O que falta para o dólar furar os R$ 4,90?
O dólar à vista engatou ontem (18) o sexto pregão seguido abaixo da marca psicológica de R$ 5,00. Apesar de, na véspera, flertar com essa marca, a moeda norte-americana segue nos menores níveis desde junho de 2022.
No entanto, a queda do dólar foi além, chegando a beliscar os R$ 4,89 em dois pregões seguidos na semana passada. Porém, a cotação da moeda estrangeira não teve força para sustentar-se abaixo da faixa de R$ 4,90. Por quê?
Pontos que barram dólar na casa dos R$ 4,80
Da mesma forma que houve motivos para o dólar engatar quedas sequenciais até voltar a operar abaixo de R$ 5,00 após dez meses, há motivos que o impede de ficar abaixo dos R$ 4,90.
O analista de investimentos da Empiricus Research, João Piccioni, destaca dois pontos que são “chave” para a divisa estrangeira resistir a essa marca. O primeiro ponto, segundo ele, diz respeito ao processo político-econômico do país.
“A aprovação do novo arcabouço fiscal não é suficiente para sancionar um rumo equilibrado para a economia brasileira que, no limite, ainda carece de fatores positivo”, avalia.
Outro ponto, segundo Piccioni, é a questão de juros. O analista de inteligência de mercado da StoneX, Leonel Mattos, reforça que o dólar poderá furar de vez os R$ 4,90 e manter-se em patamares baixos caso o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) interrompa o ciclo de alta de juros e a taxa Selic seja mantida em patamar elevado.
“Vai fazer com que a gente tenha um diferencial de juros amplo, contribuindo para o nosso fluxo financeiro crescer. Porque a gente observa um fluxo cambial de entrada, de divisas, muito forte desde o começo do ano. Mas esse fluxo está muito concentrado na conta comercial”, observa o analista da StoneX.
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Para o profissional da Empiricus, um dos fatores que trouxe o real até aqui (abaixo de R$ 5,00) é justamente o amplo prêmio do juro real brasileiro frente ao mundo. Entretanto, Piccioni pondera que, caso o Comitê de Política Monetária (Copom) caminhe com uma política monetária mais frouxa daqui para frente, esse prêmio do “carry trade” se extinguirá.
“Portanto, se não houver coordenação com as políticas monetárias dos demais bancos centrais, o real tende a se desvalorizar”, observa. O analista da Empiricus diz ainda que o bom desempenho recente do dólar frente ao real fez par com as demais moedas de países emergentes.
Com isso, “não fomos os únicos agraciados”. O sentimento de risco do mercado global aparenta uma melhora na margem. Isso fez com que o apetite por países emergentes aumentasse. “No fundo, o dueto juro alto e apetite ao risco por parte dos investidores estrangeiros foi o que levou o real [ante o dólar] para cima”, ressalta.
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Dólar têm ‘gás’ para chegar até onde?
Contudo, Piccioni não compra a ideia de que o dólar deverá quebrar a resistência da casa dos R$ 4,90. Ele acredita que os sintomas da recessão econômica nos Estados Unidos ainda estão por vir e começarão a gerar um pouco mais de atenção.
“Nesse contexto, o dólar, que recentemente perdeu espaço frente às moedas dos países desenvolvidos, deve voltar à tona. Minha aposta é de que em breve voltaremos a ver a divisa acima da marca dos R$ 5,00”, pondera.
Mattos, da StoneX, pondera que é “difícil tentar prever” os rumos da moeda americana. Sendo assim, ele lembra que o dólar já esteve nas marcas de R$ 4,60 e R$ 4,70 um ano atrás.
“Depende muito desse cenário de conjunção de forças interna e externa, mas é muito difícil fazer essa previsão. De todo modo, a tendência é de vermos um dólar em queda ao longo deste mês”, reforça.
Por outro lado, o analista da StoneX não desconsidera os elementos de risco e pontua que eles podem inverter a trajetória de queda do dólar. “Investidores podem querer realizar lucros e inverter essa tendência de baixa”, finaliza.
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