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O que deve mexer com os preços do milho, trigo e soja na CBOT em 2024?

01 dez 2023, 14:47 - atualizado em 01 dez 2023, 14:47
milho soja trigo
Safras da América do Sul, Hemisfério Norte e preocupações com clima, principalmente o El Niño, influenciam cotações do milho, soja e trigo (Imagem: Reprodução/Embrapa)

2023 ficou marcado como um ano de grande especulação no mercado das commodities, com o mercado de olho em diversos fatores como clima, plantio e colheita em diversos países produtores ao redor do planeta.

No mês passado, os preços da soja (janeiro/24) e trigo (dezembro) avançaram na CBOT, com altas de 2,46% e 2,51%, enquanto o contrato do milho para dezembro recuou 3,55%.

Dessa maneira, o Agro Times conversou com alguns especialistas da Safras & Mercado e StoneX sobre o que esperar para o mercado das commodities em 2024.

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Milho

Com a safra 2023/2024 norte-americana já bem encaminhada, estimada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em novembro em 387 milhões de toneladas, um recorde para o país, o mercado passa a focar em outras questões.

No final deste ano, a condição das safras na América do Sul passou a ser um dos principais direcionadores, e deverá continuar sendo durante os primeiros meses de 2024.

“Começando pela Argentina, após a quebra observada em 2022/23, que resultou em uma produção de 34 milhões de toneladas, volume cerca de 20 milhões menor que a média das quatro temporadas anteriores, espera-se que o país volte a ofertar um volume mais robusto. Até o final de novembro, por volta de 26% (ou 1,86 milhão de hectares) dos 7,1 milhões de hectares estimados havia sido plantado na Argentina. O começo dos trabalhos de campo foi marcado por um clima mais seco que o normal e que gerou alguns questionamentos sobre a produção do país. Contudo, recentemente, foram observadas boas chuvas na região produtora, o que trouxe certo alívio”, diz João Lopes, analista do cereal na StoneX.

Segundo Lopes, historicamente, anos de El Niño costumam ser marcados por ótimas produtividades no país. A Bolsa de Buenos Aires (BCBA) estima uma produção de 55 milhões de toneladas.

“De qualquer modo, é cedo para afirmar qualquer coisa o padrão climático observado pela Argentina, assim como a condição de suas lavouras, deverá ser um dos grandes direcionadores do mercado nesse começo de ano”, analisa.

Safra brasileira

A safra brasileira também está sendo monitorada pelo mercado, segundo o analista. Em função da queda nos preços do milho nos últimos meses, estima-se uma redução no comparativo anual da área destinada ao ciclo de verão 2023/24, para 3,76 milhões de hectares.

Por outro lado, após uma temporada 2022/23 marcada por adversidades climáticas no Sul do país, especialmente no Rio Grande do Sul, espera-se que a região apresente condições mais favoráveis no novo ciclo, visto que a ocorrência do El Niño também está ligada a melhores desempenhos de sua safra de verão.

Contudo, o que se observou nesse início de temporada foi um clima excessivamente úmido na região Sul do Brasil, o que tem trazido alguns questionamentos sobre a sanidade das lavouras.

“Apesar da elevada importância da primeira safra para a disponibilidade do cereal no Brasil nos meses inicias, é a safra de inverno que realmente definirá o volume da oferta nacional. Por mais que o seu plantio só inicie no próximo ano, especulações já são feitas”, explica.

Queda dos preços e clima

A queda nos preços pode ser considerada um limitante para o avanço da área da safrinha, estimada em novembro pela StoneX em 17,7 milhões de hectares, e o clima nesse final de ano já pode causar algum impacto, visto que um atraso na semeadura da soja poderia impedir que parte da safrinha seja plantada dentro da janela ideal, o que tornaria a safra mais arriscada em termos de rendimento e poderia resultar na desistência por parte de alguns produtores.

Entre o fim do primeiro trimestre e o final do segundo trimestre de 2024, a definição da área plantada da safra 2023/24 dos EUA deverá ganhar bastante destaque.

