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O que falta para a criptoeconomia brasileira evoluir? Regulação ajuda, mas…

26 nov 2025, 8:00 - atualizado em 25 nov 2025, 16:19
Proposta de uma reserva estratégica de bitcoin (BTC) no Brasil. (Imagem: Qwen)
Entenda como a perda da MP 1.303/2025 foi crucial para a criptoeconomia e a regulação dos criptoativos no Brasil. (Imagem: Qwen)

A perda de validade da Medida Provisória (MP) 1.303/2025 representou mais do que uma vitória pontual: foi um marco para a consolidação do diálogo institucional e da maturidade regulatória do ecossistema de criptoativos, também chamado tecnicamente de criptoeconomia, no Brasil.

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O texto, que previa aumento de tributação sobre criptoativos, gerava distorções relevantes, como a eliminação da isenção mensal de R$ 35 mil e a retenção de imposto na fonte em operações como o staking. A reação coordenada entre setor público e privado mostrou que é possível buscar arrecadação sem comprometer a inovação e a competitividade do setor.

Desde o anúncio da MP, a ABcripto manteve uma interlocução técnica constante com o governo e o Congresso, apresentando dados e argumentos sólidos sobre os efeitos negativos que a medida traria para o mercado formal e para milhões de investidores brasileiros. Esse diálogo foi essencial para demonstrar que a tributação desproporcional não fortalece o Estado apenas desloca a atividade para ambientes informais ou plataformas estrangeiras fora do alcance da regulação nacional.

A derrubada da MP reforça que o caminho mais eficaz é aquele construído com previsibilidade, segurança jurídica e escuta ativa entre governo e setor produtivo.

Mas o debate não termina aqui. A queda da MP abre espaço para que o foco avance sobre pautas estruturantes, como a efetivação da segregação patrimonial das corretoras de criptoativos — uma demanda antiga do mercado e essencial para a proteção do investidor.

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O projeto, aprovado pela Câmara dos Deputados em novembro de 2024, determina que os ativos dos clientes devem ser mantidos separados dos recursos próprios das plataformas, prevenindo riscos de insolvência e garantindo maior transparência nas operações.

Proteção à criptoeconomia nacional

A segregação patrimonial é mais do que uma formalidade: é um divisor de águas para a segurança do ecossistema.

Em mercados maduros, essa prática é condição básica para que fundos institucionais e investidores de maior porte atuem com confiança. No Brasil, sua implementação permitirá que o país avance para uma regulação mais sólida e eficiente, reduzindo riscos sistêmicos e ampliando o acesso de novos players. Trata-se de um passo fundamental para consolidar o ciclo de amadurecimento iniciado com a Lei 14.478/2022, que reconheceu oficialmente os prestadores de serviços de ativos virtuais.

Outro avanço decisivo para a evolução da criptoeconomia vem com a regulamentação publicada pelo Banco Central, um marco histórico que define as regras para o funcionamento das empresas do setor.

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O conjunto das Resoluções BCB nº 519, 520 e 521, que entram em vigor em 2 de fevereiro de 2026, estabelece critérios claros para autorização, governança, segurança e transparência das prestadoras de serviços de ativos virtuais agora denominadas Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (SPSAVs). Essas empresas poderão atuar como intermediárias, custodiante ou corretoras, integrando o setor de criptoativos ao sistema financeiro nacional.

As normas também enquadram operações com criptoativos, como pagamentos internacionais e transações com stablecoins, dentro das regras do mercado de câmbio e capitais internacionais. O objetivo é garantir maior segurança jurídica, padronização e integração do setor à economia formal.

Esse é um passo essencial para que o Brasil avance de um mercado em consolidação para um ecossistema institucionalizado, capaz de atrair investimentos e ampliar sua relevância global.

O marco é positivo e necessário, mas também traz desafios. O prazo de adequação curto e o capital mínimo exigido — cerca de dez vezes superior ao valor sugerido na consulta pública — geram preocupação entre empresas e investidores. É fundamental que a regulação fortaleça a confiança e a integridade do mercado sem criar barreiras desproporcionais que limitem a competitividade ou afastem novos entrantes.

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E não para por aí…

Por outro lado, há avanços importantes.

A ênfase do Banco Central em certificações e comprovações de conformidade, especialmente nas áreas de prevenção à lavagem de dinheiro (PLD/FT) e segurança operacional, é um sinal de maturidade regulatória. A ABcripto já atua nesse sentido, com iniciativas como o Selo ABcripto de Conformidade em Custódia e PLD/FT e a ferramenta Contra Golpe, voltada à prevenção de fraudes e à proteção do investidor — esforços que reforçam o compromisso do setor com a ética e a transparência.

O Brasil tem uma oportunidade única de consolidar-se como referência global em regulação responsável, capaz de proteger investidores, estimular a inovação e impulsionar a economia digital. Hoje, o país já conta com cerca de 38 milhões de CPFs cadastrados em exchanges registradas na Receita Federal, o que demonstra o alcance social e econômico da criptoeconomia. O desafio agora é transformar essa base sólida em um ambiente ainda mais seguro, competitivo e sustentável.

A agenda regulatória deve ser contínua e colaborativa, garantindo que a evolução tecnológica venha acompanhada de supervisão efetiva e diálogo institucional. O sucesso dessa construção depende da atuação conjunta entre Estado, empresas, entidades de classe e investidores, todos comprometidos com o mesmo objetivo: consolidar um mercado íntegro, confiável e inovador.

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A criptoeconomia brasileira já provou sua capacidade de se organizar, propor soluções e dialogar com as instituições. O que falta para ela evoluir de forma definitiva é a consolidação

de uma regulação moderna, estável e proporcional — que valorize quem cumpre regras, estimule a inovação e mantenha o Brasil na vanguarda global da transformação financeira.

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Diretor-presidente da ABcripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia)
Bernardo Srur é diretor-presidente da ABcripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia). É executivo com mais de 15 anos de experiência em governança, mercado financeiro, criptomoedas e economia digital. Apaixonado por tecnologia, envolvido ativamente em temas ligados à regulação, inovação e evolução digital. Já foi conselheiro da ABCripto responsável pelo desenvolvimento da autorregulação para o setor de criptomoedas brasileiro, foi diretor de Risco e Compliance na 2TM/Mercado Bitcoin responsável pela implantação das práticas de integridade e PLD na maior exchange do Brasil, gestor na B3, Cetip, Hospital Albert Einstein e KPMG.
Bernardo Srur é diretor-presidente da ABcripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia). É executivo com mais de 15 anos de experiência em governança, mercado financeiro, criptomoedas e economia digital. Apaixonado por tecnologia, envolvido ativamente em temas ligados à regulação, inovação e evolução digital. Já foi conselheiro da ABCripto responsável pelo desenvolvimento da autorregulação para o setor de criptomoedas brasileiro, foi diretor de Risco e Compliance na 2TM/Mercado Bitcoin responsável pela implantação das práticas de integridade e PLD na maior exchange do Brasil, gestor na B3, Cetip, Hospital Albert Einstein e KPMG.
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