Economia

O que é preciso para o pacote fiscal ter êxito, segundo Mansueto Almeida

26 nov 2024, 17:17 - atualizado em 26 nov 2024, 17:44
Western Asset
Mansueto Almeida e Caio Megale discutiram as contas públicas no Brasil (Imagem: Renan Dantas/Money Times)

O pacote fiscal do governo, que deverá ser anunciado até o final da semana, precisa vir acompanhado de declarações e medidas que reforcem o compromisso com um maior controle das contas públicas, afirmou o economista-chefe do BTG, Mansueto Almeida, em evento da Western Asset ocorrido em São Paulo nesta terça-feira.

“No entanto, se o pacote for uma iniciativa isolada, sem continuidade ou medidas complementares consistentes, a análise de sua real eficiência poderá revelar dificuldades em atingir as metas fiscais estabelecidas. O objetivo dessas medidas é aumentar a confiança de que o crescimento real do gasto público federal estará alinhado com o limite de 2%”, afirmou.

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Segundo informações, a expectativa é de que a equipe econômica anuncie um corte de R$ 70 bilhões para os próximos dois anos, sendo de R$ 30 bilhões em 2025. Também está previsto que os reajustes do salário mínimo e benefícios sociais seguirão as regras do arcabouço fiscal. 

Mansueto lembra ainda que considerando que as projeções de crescimento econômico para o próximo ano estão entre 1,5% e 2%, com juros mais altos, o gasto público pode continuar sendo “expansionista”. “Isso resulta em uma desaceleração econômica, enquanto o gasto público segue crescendo acima desse limite”.

“Nesse contexto, o mercado está focado na trajetória da dívida pública. Para além das medidas fiscais, o governo precisa demonstrar ações concretas e abrangentes. Essas ações são essenciais para melhorar a confiança no cenário econômico e garantir a credibilidade de sua gestão fiscal”, afirmou.

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Brasil e o cenário geopolítico

Em relação ao cenário internacional, apesar dos desafios em meio à eleição de Donald Trump e a tensão na Guerra na Ucrânia, houve mais otimismo. Caio Megale, da XP Investimentos, e que também participou do evento, lembrou que o mundo precisa de alimento, enquanto “nós produzimos em larga escala”.

“O mundo precisa de petróleo, energia, e produzimos. O mundo está indo na direção da energia verde, e somos a matriz energética mais limpa do mundo. O mundo quer se afastar desse conflito geopolítico, e nós estamos afastados desse conflito”, disse.

Ainda segundo o economista, embora existam tensões em vários lugares, economicamente isso não é necessariamente ruim para o país.

“Se pensarmos no mundo econômico comparado ao de dois anos atrás, naquela época estávamos saindo da pandemia, sem ideia de quanto tempo levaria para reorganizar as cadeias de valor. A inflação estava em 10%, os juros em zero, e seria necessário subir os juros muito rápido”, afirmou.

Para Megale, o que resta ajustar no país é a questão fiscal, que impacta juros mais altos e inflação mais alta.

“No entanto, não vejo justificativa para uma performance tão pior do Brasil, especialmente considerando que nos tornamos uma superpotência em commodities. Ser uma superpotência em commodities diversificadas já é algo de grande valor, ainda que se critique que deveríamos ser mais do que isso. É uma posição privilegiada, e precisamos reconhecer o seu potencial enquanto também buscamos diversificar”, completa.