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O que levou o dólar a disparar 2% e voltar aos R$ 5,00?

19 abr 2023, 18:08 - atualizado em 19 abr 2023, 18:09
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Dólar voltou a fechar acima dos R$ 5,00 após engatar sequência positivo em meio à estresse doméstico e exterior (Imagem: Pixabay/PublicDomainPictures)

O dólar à vista emplacou nesta quarta-feira (19) a terceira sessão seguida de alta frente ao real, superando a barreira psicológica dos R$ 5,00, com o mercado financeiro doméstico reagindo negativamente à apresentação ao Congresso do texto do novo arcabouço fiscal. No entanto, o dia foi de ganhos para a moeda norte-americana também no exterior.

Com isso, o dólar disparou 2,20%, negociado a R$ 5,08 para a venda. Foi a primeira vez que a divisa estrangeira fechou acima dos R$ 5,00 desde 11 de abril.

A avaliação de que a proposta do arcabouço traz inconsistências e exime o governo de responsabilidades pelo descumprimento das metas fiscais azedou os negócios desde o início do dia.

Para completar o cenário, a quarta-feira também foi marcada pela aversão a ativos de risco, como o real, em todo o mundo, na esteira de dados ruins de inflação no Reino Unido.

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Dólar ruim no exterior

O dia começou com dados do Reino Unido, que mostraram uma inflação anualizada de 10,1% em março, acima dos 9,8% projetados pelos economistas e dos 9,2% esperados pelo banco central do país.

Os números elevaram a percepção de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode seguir com a política monetária apertada por mais tempo, o que disparou a aversão global a ativos de risco.

Peso do arcabouço fiscal

Portanto, no Brasil, isso traduziu-se na valorização do dólar, movimento que foi ampliado pela percepção do mercado em relação ao novo arcabouço fiscal.

“Quando saiu o anúncio do arcabouço, o mercado melhorou, porque ele retirou o risco de descontrole das contas públicas”, comentou o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Novaes. Ele referiu-se aos recuos do dólar ante a moeda local em semanas anteriores, indo abaixo dos R$ 5,00.

“Hoje, o mercado realiza um pouco os ganhos anteriores e também há incertezas sobre o arcabouço”, diz. Conforme Novaes, grande parte das incertezas está ligada ao fato de que o arcabouço fiscal, para funcionar, depende de novas receitas.

“Governo fala que aumento de imposto não está na mesa. Sendo assim, teria que ser via redução de desonerações [de impostos]. Mas tirar desoneração de algum setor sempre vai ser difícil no Congresso“, avaliou.

Economistas ouvidos pela Reuters citaram ainda um desconforto com o fato de, no arcabouço, não haver responsabilização do governo em caso de descumprimento de metas.

Além disso, alguns defendem que as contas do governo não fecham. Essa percepção deu força às taxas dos contratos futuros e fez o dólar oscilar no terreno positivo ante o real durante toda a sessão.

“As regras fiscais parecem ser menos eficientes do que o esperado e não dizem de onde vai sair o dinheiro. O que temos é um mau humor no mercado, que detonou a corrida para o dólar”, resumiu o diretor da Correparti, Jefferson Rugik.

reuters@moneytimes.com.br