No período de junho a agosto, o grande foco será nas condições observadas nas lavouras norte-americanas, visto que esse é um momento crucial para a definição da produtividade do cereal, especialmente junho e julho.

“Por mais que o conflito no Mar Negro já não cause as mesmas surpresas e variações nos preços que no início da guerra, ainda é um assunto que deverá ser acompanhado de perto e pode fazer preço no mercado de milho”, diz.

Pelo lado da demanda, segundo o analista da StoneX, vale se atentar ao consumo doméstico norte-americano, tanto para ração como para produção de etanol de milho. Além disso, será importante acompanhar a demanda por exportações dos EUA, em especial para a China.

“A China tem ampliado bastante as importações de milho do Brasil, que passou a ser um importante concorrente pelo mercado chinês, juntamente com EUA e Ucrânia. Sendo assim, além de se atentar ao volume importado pelo gigante asiático em si, será crucial analisar também de quem o país estará importando”, finaliza.

Trigo

De acordo com Elcio Bento, analista da Safras & Mercado, o cenário atual é de queda para os preços, após uma forte elevação das cotações depois do início da Guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022, que perdurou até junho de 2023, quando começou a safra 2023/2024.

“A safra atual é menor que a anterior, mas apesar disso, houve uma tendência de queda nos preços já que os mesmos estavam em patamares muito elevados. Assim, ainda é um momento de acomodação das cotações, influenciada por uma quebra na Austrália e ciclos menores nos EUA e Canadá, sendo estes fatores altistas“, explica.

Por outro lado, Bento ressalta que há uma grande concentração de oferta na Rússia, França e Ucrânia, o que reduz os preços do trigo na região. “O excedente de oferta achata as cotações, com isso, para a safra que se encerra em maio, existe um cenário de acomodação das cotações”, pontua.

Para a segunda metade de 2024, ou seja, para a próxima temporada (24/25), o que deve pesar fica por conta das perspectivas para a próxima safra.

“A evolução das lavouras no Hemisfério Norte vai determinar o que acontecerá daqui para frente, e elas já pesam sobre os preços para temporada atual em Chicago, já que a oferta começa a ser preparada. Viemos de duas safras de inverno ruins nos EUA e as lavouras que foram plantadas entre setembro e novembro estão em boas condições. Neste momento, as cotações do cereal tem caído em Chicago, em função da boa evolução das lavouras norte-americanas”, analisa.

Soja

Na avaliação de Luiz Fernando Gutierrez, analista de soja na Safras & Mercado, os preços do grão na CBOT vão depender do tamanho da safra na América do Sul.

“Sabemos que estamos passando por irregularidades no Brasil, com baixa umidade no Centro-Norte do Brasil e excesso de umidade no Sul que vem causando problemas e reduções no potencial produtivo estimado, que passou de 163 milhões para 161 milhões de toneladas. Há previsão para chuvas, que devem ajudar a recuperar algumas lavouras, mas podemos esperar novos cortes”, explica.

Por outro lado, Gutierrez ressalta que a safra da Argentina deve ser o principal fator que deve mexer com os preços nesta temporada. O país veio de uma quebra em 2023, de 50% na produção, colhendo apenas 21 milhões de toneladas. Na safra 23/24, a expectativa é entre 48 – 50 milhões de toneladas, um importante vetor baixista.

“Dificilmente a América do Sul colherá uma safra menor que a do ano passado, com isso, não vemos espaços para os preços na CBOT ganharem força nos primeiros meses de 2024 ou mesmo no primeiro semestre, já que Chicago não deve ajudar e os prêmios no Brasil devem voltar a ficar bastante negativos, exatamente pelas grandes safras do Brasil e Argentina”, diz.

Por fim, após o primeiro semestre de 2024, tudo dependerá da safra dos Estados Unidos. “Eles começam a plantar em maio e podemos ver uma recuperação de área de soja frente ao milho no país. Com isso, a grande dúvida fica por conta do tamanho da produção da América do Sul, que definirá os rumos do mercado”, finaliza.