CryptoTimes

O que mudou em seis meses após a liberação de criptoativos na Índia?

10 set 2020, 9:45 - atualizado em 11 set 2020, 9:04
No dia 5 de março de 2020, o Supremo Tribunal da Índia suspendeu a proibição de criptoativos. Desde então, corretoras cripto indianas viram um grande aumento em volumes negociados e investimentos apesar da retração significativa da economia indiana por conta da COVID-19 (Imagem: Unsplash/@ewankennedy19)

Em abril de 2018, o Reserve Bank of India (RBI), o banco central do país, havia ordenado que instituições financeiras cortassem relações com pessoas ou empresas que operavam criptoativos como o bitcoin.

Durante os dois anos em que a proibição esteve em vigor, os volumes negociados no país despencaram e inúmeras corretoras locais tiveram de fechar suas portas.

Então, em março, a bancada de três juízes do Supremo Tribunal disse que, embora RBI tivesse o poder de tomar medidas preventivas no mercado financeiro, questionaram a proporcionalidade da proibição de cripto e emitiram uma ordem, permitindo que corretoras voltassem a operar transações em rúpias (INR).

A decisão permitiu que clientes novamente pudessem realizar o livre câmbio entre criptoativos e a moeda nacional. A notícia abriu o apetite dos fãs indianos de cripto e corretoras locais, incluindo Zebpay, WazirX e CoinDCX, rapidamente permitiram transferências bancárias em rúpias.

Em resposta, compradores correram para negociar — Zebpay relatou sobrecarga dos servidores imediatamente após o veredito — e volumes diários negociados na WazirX, a maior corretora à vista da Índia, aumentaram 950% desde a suspensão da proibição.

Qual o impacto da liberação do Bitcoin na Índia?

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Em resposta à liberação dos serviços de criptoativos na Índia, corretoras locais tiveram sobrecarga em seus sistemas e tokens aumentaram de valor (Imagem: Crypto Times)

Criptoativos na Índia durante a COVID-19

Criptoativos tiveram sucesso no país durante a pandemia. A Índia ultrapassou o Brasil no total de casos de coronavírus para se tornar o país mais afetado do mundo, atrás dos EUA, com mais de 4,2 milhões de casos.

Economicamente, isso se traduziu em uma enorme redução no PIB de 24,9% no segundo trimestre de 2020, em que os setores de construção, fabricação e negociação, hotéis e transporte foram os mais afetados.

Os horríveis dados econômicos resultaram em uma rúpia indiana depreciada e um descrente mercado acionário nacional. Em contraste com a difícil economia, a demanda por soluções com criptoativos e infraestrutura para atender essa demanda cresceu apesar da retração econômica.

O interesse em pesquisas pelo termo “criptomoedas” na Índia disparou bastante em março e esteve em uma tendência de alta estável desde então (Imagem: Google Trends)

O maior par negociado em volume na corretora cripto mais popular da Índia, WazirX, é USDT/INR — sugerindo que existe uma demanda interna significativa na Índia de negociar a moeda nacional por equivalentes ao dólar.

Os outros pares mais populares são BTC/INR, ETH/INR, TRX/INR, seguido por inúmeros pares cripto/cripto.

Paxful, serviço de corretagem de bitcoin de ponto a ponto, teve um grande aumento na demanda pela negociação de INR para BTC.

Desde a suspensão da proibição, a infraestrutura cripto no país expandiu em uma injeção de novo capital de investimento. A startup CoinDCX arrecadou um total de US$ 5,5 milhões em duas rodadas em março e maio, atraindo diversos investidores globais, como Bain Capital.

Lançadas em julho e maio, respectivamente, TradeHorn e BitPolo Technologies, duas novas corretoras da cidade de Bangalore, têm, como alvo, novatos indianos no setor cripto.

Também em julho, a gigante empresa indiana de tecnologia da informação Tata Consultancy Services anunciou a Quartz Smart Solution for Crypto Services. O serviço fornece soluções empresariais de negociação e visa atrair bancos e empresas de serviços financeiros.

Em maio, sua adversária Infosys firmou uma parceria apoiando a desenvolvedora de plataformas financeiras de Bangalore Matic Network.

O uso da internet no país também disparou graças à quarentena da COVID-19. Um relatório ICUBE, publicado pela empresa de consultoria especializada Kanter, estima que, atualmente, existem 574 milhões de usuários de internet na Índia.

O número de usuários ativos mensais aumentou 24% desde 2019, indicando um uso de 41% desde o ano passado. Índia possui uma das taxas de internet mais baratas do mundo e espera-se que sua base de usuários de smartphones atinja 820 milhões até 2022.

Outro grande direcionador que pode estar influenciando a adesão de cripto na Índia é a crescente demanda por serviços de remessas digitais.

Fornecedores de serviços de remessas on-line cobram baixas taxas e facilitam o processo de envio e recebimento de dinheiro, já que ir a uma agência bancária não é mais necessário (Imagem: Crypto Times)

Segundo relatórios de 2018 e 2019 das Nações Unidas (ONU), Índia foi a maior recebedora de remessas internacionais, em US$ 79 bilhões. A Índia também envia cerca de US$ 18,75 bilhões para o exterior todos os anos para fins educacionais, de saúde e outros.

Serviços de remessas digitais baseadas em cripto são utilizadas em países como Filipinas, México e Egito para transferências internacionais mais transparentes. Usam a tecnologia como liquidez sob demanda (ODL) que elimina a necessidade de contas pré-financiadas em moedas do país de destino.

Remessas digitais atingem recorde anual
de US$ 96 bilhões, abrindo as portas para cripto

Vem aí outra proibição de cripto na Índia?

Apesar da suspensão da proibição e do sucesso da campanha #IndiaWantsCrypto (“Índia Quer Cripto”) nas redes sociais — liderada por Nischal Shetty, fundador da WazirX —, algumas incertezas ainda existem sobre a indústria cripto indiana conforme o RBI anunciou planos de enviar uma petição judicial revisada sobre a decisão, mencionando preocupações que a retomada de negociação de criptoativos poderia apresentar um risco ao sistema bancário.

Além disso, o “Projeto de Lei de Proibição de Criptoativos e Regulamentação de uma Moeda Digital Oficial”, enviado em 2019 por um comitê interministerial comandado pelo ex-secretário das finanças Subhash Chandra Garg, ainda está no limbo.

O projeto de lei é bem draconiano — descreve “punições para cada atividade, desde mineração, posse, propaganda, promoção, compra, venda para fornecer serviços de câmbio”.

Especialistas locais não estão tão preocupados com nenhuma dessas iniciativas, já que uma reversão da decisão do Supremo Tribunal seria algo extremamente raro, e a decisão de março em suspender a proibição significa que será improvável que uma nova lei que proíba cripto seja aprovada pela legislatura indiana.

Legalização do bitcoin na Coreia do Sul, Índia
e França traz esperança para os mercados