as criptomoedas podem ser usadas para fins ilícitos perde força quando comparado à magnitude dos riscos que as pessoas comuns enfrentam em zonas de guerra. O sistema financeiro tradicional já é amplamente utilizado para lavagem de dinheiro, corrupção e evasão fiscal. O diferencial do Bitcoin não é a ilegalidade, mas a possibilidade de existir à margem do controle abusivo.

No final das contas, ativos digitais representam um paradoxo entre liberdade e segurança versus guerras, porque significam uma saída real para populações em perigo. Eles não precisam de estabilidade para funcionar. Pelo contrário: foram criados justamente para funcionar quando tudo o mais falha. Quando governos colapsam, quando bancos fecham, quando fronteiras são erguidas, quando a repressão se intensifica, não apenas o Bitcoin continua operando, registrando transações e protegendo valores, mas a infraestrutura por onde faz com que estes ativos possam trafegar ou nascerem é o que de fato gera valor a uma nova e constante realidade.

Por isso, em tempos de paz, vale estudar, testar e entender o potencial dos ativos digitais. Mas, em tempos de guerra, eles podem ser a única ponte entre a destruição e a reconstrução.

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CEO e fundador da BLOCKBR, fintech especializada em tokenização e investimentos em ativos digitais. Investidor estratégico de criptomoedas, dedica-se em blockchain e tokenização de ativos com 22 startups criadas e investidas em seu portfólio. Foi country manager da Coinpayments. É Formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela FECAP; Publicidade e Propaganda pelo Centro Belas Artes de São Paulo e Finanças e Inovação pela Universidade de Standford
cassio.krupinsk@moneytimes.com.br
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CEO e fundador da BLOCKBR, fintech especializada em tokenização e investimentos em ativos digitais. Investidor estratégico de criptomoedas, dedica-se em blockchain e tokenização de ativos com 22 startups criadas e investidas em seu portfólio. Foi country manager da Coinpayments. É Formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela FECAP; Publicidade e Propaganda pelo Centro Belas Artes de São Paulo e Finanças e Inovação pela Universidade de Standford
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