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O que falta para grandes empresas de games entrarem no “Play to Earn”?

23 abr 2022, 18:01 - atualizado em 22 abr 2022, 14:24
Videogame Gaming controle
Movimento de entrada dos games no mercado de criptoativos é mais lento do que o esperado pela maioria do mercado (Imagem: Unsplash/Javier Martínez)

Nesta semana, o Green Metaverse Token (GMT), token de governança do jogo em blockchain Stepn, valorizou mais de 50%. O par GMT/USD foi o mais negociado na Binance, ultrapassando o Bitcoin (BTC) por breve período de tempo. O criptoativo pertence a uma classe de jogos denominada de Move to Earn, ou jogue para ganhar.

Na terça-feira (19), o token chegou a ter um volume de negociação de mais de US$ 4 bilhões, maior que o negociado pelo Ibovespa naquele mesmo dia (cerca de R$ 14 bilhões, ou US$ 3 bilhões).

O que é Stepn – e por que valorizou tanto?

Uma das principais teses dos analistas que preveem destravas de valor para esse setor – assim como para a maioria do mercado de criptoativos – é a entrada de grandes institucionais, como empresas e indústrias.

Não é à toa que um dos rumores que ajudou a alavancar a precificação do token GMT foi a de uma parceria do jogo com a Nike (NKE).

Atualmente a indústria de jogos é a maior do setor de entretenimento. Entretanto, o movimento de entrada no mercado de criptoativos é mais lento do que o esperado pela maioria.

O movimento maior e mais observado é de aquisições e fusões entre as próprias grandes marcas.

Um exemplo disso foi o anúncio feito pela Epic Games no dia 11, dizendo que levantou US$ 2 bilhões junto à Sony e à holding familiar por trás da Lego, o que avaliou a gigante por trás do “Fortnite” em US$ 31,5 bilhões, conforme noticiado pela Reuters.

Do que a indústria de games tem medo?

O setor de jogos em blockchain apresenta crescimentos desde 2021, ano que foi marcado pelo número considerável de informações e projetos envolvendo tokens não fungíveis (NFTs) e o metaverso, conforme apontam analistas da Dux Games.

O assunto tornou-se mais evidente em outubro, quando Mark Zuckerberg alterou para Meta Inc. o nome da companhia que gere os aplicativos mais difundidos e conhecidos mundialmente, como Instagram, Facebook e WhatsApp.

Para Vinicius Guedes, analista da Dux Games, o cenário play-to-earn também cresceu abruptamente nesse mesmo ano.

“Muito por causa do pioneirismo do jogo Axie Infinity, que gerou visibilidade e integração de comunidades, entendimento do que são NFTs e criação de scholarships [sistema de ‘escolinhas’] no mundo todo, abrindo caminho para o surgimento de centenas de jogos nesse mesmo cenário.” 

No entanto, para ele, o que mais impede a migração de grandes marcas de jogos para o mercado cripto atualmente é a falta de regulamentação.

“É um ponto relevante para que as grandes empresas se afirmem em projetos que utilizam tokens, seria muito arriscado para imagem da empresa entrar em projetos que não possuem leis, regulamentações ou previsibilidade.”

Além disso, conforme explica, não existe um consenso entre as nações, pois muitas pessoas ainda são leigas em questões tecnológicas que envolvem blockchain que são a base da Web3 e jogos de criptomoedas.

“Mas nada impede que uma empresa faça investimentos, desenvolva tecnologias e apoie projetos menores que estão surgindo, para entender melhor esse novo universo sem se  comprometer”, aponta.

De EA à Ubisoft: As “grandes” estão de olho nas criptomoedas

Embora o movimento possa passar despercebido, algumas das grandes marcas consolidadas do meio já vem se mostrando inclinadas para a adoção da tecnologia cripto.

Confira algumas das maiores do setor que apontam uma tendência a investir em jogos de blockchain, e como planejam fazer esse movimento:

Tencent

 A Tencent é o maior conglomerado chinês de games, principalmente após a compra da Riot Games desenvolvedora do League of Legends (LOL), o maior jogo do estilo Multiplayer Online Battle Arena (MOBA), e está avaliada em US$ 555 bilhões.

“A Tencent realizou em setembro do ano passado o registro de várias marcas incluindo o  termo metaverso. Dentre as mais relevantes estão a Timi Metaverse, que faz referência ao estúdio de games Timi da Tencent e a Kings Metaverse, que faz referência a Honors King, um jogo de celular muito popular na China”, explica.

A Tencent Music também realizou seu primeiro festival chamado “Timeland”, em que todos participantes possuíam um avatar para interação.

Além disso, a empresa tem investido em plataformas que estão se incorporando ao metaverso, como Roblox, Fortnite da Epic Games, Activision, Blizzard, Ubisoft e a Avakin Life, desenvolvedora de simulação 3D.

“Todos esses fatores indicam que a gigante tem grande potencial para se tornar líder global do metaverso.”

