O que fazer com as ações de São Martinho (SMTO3) após os resultados? Veja análises
A São Martinho (SMTO3) reportou seus resultados referentes ao segundo trimestre da safra 2024/2025 (2T25), com uma queda de 55,2% no lucro líquido, que ficou em R$ 187,5 milhões.
Na avaliação do BTG Pactual, os resultados ficaram acima das expectativas, mas a atualização para o guidance foi pior do que o esperado, principalmente para o mix no ano-safra 24/25, que saiu de 54%-46% para 61%-39%, ainda mais alcooleiro. Segundo a empresa, os incêndios nos canaviais levaram a uma proporção maior da produção para o etanol.
O banco ainda mantém a ação da São Martinho como a sua top pick (ação favorita) dentro do setor de açúcar e etanol, apoiada por sua base de ativos incomparável (baixos custos de produção) e alocação de capital disciplinada. O BTG continua vendo o segmento de açúcar e etanol como um dos poucos que oferecem uma perspectiva de preço atraente entre as commodities agrícolas.
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“Combinar um capex mais alto e margens mais baixas de um mix de etanol aumentado deve significar menor geração de FCF ( Fluxo de Caixa Livre) este ano e menos história de rendimento de FCF no curto prazo. Continuamos compradores (preço-alvo de R$ 38 e potencial de alta de 54,91%) como uma proposta de 12 meses, apoiada por uma avaliação ainda decente em um rendimento de FCF recorrente de 9% no FY2026″, explicam Thiago Duarte, Guilherme Guttilla e Pedro Soares.
Nesta terça-feira (12), SMTO3 terminou a sessão com queda de 4,23%, a R$ 24,24.
XP viu um 2T25 forte para SMTO3
Apesar do impacto negativo dos incêndios que atingiram parte de São Paulo, a XP Investimentos viu um trimestre sólido para São Martinho, conseguindo compensar um mix forçado pior com volumes fortes (açúcar +22,3% e etanol +23,4% na comparação anual).
A receita líquida foi de R$ 1,96 bilhão (alta anual de 28% e 7% acima da estimativa da XP) e o Ebitda ajustado foi de R$ 943 milhões (avanço de 44% em 12 meses e 24% acima do esperado), um resultado positivo principalmente devido à diluição de custos maior do que o esperado e ao aumento do etanol, com preços subindo +15,1% a/a.
“A empresa atualizou seu guidance com melhorias na operação de etanol de milho, com um capex maior e um mix de açúcar de 39%, o que é esperado. À medida que a temporada de moagem termina, esperamos que os preços do etanol sustentem sua tendência de alta e que o açúcar mantenha os preços favoráveis atuais, o que deve levar a uma ação de preço positiva à luz deste trimestre”, comentam Leonardo Alencar e equipe.
A casa de análise conta com uma recomendação neutra para ação, com preç0-alvo de R$ 33,20 e potencial de alta de 37%.
Visão da Trígono Capital para São Martinho
Para Pedro Resende, analista da renda variável da Trígono Capital, gestora especializa em small caps com R$ 2,5 bilhões sob gestão, os resultados da São Martinho foram bem sólidos, reflexo de melhores preços e volumes comercializados, principalmente do etanol, que avançou 15% quando comparado ao mesmo trimestre do ano passado. Ele também destaca o menor custo caixa unitário, que foi cerca de 5% menor. A gestora conta com uma posição na empresa.
“Lembrando que o mix está mais alcooleiro. No próximo ano, a safra será mais açucareira, já refletindo essa retomada do preço. O mercado de açúcar segue bem pressionado, sem muito espaço para aumento de ofertas, principalmente em relação a Índia e Tailândia. Quando falamos de etanol, a produção será compensada no momento em que os preços estão melhorando. E apenas 39% da expectativa de produção já foi comercializada”, diz.
No segundo semestre do ano-safra, Resende projeta uma melhora na comercialização do etanol, a partir de uma retomada dos preços. O grande destaque, segundo ele, fica para o etanol de milho e começa a se beneficiar dos menores preços do grão, que caiu 29%, e maiores do etanol, que subiu 23%. Só neste trimestre, a unidade de etanol de milho contribuiu com R$ 43 milhões no lucro operacional.
Novos investimentos e planos para o longo prazo
O analista chama atenção para os investimentos em modernização e expansão. Principalmente para o projeto das colhedoras de duas linhas, com redução do consumo de diesel, um dos maiores custos agrícolas na operação da São Martinho. Fora isso, a empresa também está em processo de expansão da capacidade de cristalização das unidades de São Paulo.
“A partir da safra 25/26, eles devem adicionar mais 100 mil toneladas de açúcar nessa capacidade instalada. Vamos ter um mix muito mais açucareiro no próximo ano, assim como a expansão da área irrigada, que visa um aumento de produtividade e longevidade do canavial”, discorre.
Outro ponto reforçado por Resende fica por conta do papel da cana-de-açúcar na descarbonização, com aplicações para etanol, SAF, hidrogênio verde e bioplástico no longo prazo. No curto prazo, a lei do Combustível do Futuro, que cria mandatos para o SAF a partir do biometano, além do aumento da mistura de etanol anidro na gasolina, que pode chegar ao teto de 35%, são gatilhos.
“A São Martinho já está com o projeto da planta de biometano em construção, um investimento de R$ 250 milhões na Unidade Santa Cruz, que vai produzir cerca de 15 milhões de metros cúbicos de biometano por safra e representará apenas 20% do potencial de biometano da São Martinho, o que antes era resíduo e hoje passa a criar valor para a companhia”.
Ele reforça que a atual precificação de mercado, em R$ 8,4 bilhões, não leva em conta toda a cana própria da companhia, as instalações industriais e nem a geração de caixa do negócio, que é bem rentável. No ano passado, os 54 mil hectares de terras próprias da empresa foram avaliados em R$ 6,3 bilhões, que é 75% do valor de mercado atual da São Martinho.
“A companhia tem sinalizado isso com um programa bem agressivo de recompras. Desde março , eles já recompraram mais de 14 milhões de ações e cancelaram mais de 21 milhões. São 6% das ações totais, o que mostra a confiança da companhia no momento atual”.