O que leva construtoras, como a Eztec (EZTC3), a terem sexta-feira amarga?
As ações das principais construtoras listadas na B3 têm pregão amargo nesta sexta-feira (12) após divulgarem seus resultados financeiros do primeiro trimestre ontem à noite.
Por volta das 14h55 (de Brasília), a Eztec (EZTC3) tinha o pior desempenho do índice Ibovespa, com tombo de 7,3%. Além dela, os papéis de MRV (MRVE3), Cyrela (CYRE3) e Plano&Plano (PLPL3) recuavam entre 1% e 2,2%.
As construtoras de média e alta renda exibiram números mistos, enquanto segmento de baixa renda, a ‘bola da vez’, exibiu desempenho operacional consistente, avalia o head de real estate da XP, Ygor altero.
Lucro e ação da Eztec derretem
As ações da Eztec recuam em linha com os resultados da companhia, que reportou queda de 59,6% no lucro líquido entre janeiro e março, para R$ 42,2 milhões. A piora no lucro da Eztec deve-se, principalmente, ao aumento dos custos de construção nos projetos lançados nos últimos anos e que não foram acompanhados por reajuste nos preços de vendas. Fatores que afetaram as margens da incorporadora paulistana.
Com isso, a margem bruta atingiu 28,4%, caindo 10,9 pontos porcentuais (p.p.) ante um ano antes, impactada pelos estouros de custos do empreendimento Parque da Cidade, em São Paulo, no qual as obras estão atrasadas. Além disso, a Eztec reportou queima de caixa de R$ 60,7 milhões no trimestre.
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Para Altero, a maioria dos resultados da companhia foi negativo. Ele destaca a redução em 12% da receita líquida na base anual, para R$ 251 milhões, sendo afetada por menores vendas de estoques prontos e uma base de comparação “mais difícil” em relação ao quarto trimestre.
“Mantemos nossa recomendação de compra com base em um valuation atrativo. No entanto, continuamos a ver um cenário desafiador para o segmento de média renda, devido à taxas de juros mais altas, piora na capacidade de compra e menor nível de confiança”, avalia o profissional da XP.
Entretanto, o sócio-gestor da Ártica Asset, Ivan Barboza, pondera que a Eztec teve números positivos, como o volume de vendas, que ficou 20% acima do registrado no último trimestre de 2022. “Porém, olhando para a rentabilidade, houve uma melhora de 3,7% na margem bruta e na margem líquida. Mas esse nível de margens está bastante abaixo do histórico da companhia”, diz.
PLPL3, a ‘bola da vez’ entre construtoras de baixa renda
A MRV também reportou resultados ontem à noite, exibindo lucro menor no primeiro trimestre ante o ano anterior. Segundo o analista da Ativa Investimentos, Pedro Serra, a construtora mineira vem mostrando, desde o quarto trimestre, os efeitos da nova “safra” na margem bruta e algumas medidas para evoluir no processo de expansão de margens.
“No primeiro trimestre, tais efeitos começaram a aparecer e esses efeitos são bem-vindos. Principalmente, em um momento ainda muito delicado quanto a sua situação de caixa e endividamento”, comenta.
Ele acrescenta que o balanço mostrou números positivos que demonstram a capacidade da companhia de se ajustar frente aos cenários. Contudo, Serra diz que, na questão financeira, ainda há cautelas e espera mais indícios de melhorias. “Especialmente na geração de caixa que ainda não ocorreu”, diz.
Em entrevista ao Money Times, o CFO da MRV, Ricardo Paixão, destacou que rentabilidade e voltar a gerar caixa são os grandes desafios da MRV.
Quem também divulgou resultados na véspera foi a Plano&Plano (PLPL3), o destaque do segmento de baixa renda. A empresa registrou lucro líquido de R$ 41 milhões de janeiro a março, salto de 85% na base anual. Já a receita líquida somou R$ 390 milhões, crescimento de 23% ante um ano antes.
Altero, da XP, reforça que os números no trimestre foram consistentes, embora afetados pela menor evolução de obras no começo de 2023, sendo efeito sazonal. Além disso, ele ressalta o mix de receita com projetos com percentual de conclusão mais baixo, mesmo com o aumento de 47% nas vendas líquidas, no comparativo anual.
“Destaco uma notável aceleração na margem bruta, atingindo 36,1% [alta de 8,3 p.p. na base anual]”, diz, ressaltando que a Plano&Plano foi eficiente no repasse de inflação na carteira de recebíveis. Para o analista, os dados da companhia sugerem continuidade de perspectivas positivas para a margem bruta.
Construtora ‘top pick’ tem dados mistos
A reação aos resultados da Cyrela, a ação preferida no setor de construção civil, é marginal. Contudo, analistas divergem sobre os números da construtora e incorporadora. O analista de real estate da Empiricus Research, Caio Nabuco de Araujo, observa que os dados foram fortes, com a incorporadora mantendo um bom ritmo de lançamentos. Todavia, o resultado ficou marginalmente abaixo das expectativas do mercado.
Em contrapartida, o profissional da XP vê os números dentro do esperado e ligeiramente positivos no primeiro trimestre. Porém, ele pondera que houve leve desaceleração na margem bruta, prejudicada por um mix de projetos com margem bruta mais baixa no período.