O que esperar do 4T24 do varejo? BTG aponta mantra para investir no setor em meio a dicotomia macro vs micro
O ano de 2024 está para acabar, deixando no horizonte um cenário macroecômico longe do favorável para empresas do segmento de varejo. O atual quadro fiscal brasileiro vem servindo como justificativa para o aumento da taxa básica de juros (Selic), que caminha para atingir o patamar de 14,25% já em março de 2025.
Seguindo a projeção dada no comunicado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de mais duas elevações de 1 ponto percentual na taxa, a Selic ultrapassaria os 13,75% do cenário pós-pandemia.
- LEIA AQUI: Fique por dentro dos melhores conteúdos do Money Times sem pagar nada por isso; saiba como
Na visão preliminar de resultados do quarto trimestre de 2024 (4T24) do BTG Pactual, apesar de um cenário de taxas de juros e do endividamento ainda elevados, os varejistas brasileiros registraram tendências melhores nos últimos trimestres, com base em uma combinação de expansão decente da receita líquida e, principalmente, melhorias na margem.
Os analistas do banco ponderam ainda que a expansão da receita líquida vem sendo ajudada por volumes melhores, após um período em que o crescimento foi quase exclusivamente impulsionado por aumentos de preços.
O que esperar para o 4T24
Para a próxima temporada de balanços, o BTG estima que a receita líquida de varejo da Lojas Renner (LREN3) cresça 10% na base anual, com crescimento de 9% nas vendas de mesma loja (SSS), com aumento de 20 pontos base (bps) na margem bruta anual e elevação de em média 200bps margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) anual na operação de varejo, a normal contábil pós-IFRS16.
Os analistas do banco comentam que a divisão de financiamento ao consumidor da Renner provavelmente registrará números melhores na base anual, com estimativa de R$ 60 milhões de lucro operacional, ante R$ 3 milhões no quarto trimestre de 2023.
Enquanto isso, a receita líquida de vestuário da C&A (CEAB3) deve aumentar 10% na base anual, com aumento de 8% nas vendas líquidas consolidadas. Para a margem Ebitda consolidada na base anual (pós-IFRS16), a estimativa é de um aumento de em média 100bps.
Na Azzas 2154 (AZZA3), o BTG espera que a receita líquida consolidada cresça cerca de 13%, com a Hering subindo 16%. Enquanto isso, a margem Ebitda recorrente (pós-IFRS16) deve ficar estável na base anual, em 16,6%, impactada pelo processo de integração entre Arezzo e Grupo Soma.
Já a Vivara (VIVA3), na visão dos analistas, provavelmente crescerá sua receita líquida em 19% no ano, com a margem Ebitida excluindo IFRS16 aumentando 190bps na base anual.
Enquanto isso, os analistas esperam que a receita líquida do Grupo SBF (SBFG3) cresça em torno de 1% na base anual, com margem bruta de em média 140bps no ano.
Já sobre Magazine Luiza (MGLU3), a expectativa é que o GMV (volume bruto de mercadorias) online da cresça 5% na base anual, com um GMV consolidado de +6% e alta de 10% em vendas de mesma loja (SSS).
Já os resultados no setor farmacêutico devem permanecer resilientes, com a receita líquida da RD Saúde (RADL3) crescendo ~16% no ano, com SSS consolidado +8,5%.
Varejo alimentar dá para engolir?
Em relação aos varejistas de alimentos, embora o BTG aponte que a inflação de alimentos tenha melhorado gradualmente em relação aos níveis do ano passado, o segmento ainda enfrenta uma perspectiva altamente competitiva, com alguns nomes do setor acelerando o crédito para aumentar os volumes, bem como a alavancagem financeira persistentemente alta de algumas empresas.
O SSS deve crescer torno de 4,5% no ano no Assaí (ASAI3), com vendas 11% maiores e margem Ebitda estável na base anual.
Já sobre a divisão de varejo do Carrefour (CRFB3), o banco espera que o SSS da divisão de varejo, enquanto o SSS do Atacadão provavelmente também crescerá 6%.
Já o Grupo Mateus (GMAT3), com um desempenho melhor entre os pares, deve registrar um crescimento de 6% na base anual (a/a) no SSS, excluindo o canal de atacado (vendas líquidas aumentaram 19% a/a), com a margem Ebitda (pós-IFR16) aumentando 70 pontos-base na comparação anual.
Por fim, o BTG estima um crescimento de 31% na base anual para receita líquida da Smart Fit (SMFT3), com margem Ebitda aumentando em média 100bps a/a.
O mantra do BTG para investir no varejo
Além da tese macro, os analistas do BTG apontam que, apesar do efeito negativo das taxas mais altas sobre o consumo e os processos de desalavancagem das empresas, os fundamentos ainda são fortes, como observado nos últimos trimestres, fomentando as boas perspectivas para o quarto trimestre, tanto para receita líquida quanto para margens.
Ainda, a maioria dos nomes do setor reduziu a alavancagem financeira desde o pico após a pandemia, com muitos deles estendendo os prazos de pagamento em condições mais favoráveis. No entanto, a falta de entradas de investimentos no Brasil, as altas taxas de juros e uma economia com sinais dissonantes estão aumentando a aversão ao risco.
“E com possíveis revisões negativas para os players mais alavancados nos próximos trimestres, temos falado muito sobre o mantra para se investir no setor de varejo: baixa alavancagem financeira, momento operacional decente e valuation atraente”, diz o BTG.
Mercado Livre, Grupo Mateus, Vivara, Lojas Renner e Smart Fit são as top picks do BTG Pactual no setor.