O que levar em conta na hora de comprar um carro elétrico?
A chegada da BYD e GWM, montadoras chinesas e experientes na fabricação de carros elétricos, elevou o Brasil a um novo patamar no segmento.
Os modelos ficaram mais acessíveis e interessantes. Por um pouco mais de R$ 100 mil ou o preço de muitos modelos flex despojados, o consumidor encontra elétricos divertidos e cheios de tecnologia.
O resultado é um crescimento exponencial, que mais que dobrou: o segmento fechou 2023 com mais de 19 mil emplacamentos, enquanto em 2022 foram 8.460 unidades dos 100% elétricos.
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Com tanta oferta e oportunidades, o consumidor precisa ficar atento porque não se trata se uma simples troca, como substituir um modelo a diesel por um flex.
Ter um carro elétrico na garagem requer menos manutenção, mas exige mais planejamento e organização.
O lado bom é lidar com um carro, em geral, mais tecnológico, seguro (pelos sistemas de assistência à condução), confortável (sem emitir ruídos) e ecológico (emissão zero). A direção é mais precisa e o torque imediato entrega maior prazer de dirigir, mesmo nos carrinhos elétricos mais acessíveis.
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O motorista também vai sentir menor impacto no bolso no abastecimento: os elétricos costumam custar um terço por quilômetro rodado em relação a um modelo flex e sua manutenção chega a ser 40% mais em conta porque seus sistemas são mais simplificados.
Apesar de todo esse pacote de vantagens, nem todos podem ter um carro elétrico e nesse ponto o consumidor precisa ficar atento.
A principal batalha é a recarga. As cidades maiores contam com eletropostos ainda gratuitos, mas não é possível depender de estações públicas. Em geral, esses wallboxes possuem capacidades de 7 ou 11 kW, e para fazer uma recarga completa, conforme o carro, pode-se levar mais de 6 horas. Imagine isso no dia a dia?
As autonomias dos modelos variam de 150 a 500 km. A tendência é que esse alcance aumente, mas ainda ficam limitados a rodar nos centros urbanos. Em percursos rodoviários, a autonomia cai rapidamente e se o motorista não se planejar, como traçar rotas em locais de recarga, a viagem pode terminar antes do esperado.
Ao botar um carro elétrico na estrada, a atenção se volta à autonomia: desde o cálculo, as paradas de recarga e o tempo que vai levar se não encontrar carregadores rápidos – e mesmo assim, contar com filas de mais carros e um tempo mínimo de 40 minutos de espera. Ou seja, certamente você vai levar mais tempo para chegar ao destino. E ainda tem a volta.
O que considerar antes de comprar um carro elétrico
Com tantas opções no mercado e mais outras chegando, busque modelos elétricos que atendam às suas necessidades de espaço interno e porta-malas. Há modelos mais acessíveis que oferecem apenas 4 lugares, como Caoa Chery iCar, Renault Kwid E-Tech e BYD Dolphin Mini.
Antes de fechar negócio, recomenda-se que o consumidor tenha pelo menos um ponto de abastecimento próximo – em casa ou no escritório, preferencialmente onde o carro fique estacionado por mais tempo.
Se a pessoa morar em uma casa, precisa planejar a infraestrutura elétrica da residência e se a fiação ou instalação tem capacidade para suportar um wallbox ou um carregador portátil. Conforme o carro, a recarga se assemelha a dois chuveiros elétricos — ligados ao mesmo tempo durante horas.
Se o consumidor morar em prédio sem ponto de recarga (individual ou coletivo), é preciso discutir a possibilidade desse tipo de instalação com a administração do condomínio.
Algumas marcas de carros elétricos oferecem na compra um wallbox ou carregador portátil, mas também é preciso considerar se os equipamentos são compatíveis com os locais onde serão instalados.
O ideal é depender o mínimo possível de carregadores públicos: além de hoje vários cobrarem (e caro pela recarga), é preciso contar com fila de outros motoristas e até pontos em manutenção, algo que se torna cada dia mais comum.
Outro fator a ser considerado antes de emplacar um carro elétrico é o custo do seguro. Por serem relativamente novos no mercado, com uma tecnologia ainda incipiente, o custo do seguro pode ser maior.
Ou nem tanto do seguro, mas sim de sua franquia. Numa rápida pesquisa, um modelo elétrico de R$ 150 mil tem custo de seguro (perfil conservador) em torno de R$ 3 mil, mas sua franquia pode chegar a R$ 20 mil. A explicação é que, por serem de um segmento ainda de baixo volume, representam um risco maior às seguradoras em caso de sinistro, pela dificuldade de importação de peças e o custo de uma mão de obra especializada.
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Elétricos: Depois da compra e durante o uso
Resolvida a primeira barreira da infraestrutura de recarga e levando o elétrico para casa, agora quem usar o carro terá de fazer mais cálculos entre distâncias. Além disso, vai se acostumar a visualizar mais dois indicadores no painel: o da autonomia e o da capacidade da bateria.
O alcance indicado pelo computador de bordo do carro nem sempre retrata a realidade e pode variar conforme a forma de dirigir, topografia, uso de equipamentos e modos de condução.
Por exemplo, quem usa o ar-condicionado gelado, acelera demais, mora numa cidade com muitas ladeiras e dirige no modo esportivo (ao invés do eco, que regenera mais a energia) pode ter uma autonomia menor do que alguém que usa menos o ar, que dirige de forma mais suave, em trajetos planos e opta pelo modo econômico e de maior regeneração.
Quando se tem um carro flex e ele entra na reserva de combustível, o dono sabe que basta passar num posto e abastecer em minutos. Mas quem tem carro elétrico precisa mesmo planejar as paradas para não ficar a pé.
As viagens também se tornam limitadas, mesmo se o carro tiver um bom alcance: é preciso ficar atento a trajetos como subidas de serra, que reduzem drasticamente a autonomia, e se o local de destino possui infraestrutura para as recargas.
Ter um carro elétrico, principalmente para motoristas menos acostumados com novas tecnologias e dispositivos (como os cada vez mais complexos sistemas multimídia), também requer paciência para aprender e usufruir tudo o que o carro oferece.
As revisões costumam ser mais espaçadas que as de carros híbridos ou elétricos (em geral a cada 20 mil km ou 2 anos) e também são mais baratas. Mas fique de olho nos itens em garantia (a maioria de 3 a 5 anos para o carro e 8 anos para a bateria) e outras recomendações e manutenções periódicas.
Por exemplo, no caso do Dolphin, a BYD sugere rodar os primeiros 2 mil km no modo Eco, que uma recarga por semana seja feita em tomada AC e evitar constantes recargas. Deixar o carro parados com menos de 5% de bateria por mais de 14 dias configura perda de garantia. Ou seja, invista seu tempo com a leitura atenta aos manuais.
E no final de alguns anos, depois de curtir todos os benefícios que um carro elétrico traz, a revenda deve ser feita com atenção para não perder dinheiro.
A expectativa é a de que com mais modelos no mercado, tanto os valores de franquia do seguro como a desvalorização em relação aos carros a combustão cheguem em um ponto de equilíbrio.