‘O que é isso, companheiro?’ Com funding sem “especuladores” e juros baixos, banco quer mostrar o que é ser de esquerda
No mais tardar até fins de abril, os ‘companheiros’ vão saber o que é um banco que vai oferecer dinheiro com taxas bem abaixo da Selic de dois dígitos e que diz não querer especuladores alimentando o funding desses recursos.
Um banco tão de esquerda, como avisa seu diretor-geral Marco Maia, que até seu nome não deixa dúvida, LeftBank.
“Coerente, Inclusivo e Fraterno”, até no logo, o banco já existe e já conta com 5 mil correntistas.
Fez um ano em dezembro, nasceu empurrado pela “exclusão imposta pelo governo atual” e, como não nega Maia, petista de carteirinha, ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara (2010-2013), pode ser impulsionado se a o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltar ao Planalto.
Não teria sido com essa estratégia que a fintech nasceu em Porto Alegre.
Mesmo porque Lula só teve as sentenças condenatórias revogadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que lhes restituiu os direitos políticos, em março de 2021, mas o dirigente da fintech acredita que os negócios terão ganhos com a empatia da “volta dos programas sociais e apoio às diversas camadas da sociedade excluídas dos bancões tradicionais”.
Ou da Faria Lima, como ele complementa.
Feito o parêntese da ‘volta para o futuro’, a situação do LeftBank, agora, é terminar de estruturar as operações de captação de recursos e de empréstimos. Abaixo do spread do mercado, o que significa que seus controladores e fundadores, Daniel Gonçalves (advogado) e Wolney Borba (contabilista e administrador), deverão mostrar, de fato, que são donos de um banco “sem banqueiros”.
A proposta, segundo Maia, é alcançar uma base de tomadores que precisam de “poucos recursos” para montar um negócio, entre outras definições.
E, naturalmente, a agricultura familiar e assentados rurais deverão ter uma boa fatia desses recursos, para trazê-los para o mercado com meios de produção que hoje não estariam à disposição.
Funding progressista
“O MST [Movimento Sem Terra do Rio Grande do Sul] lançou um fundo e, em poucos dias, conseguiu R$ 15 milhões”, exemplifica o ex-torneiro mecânico, sobre como a empresa tem potencial para atrair meios financeiros visando atender seus programas.
Essa gente considerada progressista – com as quais a direção esperar contar também com empresários com essa mesma visão social -, deverá se juntar a sindicatos, organizações e entidades que precisam remunerar suas receitas, mesmo que abaixo do mercado, em casamento com a destinação dos financiamentos em projetos que aumentem a base produtiva da economia.
Fundos lastreados em agricultura familiar, fundos lastreados em empréstimos consignados, e por aí vai, destaca Marco Maia.
Até lá, o LeftBank segue crescendo 5% semanalmente na base de clientes que operam normalmente os serviços clássicos bancários. E com taxas também mais baixas, ‘companheiros’.
Enquanto prepara também divulgação dos dados financeiros do 1º ano de atividade – dentro da “coerência” de dar transparência às operações -, o LeftBank também adiciona musculatura com a criação de um ecossistema.
LeftFone (plano de telefonia móvel sem fidelidade), LefMais (descontos em 25 mil estabelecimentos) e LeftAssistência (assistência veicular nos moldes de seguros) são produtos vendidos pela rede capilarizada de milhares de “Amigos e Amigas Left”, a turma presente em milhares de municípios, em 27 estados. Com comissionamento acima do mercado, ‘companheiros’, afirma o ex-deputado pelo Rio Grande do Sul.
“Até final do ano deveremos ter mais de 10 mil parceiros”, aposta.
Redes sociais
A base fidelizada das chamadas esquerdas, apoiadas pelas redes sociais e influencers como Maia diz ser um (mais de 1 milhão de seguidores), e plataformas como a “Esquerda compra da Esquerda” (do Facebook), vão pulverizar as propostas na medida em que o LeftBank encorpa.
Se apoiando, ainda, com base em pesquisas qualitativas de como se encaixa o público-alvo da instituição, nome que não cai muito no gosto dos dirigentes.
Dos 27% da população que se disse de esquerda ou centro-esquerda, entre 80% a 90% responderam que trocariam de banco se soubessem que seus bancos atuais fossem discriminatórios de gênero ou que negassem recursos para projetos diferenciados como os que o Left almeja.
Vale dizer que Marco Maia não defende que a economia brasileira “piore” mais do que já está – claro, até o Lula voltar, se voltar -, para não comprometer os negócios e o LeftBank não ficar carimbado por ter apostado no pior.
No mês que vem será conhecido também, talvez até junto com o lançamento com os produtos de financiamento, o Instituto LeftBank que vai receber 20% do lucro do banco para investir em ações sociais.