Sony

A Sony, em conjunto com a Lego, investiu o valor de US$ 2 bilhões na Epic Games para construção do metaverso.

O CEO Kenichiro Yoshida disse que “estamos confiantes na expertise da Epic, incluindo seu poderoso mecanismo de jogo que  combinado com as tecnologias da Sony vai acelerar nossos vários esforços, como o desenvolvimento de novas experiências digitais de fãs nos esportes e iniciativas de produção virtual.”

Microsoft

Atualmente, a Microsoft está avaliada em US$ 2,3 trilhões, dominando o setor de games.

A Xbox Game Studios é uma suborganização responsável por games na Microsoft desde 2000. Recentemente, com o lançamento, do Xbox Game Pass superou 25 milhões de assinantes.

Guedes comenta que o principal projeto da Microsoft envolvendo o metaverso é a criação do Microsoft Mesh, uma versão atualizada do Microsoft Teams que vai utilizar transporte de avatares por hologramas para criar experiências em tempo real.

“No entanto, o objetivo do Microsoft Mesh não é apenas realizar reuniões virtuais, e sim impulsionar o desenvolvimento de tecnologias para o Metaverso, que estarão integradas aos diversos dispositivos de realidade virtual, como fones, tablets, celulares, computadores e o HoloLens 2, óculos de realidade virtual desenvolvido pela própria Microsoft para interações de realidade mista.”

Nintendo

A Nintendo é uma das “grandes” que gera expectativa entre entusiastas do mercado cripto devido ao sucesso da companhia no mundo de games.

No entanto, Shuntaro Furukawa, presidente da Nintendo, pontua que “não tem pressa”, e que o foco da empresa é que “seus players tenham diversão”. Em entrevista, o presidente comentou:

“O metaverso está atraindo atenção de muitas companhias no mundo todo, e nós  acreditamos que tem muito potencial. Quando o conceito de metaverso é apresentado na mídia, jogos como Animal Crossing: New Horizons são às vezes trazidos como exemplo. Nesse sentido, essa tecnologia é do nosso interesse. Por outro lado, não é um caminho fácil para definir especificamente quais tipos de surpresas e diversão o metaverso pode entregar para nossos clientes.”

“Como uma companhia que oferece entretenimento, nosso objetivo são formas de entregar novas surpresas e diversão para nossos clientes. Se encontrarmos um caminho para comunicar a abordagem da Nintendo para muitas pessoas e de maneira fácil de entender, nós seremos capazes de considerar algo, mas não consideramos que esta seja a situação no atual momento.”

Roblox

Roblox Corporation, avaliada em US$ 44 bilhões, oferece uma experiência digital compartilhada que une as pessoas através do jogo. 

O analista explica que a gigante está focada na construção de um metaverso dentro da tecnologia de games já existentes e não em um amplo investimento em tecnologias de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR).

“A Roblox investe em plataformas de comunidades online, as guildas, e também adquiriu recentemente a Loom.ai uma startup focada na criação de avatares digitais”.

O Chief Business Officer, Craig Donato, já comentou que “o maior desafio no desenvolvimento de um metaverso é criar regras com o intuito de prevenir que se torne um Velho Oeste”.

Electronic Arts

A Electronic Arts, tem um valor de mercado de US$ 38,7 bilhões, sendo a principal patrocinadora da FIFA. Além disso, a Electronic Arts oferece jogos, conteúdo e serviços online para consoles, PCs, telefones celulares e tablets conectados à internet.

Existem especulações de que a EA Sports não renovará o contrato com a FIFA. Como alternativa, a EA teria pretensão de monetizar com NFTs.

O CEO Andrew Wilson mencionou de forma otimista: “NFTs e games jogar para vencer (play-to-earn) são o futuro da nossa indústria. Eu acho que no contexto de games que nós criamos e nos serviços de live que oferecemos, conteúdos digitais colecionáveis vão representar uma significativa parte no nosso futuro.”

Wilson finalizou dizendo que ainda é cedo para comentar, mas acha que “estamos em uma posição muito boa, e  devemos esperar que pensemos de forma mais inovadora e criativa sobre isso no futuro”.

Ubisoft

A Ubisoft possui um valor de mercado de US$ 7,4 bilhões. Sua relevância no mercado atual consiste em franquias como Assassin’s Creed e Far Cry.

Além disso, a Ubisoft é produtora, editora e distribuidora de produtos de entretenimento interativo. 

Para inserção no mercado de cripto, a Ubisoft criou a plataforma Quartz para os jogadores adquirirem ativos digitais chamados de Digits, conforme apontado por Guedes. 

“Os Digits são NFTs exclusivos que podem ser veículos, armas e até peças de equipamentos, segundo informações disponibilizadas na Quartz. No lançamento, os Digits estarão disponíveis apenas para jogadores do Tom Clancy’s Ghost Recon, que foi lançado em 2010 e são baseados nos best-sellers do escritor Tom Clancy.”

Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
leonardo.cavalcanti@moneytimes.com.br
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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