O que esperar dos mercados com Bolsonaro ou Haddad?
Por Angelo Pavini, da Arena do Pavini — Agora é oficial: o Brasil será governado ou por Jair Bolsonaro, do PSL, ou por Fernando Haddad, do PT. O que isso pode significar para o país que está saindo de uma das suas piores crises econômicas dos últimos 100 anos, com um déficit fiscal elevado e um problema de grave desequilíbrio estrutural da Previdência Social em meio a um ambiente de alta dos juros nos Estados Unidos?
Volatilidade ainda alta
Para a corretora Guide Investimentos, a volatilidade dos mercados deverá se manter elevada entre o 1º e 2º turno da eleição presidencial. Ainda assim, uma vitória do candidato mais reformista deve destravar valor do Índice Bovespa, visto que a bolsa brasileira segue em patamares atrativos levando em conta alguns indicadores. O primeiro desses indicadores é a relação entre o preço dos papéis e o lucro projetado para as empresas, o P/L. Hoje, o preço das ações do Ibovespa equivale a 10,7 vezes o lucro das empresas, enquanto o resto do mundo está mais caro, com um preço equivalente a 15 vezes o lucro. O Ibovespa também está sendo negociado próximo dos 20 mil pontos em dólar, abaixo da média dos últimos 8 anos, de 25 mil pontos em dólares.
A Guide destaca ainda as perspectivas para as empresas locais e, especialmente, ativos que ainda não foram corretamente precificados, e que podem surpreender de forma positiva nos próximos meses em uma eventual vitória de Bolsonaro. “Algumas empresas estão melhor preparadas para aproveitar os ventos mais favoráveis deste novo ciclo, que vislumbramos com um candidato reformista no poder”, diz a corretora.
Preferência e aposta em Bolsonaro
Os investidores têm mostrado preferência pelo candidato do PSL, como ficou claro na semana passada, quando as pesquisas de intenção de voto mostraram o crescimento do apoio a Bolsonaro. A proposta de implantar uma política econômica liberal e, mais que isso, impedir a volta da esquerda e do PT animaram os investidores ao longo da semana. Na sexta-feira, porém, o Índice Bovespa caiu, em um ajuste de posições para aguardar o resultado da votação, afirma Filipe Villegas, analista da corretora Genial Investimentos.
A movimentação da semana passada surpreendeu, com papéis como Petrobras e Banco do Brasil subindo mais de 20% em 30 dias com a especulação de que Bolsonaro poderia vencer no primeiro turno. “Havia a expectativa até de mais euforia na sexta-feira, mas, com a realização no dia, o mercado já se antecipou e precificou uma chance de segundo turno”, diz Villegas.
Mesmo assim, é possível que a frustração com um segundo turno leve o mercado a realizar um pouco dos lucros nesta semana, avalia o analista. Mas, mesmo sem uma vitória no primeiro turno, o humor do investidor tende a se consolidar e há espaço para novas altas, talvez não de imediato, mas ao longo do último trimestre do ano. “Se o resultado (vitória de Bolsonaro) se confirmar, o mercado já antecipou 25% a 30% do ganho e ainda pode subir mais”, estima Villegas.
Alta limitada pelos desafios das reformas
Ele não acredita, porém, que Índice Bovespa bata imediatamente em 100 mil pontos com Bolsonaro, como alguns analistas estimam. Em um estudo feito com base na movimentação do Ibovespa, seus desvios padrões, Villegas estima que o índice teria uma resistência entre 90 mil e 92 mil pontos. “Em um primeiro momento, se houver uma alta forte, o índice iria no máximo atingir esse nível”, acredita. Ele admite, porém, que uma eventual euforia poderá levar o índice a subir mais, pelo fluxo de entrada de investimentos. “Mas temos uma agenda de reformas impopulares difícil de ser aprovada que vai segurar a alta do mercado”, acredita. Assim, à medida que as reformas forem se confirmando viáveis, o mercado poderá avançar.
Ataques e debates devem dar o tom do segundo turno
No segundo turno, o grande impasse deve ser o debate entre os dois candidatos, acredita Villegas. “Mais que as pesquisas, os debates, os ataques, devem dar o tom do mercado”, afirma.
Mas se 100 mil pontos para o Ibovespa no caso de vitória de Bolsonaro é um exagero, também é exagerado estimar 60 mil pontos para o índice se Fernando Haddad vencer, diz Villegas. Segundo ele, o candidato do PT está se aproximando do mercado, e analistas políticos acreditam que ele faria um governo diferente do de Dilma Rousseff. Com isso, o índice pode se estabilizar entre 74 mil e 75 mil pontos, até Haddad definir sua política econômica.
Ações para Bolsonaro e para Haddad
Villegas tem duas carteiras, para o caso de vitória de Bolsonaro ou de Haddad.
Caso Bolsonaro ganhe, pela expectativa de euforia do mercado, as grandes beneficiadas seria as empresas estatais, ou com correlação forte com o Índice Bovespa, como a bolsa B3, o Banco do Brasil, Petrobras e Eletrobrás. Empresas de seguros, como SulAmérica (ou Porto Seguro), também ganhariam, pois a expectativa é de alta dos juros, que aumentam os ganhos das carteiras de investimento dessas empresas.
