CryptoTimes

O que este mês de maio ensina sobre o futuro do mercado de criptomoedas?

24 maio 2023, 17:47 - atualizado em 24 maio 2023, 18:09
Janeiro 2023 criptomoedas imposto de renda IR 2023
No Bitcoin, vemos um aumento na quantidade de moedas acumuladas pelos Long Term Holders, os investidores de longo prazo do ativo que não tendem a negociá-lo tão frequentemente (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração)

* Por Rony Szuster, analista do MB Research

Nesse mês de maio, vivenciamos diversos eventos relevantes no mercado de criptomoedas, entre eles o boom das memecoins, liderada pelo token PEPE; o congestionamento na blockchain do Bitcoin, devido a tokens BRC-20 e ordinals; as falhas na finalidade da Ethereum e a controvérsia sobre atualização da Ledger que permitiria backdoor para as chaves privadas da carteira de custódia fria.

Vamos entrar no detalhe de cada um deles, mas antes, uma breve análise do mercado como um todo. O Bitcoin, bem como o mercado de modo geral, vem performando negativamente no mês, tendo saído do patamar de US$28.600 e atingindo – no momento da escrita – a marca dos US$ 26.400, enquanto que o ether estava em US$ 1.850 no início do mês e agora se aproxima dos US$ 1.815.

Quedas nada expressivas para quem está acostumado com o mercado de criptomoedas, nós acreditamos que seja mais um movimento de correção dos últimos meses do que uma nova tendência a longo prazo.

Quanto aos dados On Chain [extraídos do blockchain], vemos um aumento considerável na fila de validadores na Ethereum, com mais de 60.000 esperando para depositar seus etheres em stake, bem como apenas 3 validadores na fila de saques.

No Bitcoin, vemos um aumento na quantidade de moedas acumuladas pelos Long Term Holders, os investidores de longo prazo do ativo que não tendem a negociá-lo tão frequentemente. Essa categoria de investidores já possui mais de 14,5 milhões de unidades do ativo, segundo dados da Glassnode. 

O saldo de Bitcoin em corretoras também vem apresentando tendência de queda nas últimas semanas, com os investidores sacando suas criptos provavelmente para auto custódia, dado todo o cenário de derrocada do ano passado (Celsius, BlockFi, FTX), ainda vivo na mente.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O ‘boom’ das criptomoedas memes

Voltando aos principais tópicos, o primeiro tópico relevante do mês foi o Boom das memecoins, capitaneado pela satírica PEPE Coin, uma criptomoeda ‘memética’ associada a um sapo, comum no ambiente degenerado.

A criptomoeda, que foi lançada no meio de abril, atingiu seu valor histórico (ATH) no dia 5 de maio, chegando a um valor de mercado acima de US$1,6 bilhões em poucas semanas e quebrando todos os recordes de crescimento anteriores. 

Outras criptomoedas memes foram arrastadas pelo movimento, entre elas podemos citar FLOKI e LADYS, que também apresentaram valorizações expressivas, apesar de serem consideravelmente menores que a da PEPE. O movimento levou a um congestionamento forte na rede da Ethereum, fazendo com que disparassem as taxas de gas e a quantidade de etheres queimadas.

No blockchain do Bitcoin, o congestionamento foi causado também por memecoins e projetos de NFTs novos, nomeadamente a criação dos tokens BRC-20, uma forma de tokens fungíveis da rede e os NFTs criados pelo ordinals. 

Este movimento dividiu a comunidade bitcoiner em dois grandes grupos, os puristas, que acreditam que o blockchain deve ser utilizado apenas para transações financeiras, como Satoshi Nakamoto previa em seu whitepaper, e os favoráveis ao uso do ordinals e tokens BRC-20, que acreditam que a rede pode sim evoluir e ter outras finalidades, como o uso de NFTs.

Problemas no Ethereum (ETH)

Seguindo em nossa lista, tivemos os eventos que ocorreram no blockchain da Ethereum nos dias 11 e 12 de maio, nos quais ocorreu a perda de finalidade da rede, ou seja, as transações, apesar de conseguirem ser processadas corretamente pelo blockchain, não conseguiam entrar de forma canônica na chain.

Este evento ocorreu devido a problemas em dois dos grandes clients da camada de consenso (Beacon Chain) da rede, o Prysm e o Teku.

O que ocorreu foi que diversos nós que rodavam esses clients e possuíam máquinas não muito potentes, acabaram ficando offline e não conseguiam mais propor e atestar os blocos da rede, prejudicando o mecanismo de consenso da mesma.

Ao perceber o problema, automaticamente a rede acionou o mecanismo de ‘Inactivity Leak’, que basicamente atribui a cada validador uma nota que vai aumentando conforme ele fique offline e fora do processo de consenso.

Ao atingir certa nota-limite, a rede começa a punir esses validadores, retirando etheres depositados por eles para a validação e queimando-os, até que os clients que estivessem online tivessem novamente a super maioria dos comitês de validação (equivalente a ⅔ do total), o que permite que retorne a finalidade dos blocos na rede.

Nesta live, o autor do texto detalha mais profundamente o mecanismo de Inactivity Leak e são discutidos os impactos da ativação desse mecanismo na Ethereum.

Ledger levanta polêmicas e mais

Por fim, tivemos o anúncio da atualização da Ledger, popular hardwallet do mercado, que permitiria o acionamento de um processo para a recuperação das chaves privadas da carteira. O anúncio gerou muita repercussão no mundo cripto, uma vez que deveria ser impossível que terceiros tivessem acesso a esse dado.

Outros destaques do mês ficaram para a Bitcoin Miami, uma das maiores conferências de bitcoiners do mundo, que está ocorrendo nos Estados Unidos dos dias 18 a 20 de maio. 

Entre os palestrantes mais notáveis estariveram presentes: Nic Carter, da Coindesk,  Arthur Hayes, ex-CEO da BitMEX e Michael Saylor, presidente da Microstrategy. Entre os temas discutidos estarão o Ordinals e o protocolo BRC-20 já supracitados.

Os entusiastas da Ethereum se juntam em Montenegro para a EDCON, conferência de cinco dias sobre o protocolo e suas aplicações com presenças igualmente pesadas de Vitalik Buterin, co-fundador da Ethereum, Tim Beiko, entre outros.

O que está por vir no mercado de criptomoedas?

Para o próximo mês, vale a pena acompanhar o volume de memecoins e ordinals negociadas nas principais exchanges, já que quase todas listaram os ativos nas últimas semanas, bem como as taxas de gas da ethereum. 

A proximidade do halving do Bitcoin (que ocorrerá no meio do próximo ano) também fortalece a narrativa dos criptoativos, junto com a derrocada de diversos bancos americanos causada pelo forte aumento de juros do FED nos últimos anos. 

Esse movimento reacendeu a tese do Bitcoin como uma reserva de valor autocustodiada e também deve ser algo a ser acompanhado pelo investidor, bem como as decisões do FOMC acerca de novos aumentos da taxa-base de juros americanas, que sempre afetam mercados e ativos de risco, como os criptoativos.

A próxima reunião do comitê ocorrerá no dia 14/06 e as expectativas atuais do mercado se dividem em cerca de 80% acreditando que não haverá aumento na taxa-base, contra os outros 20% que acreditam em um aumento de 25 bips ao final da reunião.

Rony é Engenheiro Químico com pós-graduação em Engenharia de Software, imerso no mercado cripto desde 2019 e analista contribuidor independente da Messari em 2021. Atualmente integra a equipe de analistas de criptoativos da Mercado Bitcoin.