O que fez o dólar chegar ao menor valor desde novembro?
O dólar à vista fechou o pregão desta quarta-feira (01), a “Super Quarta” de decisão dos bancos centrais, em queda de 0,2% frente ao real, negociado a R$ 5,05 para venda. Foi o menor valor de fechamento desde o início de novembro de 2022.
A moeda norte-americana reagiu à decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que reduziu o ritmo de aperto monetário, subindo juros em 0,25 ponto percentual (p.p.), para a faixa entre 4,50% e 4,75%. Foi a oitava alta seguida.
O contrato futuro de dólar com vencimento em março – negociado na B3 até às 18h -, caía 0,4%, perto de R$ 5,07. Lá fora, o Dollar Index (DXY) recuava quase 1%, a 101,1 pontos.
Por que o dólar foi a R$ 5,05?
Após a divulgação do comunicado, o dólar acelerou os ganhos, a R$ 5,09. Entretanto, reagiu de forma mais positiva às falas do presidente do Fed, Jerome Powell. Com isso, a moeda acabou invertendo o sinal para queda e chegou a R$ 5,05.
O CEO da Conti Capital, Carlos Vaz, avalia que o Fed está cada vez mais próximo da sua meta de redução da inflação e colecionando evidências que justificam esse entendimento.
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“Vejo que estamos mais próximos da sonhada etapa de ‘pouso econômico suave’, embora ainda não seja seguro descartar o risco de uma recessão“, comenta. Ele acrescenta que, analisando todos os índices econômicos divulgados nos últimos meses, a fase mais dura da crise nos Estados Unidos, com pico inflacionário, ficou para trás.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, comenta que, apesar de o Fed sugerir que novas altas de 0,25 p.p. serão praticadas por tempo “suficientemente prolongado”, tão em breve deverá ocorrer uma interrupção do ciclo de aumento dos juros.
“A inflação está afrouxando em alguma medida, segundo membros do Fed. Contudo, a atividade tem dado sinais de fraqueza, com a probabilidade de recessão nos Estados Unidos não parando de subir”, diz.
Dólar enfraquecido lá fora com Fed menos “duro”
O Dollar Index – índice que mede a força do dólar ante uma cesta de moedas -, vem afundando nos últimos dias exibindo enfraquecimento ante seus pares. O nível de 101,2 é o menor desde maio de 2022, quando o Fed sinalizou que apertaria mais o ritmo de alta de juros. À época, a sinalização resultou em quatro elevações de 0,75 p.p. entre junho e novembro, cada.
“Temos, ao que parece, um renovado apetite por risco nos principais mercados globais, dando continuidade aos movimentos observados ao longo das últimas sessões. Faz sentido interpretar que o mercado reconheceu a cautela de Powell, mas que essa não foi ‘dura’ o suficiente para a reversão dos movimentos recentes”, diz o operador da Commcor Corretora, Cleber Alessie.
O profissional da corretora reforça a fala de Powell mencionou que o atual nível de juros ainda não é restritivo o suficiente. Ou seja, novas altas de juros ainda serão necessárias.
Peso local
O mercado doméstico também acompanha a eleição no Congresso Nacional. Hoje, parlamentares deram início aos trabalhos em 2023 já com os eleitos e reeleitos em outubro. A Câmara dos Deputados e o Senado terão um novo comando e partidos estão há alguns dias articulando os votos.
Na Câmara, a reeleição de Arthur Lira é dada como certa, enquanto no Senado, a história é outra. Rodrigo Pacheco busca a reeleição, mas tem forte resistência do candidato da oposição Rogério Marinho.
“Espera-se uma votação apertada, mas Pacheco é considerado ainda o favorito”, diz o CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo.
O que vem pela frente?
Além das discussões de como o Congresso deve agir durante o novo governo, de Luiz Inácio Lula da Silva, e como pautas fiscais e econômicas serão tratadas pelo legislativo, o analista de investimentos da Clear Corretora, Leandro De Checchi, observa que o mercado deve seguir atento também com as falas relacionadas ao equilíbrio fiscal e avaliação do balanço de riscos por parte dos bancos centrais, o que tende a balizar a ancoragem das expectativas de inflação.
Daqui a pouco, tem a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileiro, no qual, para ele, o cenário atual favorece um tom mais duro e deve dificultar, ao menos no curto prazo, algum alívio no aperto monetário o que seria desfavorável para os ativos de risco.
E depois da Super Quarta, vem aí a Super Quinta. Amanhã é dia de decisões de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (BoE).