Já no caso de vitória de Haddad, seriam beneficiadas empresas com receita em dólar, como exportadoras, além do setor de construção civil, especialmente empresas voltadas para moradia popular e baixa renda, pelos incentivos que seriam dados ao programa Minha Casa Minha Vida. O setor de educação também seria beneficiado, pelos incentivos para bolsas de estudos. Nessa lista estariam as exportadoras Suzano Papel, Weg, a empresa de educação Estácio e a Porto Seguro (ou SulAmérica) e a construtora MRV, que atua junto à baixa renda.
Em ambos os cenários, independentemente do candidato, Villegas espera uma elevação da taxa de juros, por isso a aposta em seguradoras.
Dólar vai repercutir chances de Bolsonaro
E para o dólar, o que se pode esperar? A equipe de análise do banco ABC Brasil fez uma avaliação considerando os cenários para o segundo turno. Segundo o banco, pesquisas entre gestores de fundos de investimentos, sobre qual seria o nível do dólar no caso da vitória de Bolsonaro ou de Haddad, mostram que a mediana das repostas ficou em R$ 3,50 para o caso do candidato do PSL e em R$ 4,55 se a vitória for do petista. “Ou seja, poderíamos considerar que um patamar “justo”, considerando que as pesquisas de 2º turno estão mostrando uma chance de 50% para cada cenário, seria algo próximo de R$ 4,00”, diz o ABC Brasil.
Portanto, para a moeda americana estar operando entre R$ 3,85 e R$ 3,90 como na semana passada, seria porque o mercado está colocando no preço alguma chance de vitória de Bolsonaro já no 1º turno. Como isso não aconteceu, seria o caso de o dólar se aproximar dos R$ 4,00. Mas isso não é uma certeza, diz o banco. Mesmo que Bolsonaro não ganhe, mas saia das urnas no domingo com uma vantagem confortável para Haddad, o mercado vai precificar uma probabilidade maior do que os 50% que as atuais pesquisas de 2º turno mostram para uma vitória do ex-capitão.
Assim, diz o ABC Brasil, o importante é a leitura do resultado das urnas no primeiro turno e se ele vai mostrar uma força de Bolsonaro maior do que a indicada nas últimas pesquisas. O que parece ser o caso, já que o candidato do PSL terminou com 46,03% dos votos válidos*. Ele precisará apenas manter os atuais eleitores e conseguir 4 pontos percentuais de outros candidatos. Já Fernando Haddad, com 29,28% dos votos válidos, teria de conseguir 21 pontos percentuais de votos*.
Dólar entre R$ 3,54 e R$ 5,05
A eleição de um candidato contrário às reformas, papel hoje de Fernando Haddad, do PT, poderia levar o dólar, em um cenário pessimista, para R$ 5,05, estima a corretora Guide Investimentos. No cenário otimista, com Haddad, a moeda americana ficaria em R$ 4,21 e, no mais provável, em R$ 4,61. As projeções levam em conta a paralisação das reformas e das privatizações, o que comprometeria o crescimento gradual da economia.
Haveria ainda um desalinhamento do Congresso com o Executivo e um aumento do prêmio de risco do país, com fuga de recursos estrangeiros de ativos brasileiros. “Nesse contexto, vemos um ciclo de ligeiro crescimento (ou mesmo estagnação) do lucro das empresas, com expectativa de encarecimento do custo do serviço da dívida e volumes de venda em patamares ainda fracos”, diz a Guide. “Assim, vemos que o Ibovespa poderia recuar para um patamar próximo de 63 mil pontos”, estima a corretora.
Já no caso de vitória de um candidato que apoie as reformas, ou seja, Bolsonaro, a expectativa é de melhora econômica, com índices de confiança melhorando nos próximos meses em diversos setores. A Guide espera também um maior alinhamento do Congresso com o Executivo, um avanço nos ajustes fiscais e reformas estruturais e, como resultado, uma maior aplicação de investidores locais e estrangeiros em ativos brasileiros. Isso poderá levar a uma aceleração do crescimento econômico e do lucro das empresas, o que permitira um Índice Bovespa no cenário base de 96 mil pontos e, no cenário mais otimista, de 105 mil pontos. O dólar, por sua vez, recuaria para R$ 3,67 no cenário base e R$ 3,54 no otimista.
Carteiras Bolsonaro e carteira Haddad
Para a Guide, no cenário de vitória de Bolsonaro, as principais recomendações seriam ações de empresas estatais, do setor financeiro, de commodities, e empresas com maior exposição à atividade doméstica. O dólar ficaria abaixo de R$ 4,00 e o risco-Brasil, medido pelos Credit Default Swaps (CDS), ficaria perto dos 150 pontos base, ou 1,5 ponto percentual acima do juro americano. Os juros no Brasil subiriam mas mais gradualmente.
No caso de Haddad, a corretora vê oportunidades em dólar, em ações de empresas de energia (transmissão em especial), no setor financeiro (exceto bancos) por conta da alta dos juros e no setor de saúde. O cenário mais provável é de dólar acima de R$ 5,00, o risco-Brasil do CDS em 300 pontos base (3 pontos percentuais) e um aperto monetário mais acelerado puxando os juros.